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Sinopse

Brandon aterrissa, ainda bebê, na fazenda de um casal que não consegue ter filhos. Agora, adotado por eles, o pequeno garoto descobre possuir habilidades especiais e precisa se adaptar ao nosso mundo e ao convívio social. Entretanto, seus pais logo percebem que seus dons podem não ser tão amistosos quanto imaginavam.

Crítica

Um casal de fazendeiros do Kansas, que sempre quis ter filhos, adota o extraterrestre enviado ao nosso planeta numa cápsula. A premissa de Brightburn: Filho das Trevas, não à toa, remonta à origem do Superman. Todavia, ainda que ambos os protagonistas sejam superpoderosos, diferentemente de Kal-El, Brandon (Jackson A. Dunn) é um arauto da subjugação dos terráqueos. Esse Super-Homem do mal é um menino em pleno estágio de puberdade, influenciado pela mensagem terrífica que emana da embarcação responsável por trazê-lo ao gigante azul. Com um argumento desse, o cineasta David Yarovesky constrói um conjunto gradativamente assumido como genuíno exemplar de horror, escorregando frequentemente no percurso, mas ainda assim deixando espaço para boas sequências, especialmente aquelas em que os resultados da ação bárbara do menino encapetado são escancarados. Quanto à trama propriamente dita, ela é menos instigante.

Brightburn: Filho das Trevas faz diversas alusões ao Superman e a suas representações no cinema. O pai adotivo se chama Kyle (David Denman), cuja escrita e sonoridade se parecem com a do nome do filho ilustre de Krypton, Kal-El. Brandon é homônimo de um dos intérpretes do Homem de Aço nas telonas (Brandon Routh). Há um sabor de filme B nessa exploração que, contudo, resvala desajeitadamente no paródico, mantendo evidente a intenção de fazer algo intenso, calcado na gravidade a partir do despertar dos poderes com os quais não há quem esteja realmente preparado para lidar. Há, entretanto, incongruências espalhadas pela trama que se encarregam de arrefecer, inclusive, o impacto emocional das incursões brutais do menino que solta raio pelos olhos e voa adornado por uma capa vermelha e uma máscara assustadora. Exemplo disso, a cena de sexo absolutamente pudica entre o marido e a esposa que intentam gerar um filho biológico. Outra passagem absurda é o momento de caça, isso logo após o chilique do pai diante da arma como presente.

O realizador perde as rédeas ocasionalmente, como na conversa trivial entre Kyle e Tori (Elizabeth Banks) após o marido testemunhar Brandon entortando um garfo com os dentes. Aliás, a vista grossa que a mãe faz diante da inclemência gritante do garoto não encontra justificativa suficiente no amor materno que privilegia a instável cria. Brightburn: Filho das Trevas cresce, sobremaneira, quando investe na selvageria gráfica, como na angustiante cena da garçonete tirando, lentamente, um enorme caco de lâmpada do olho – e a edição de som cumpre um papel preponderante para que tal ação seja bastante enervante. Outro instante forte é o “acidente” do tio de Brandon. Noah (Matt Jones) bate a cabeça no volante e, logo em seguida, tem de segurar a mandíbula para ela não se desprender literalmente do rosto. Portanto, ao abraçar efetivamente o horror, o longa compensa parte das debilidades concernentes à dificuldade de abordar o poderoso protagonista.

Brandon não tem efetivamente um antagonista, ou seja, ninguém faz frente ao seu ímpeto de dominação guiado pela voz macabra que confere significados maiores à anterior explanação escolar, a priori aleatória, acerca da diferença entre as abelhas e certo tipo de vespa. O elenco está praticamente no modo automático, não contribuindo significativamente ao sucesso de algumas empreitadas. Elizabeth Banks, principalmente, se limita a ser uma mãe-coragem que lá pelas tantas vai finalmente entender o perigo que o pré-adolescente representa à humanidade. Subaproveitando o instigante mote que tem em mãos, David Yarovesky recorre exageradamente aos jump scares em meio ao acender e ao apagar intermitentes de luzes, não se empenhando no sentido de construir uma atmosfera verdadeiramente tensa. Porém, quando coloca os dois pés no horror gráfico, apresentando coisas como a mão na menina sendo quebrada na frente de todos e a mulher emparedada com as vísceras expostas, burila algo de valor. Pena que, infelizmente, isso não domina o filme.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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