Brasiliana: O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo
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Brasiliana
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2024
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Brasil
Crítica
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Sinopse
O documentário Brasiliana: O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo, de Joel Zito Araújo, resgata a trajetória da companhia de teatro de mesmo nome que percorreu mais de 90 países ao longo de seus 25 anos de atividade. Selecionado para o 34º Cine Ceará: Festival Ibero-americano de Cinema (2024).
Crítica
Joel Zito Araújo, realizador consagrado por seu compromisso com questões raciais e sociais, retorna à tela com Brasiliana: O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo, que celebra a memória de um dos grupos de dança mais emblemáticos do Brasil, o Brasiliana, que fez grande sucesso internacional entre as décadas de 1950 e 1970, mas caiu no esquecimento. Dirigido de maneira fluida e com leveza, ao estilo reportagem, traz relatos dos próprios dançarinos, mas deixa no ar uma sensação de mistério. O cineasta opta por não se aprofundar em questões mais intrincadas. Há um vazio não esclarecido. Uma ausência que provoca inquietação.
O Brasiliana foi mais do que um simples conjunto de dança: tornou-se um fenômeno global, com apresentações em mais de 90 países. Sua jornada, que os levou de períodos de golpes e esperanças falsas ao estrelato, incluiu apresentações ao lado de lendas como Marlon Brando, Richard Burton e Elizabeth Taylor, além de ter sido aplaudido por figuras como o imperador japonês Hirohito e os Beatles. Um dos maiores marcos dessa trajetória foi a participação do grupo em um dos primeiros trabalhos da estrela Sophia Loren. A obra de Araújo consegue envolver o público, sendo conduzida pelas vozes daqueles que transformaram suas vidas ao fazerem parte do grupo, revelando como a arte funcionou como um poderoso meio de ascensão social, com muitos ex-integrantes se tornando instrutores e preservando a memória do Brasiliana.
Entretanto, vale ressaltar que, para um realizador tão atento e lúcido como Araújo, um projeto sobre um grupo tão significativo tinha potencial para explorar ainda mais a fundo questões complexas envolvendo a representação do corpo negro no mercado internacional. O título O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo carrega uma carga idealizada e um tanto simplista. Ao pintar o Brasil como um país de corpos negros perfeitos e sempre alegres, o filme acaba por reforçar um estereótipo que, sem um questionamento mais profundo, limita a compreensão crítica da história dessa arte e sua relação com a indústria global. Uma ferramenta interessante seria, talvez, ter se afastado de uma narrativa excessivamente otimista, propondo uma visão mais plural e crítica. Aliás, considerar a ideia de "O Musical Negro que Apresentou um Certo Brasil ao Mundo", ao invés de perpetuar uma imagem homogênea e romantizada, seria um ganho.
Brasiliana: O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo é um documentário instigante, que, até certo ponto, emociona e empolga, mas que poderia ter sido mais audacioso, especialmente levando em consideração o potencial do diretor Joel Zito Araújo, que já demonstrou tal aptidão em Meu Amigo Fela (2019). Ainda assim, a obra cumpre sua missão de registrar um momento crucial para a cultura brasileira e afro-brasileira, sendo uma notável celebração da resistência e do empoderamento negro. Um testemunho de como a arte pode ser uma ferramenta poderosa de transformação, tanto para o indivíduo quanto para as coletividades.
Filme visto durante o 34º Cine Ceará: Festival Iberoamericano de Cinema (2024).
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