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Sinopse

Desde que nasceu, Macu vive na periferia de São Paulo. No seu aniversário, ele reencontra dois grandes amigos de infância. Jaiminho, famoso jogador de futebol que agora vive na Europa, e Pibe, que se formou em Direito, saiu da vizinhança e tenta iniciar uma carreira. Eles vieram para a festa de Macu, que poderá ser ainda maior se Jaiminho for convocado para defender o Brasil na Copa do Mundo. Os dois amigos tentarão ajudar Macu a resolver seus problemas com a criminalidade local, enquanto se conscientizem que, embora separados pela vida, algo muito maior os une.

Crítica

Jeferson De é um dos principais nomes do novíssimo cinema nacional, um talento que vem despontando aos poucos. E sua estreia em longa com Bróder comprova tudo de bom que foi dito a seu respeito nos últimos anos. Realizador de três curtas de grande impacto, viveu um importante momento no Festival de Gramado de 2004 com Carolina, que ganhou os kikitos de Melhor Curta pelo júri oficial e pela crítica. Agora ele retoma a parceria com a atriz Zezé Motta (numa participação carinhosa) e amplia o olhar sobre a realidade de violência e desesperança das favelas com propriedade num trabalho que, mesmo não isento de falhas, consegue ressoar além de suas ambições artísticas.

Os protagonistas são três amigos de infância que, adultos, trilharam caminhos distintos. Mesmo separados fisicamente, a conexão entre eles ainda é forte. Tanto que se reencontram neste dia, aniversário de um deles. Macu (Caio Blat, o mais irregular do trio), que continua na favela e vive do crime, é o aniversariante. Pibe (Silvio Guindane, o personagem menos desenvolvido) assumiu o filho e a esposa, se mudou para o centro e tenta levar a vida de forma honesta, mesmo que sofrida. Já Jaiminho (Jonathan Haagensen, adequado em sua composição) virou craque internacional de futebol e está prestes a ser convocado pela Seleção. Três opostos, vértices de um mesmo triângulo chamado sociedade brasileira, representando possibilidades que podem ou não se concretizar.

A história começa com Macu sendo chamado para um “trabalhinho” que iria limpar sua barra e quitar uma dívida assumida com os chefões do morro. Ele terá que fazer parte de um seqüestro, e as chances daquilo acabar mal são muito altas. Ao mesmo tempo temos sua família preparando uma feijoada de comemoração, os amigos chegando e a pressão aumentando à medida que o dia se desenrola. A presença do convidado célebre muda o foco da ação criminosa, colocando o bandido novato numa situação complicada: levará adiante o plano com que se comprometera, mesmo que para isso tenha que ignorar os laços de amizade e lealdade? E, no final, o que é mais forte: de onde todos vieram ou onde se encontram agora?

Jeferson De fala com conhecimento de causa em Bróder de um universo que bem conhece e muito já vivenciou. E o que consegue é um resultado similar ao visto em 5x Favela: Agora por nós Mesmos (2010). Porém, ao invés de revelar um cineasta em formação (como na coletânea de curtas citada), o que ele entrega ao espectador é um discurso forte e bem estruturado, que sabe o que dizer e aonde chegar. É visível uma necessidade em aprimorar alguns aspectos técnicos e arredondar melhor as atuações e o próprio roteiro, que possui uma ou outra seqüência desnecessária. Mas nada que chegue a comprometer o produto final. Temos cinema de qualidade, maduro e eficiente. E isso é motivo de orgulho e reconhecimento.

Seis anos depois, Jeferson De voltou a Gramado, agora mais maduro e evoluído em sua mensagem cinematográfica. E mais uma vez veio a consagração. Foram um total de 5 kikitos, inclusive o de Melhor Filme, além de 4 prêmios no Festival de Paulínia (inclusive o de Melhor Filme segundo a Crítica) e seleção oficial para o Festival de Berlim! Aplausos em festivais sempre são importantes, mesmo que não se reflitam necessariamente em boas bilheterias. Mas Bróder é um caso que merece resultados positivos diante os dois julgamentos, tanto do público quanto da crítica. Material para isso tem, e de sobra.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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