Crítica
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Sinopse
O Gran Circo Teatro Americano perambula por pequenas cidades dos sertões até chegar a Aracati, onde monta uma peça teatral. No cotidiano do circo, acontecem aventuras em que os personagens agem ao modo picaresco dos anti-heróis da literatura de cordel e do romanceiro popular. As dificuldades se acumulam, mas a arte ajuda a superar as mais diversas desventuras e tragédias. O espetáculo não pode parar.
Crítica
No começo de Os Pobres Diabos, longa que marca a volta do cineasta Rosemberg Cariry ao formato após mais de uma década trabalhando apenas com roteiros e na produção, a trupe do Gran Circo Teatro Americano encontra um descampado próximo ao um vilarejo no interior do Ceará. Ao longe, tudo o que se vê é um parque eólico, cheio de cataventos gigantes. A referência à Dom Quixote é óbvia e bastante válida. Afinal, este é um grupo de artistas movidos por um ideal quixotesco, unidos pelo sonho de encantar multidões de outrora, desconectados do mundo atual. O cenário aqui é o circo, atividade que já rendeu fortunas e comoveu plateias, mas que hoje se restringe às periferias em ambientes decadentes, com performances amadoras e um clima de picaretagem quase ingênua.
A trama de Os Pobres Diabos é praticamente inexistente. Há muito o que se explorar, porém pouco a contar. Os anos de glória dessa atividade ficaram para trás há muito tempo, e agora eles passam seus dias “vendendo o almoço para pagar o jantar”, como um deles afirma em certo momento. O pão nunca é garantido, mas a vontade de entreter segue viva. Os clichês mais comuns do gênero se fazem presentes, porém de forma obrigatória, mais para revelar o porquê de suas origens. Temos desde o palhaço ‘ladrão de mulher’ até a velha que faz churrasquinho de gato, passando pelo leão falso e o mestre de cerimônias encantado por Tarzan, ‘o homem mais forte do mundo’. Cada um, no entanto, tem seu jeito de oferecer uma faceta humana que o afaste do óbvio, estimulando a identificação com o espectador, que não só os entenderá como irá partilhar de suas angústias e desventuras.
Talvez o maior problema de Os Pobres Diabos seja a ausência de um roteiro melhor amarrado, que justifique o desenrolar da ação pela tela. Uma vez na nova cidade, eles precisam decidir: ou fazem de tudo para virarem o jogo e encontrarem o sucesso, ou abandonam a paixão que os unem e cada um seguirá seu rumo em separado. Alguns tipos paralelos, como o técnico da luz e sua esposa, a evangélica devota, são muito rasos para fazerem frente à unidade circense, e soam mais como distrações do que acréscimos ao enredo. Por outro lado, o elenco defendido por Chico Diaz, Gero Camilo, Silvia Buarque e Everaldo Pontes está em perfeita sintonia, com a melancolia e ilusões necessárias para defenderem tais personagens.
Após algumas idas e vindas, a entrada de um desenlace trágico destoa do ritmo ameno adotado até aquele ponto. O auto que defendem no picadeiro, sobre Lamparina (Lampião?) e sua esposa, Maria (Bonita?), que chegam aos infernos querendo desbancar o próprio Satanás, não só oferece uma conotação política ao texto, vislumbrando a luta dos artistas populares em se manterem vivos junto ao povo, como também antecipa o que o longa reserva em sua conclusão. As cinzas que restam de um sonho desfeito também servem de palco para a fênix que poderá ressurgir, bastando para isso apenas acreditar. É o que muitos fazem pelo Brasil afora, nas mais diferentes realidades e situações. Mas como o show não pode parar, serão os pobres diabos de ontem, hoje e amanhã que seguirão carregando essa cruz. Cariry entende muito bem disso, e seu filme tenta defender essa mensagem. Resta saber se conseguirá encontrar seu público final.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
Bianca Zasso | 7 |
MÉDIA | 4 |
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