Sinopse
Uma imigrante irlandesa desembarca no Brooklyn da década de 1950, onde ela rapidamente se envolve em um romance. Porém, o seu passado a alcança e ela tem de escolher entre dois países e as vidas neles.
Crítica
A distância entre Brooklin e Era uma vez em Nova York (2013), de James Gray, é pouca. Explorando problemáticas relativas à imigração, ambos colocam como protagonistas mulheres que escolhem caminhos distintos dadas as oportunidades do destino. No filme de Gray, ambientado nos anos 1920, a ingênua Ewa (Marion Cottilard) se vê entregue à uma vida de abusos, do burlesco e dos shows de vaudeville em plena Nova York. Já a tímida irlandesa Ellis (Saoirse Ronan), em Brooklin, ganha sua entrada para os Estados Unidos nos anos 1950 de forma organizada, através da igreja de um padre que é seu conterrâneo.
As duas personagens estão, temporalmente, separadas por não mais do que três décadas, mas já mostra que a imigração e a busca pelo american way of life perpassa anos e, afinal, como vemos, chega até os dias atuais. Propício para o cenário contemporâneo, em que grandes nações se veem à frente de questionamentos sobre fecharem as suas fronteiras e até mesmo declarações de xenofobia, os filmes acabam sendo perfeitos para retratar a experiência de estrangeiros, mesmo que se valendo de décadas atrás. Quanto às tramas, Gray escolhe o drama trágico, enquanto que o diretor de Brooklin, John Crowley, tempera sua narrativa para oscilar entre o drama e o romance.
Ellis é uma jovem tímida que embarca para os Estados Unidos deixando para trás a mãe e a irmã, além do trabalho em um armazém de uma mulher mesquinha, em busca do óbvio: tentar uma vida melhor na maior potência mundial. Chegando ao Brooklyn, a jovem se hospeda em uma pensão gerenciada pela simpática Senhora Kehoe (Julie Walters), que mantém diversas garotas através dos mesmos programas da Igreja irlandesa que auxiliaram a novata a embarcar para a América.
O roteiro de Nicky Hornby é uma incrível adaptação do romance de Colm Tóibín, e perpassa os diversos estágios de alguém que está longe de sua família, da necessidade de apoio externo e a beleza do momento em que a personagem se vê madura, pequena demais para a cidade que um dia morou no interior da Irlanda. Além do mais, nessa trajetória o envolvimento da protagonista com um jovem filho de imigrantes italianos, Tony (Emory Cohen), entrega uma camada ainda mais interessante de leitura, acrescentando conflitos e profundidade à história. A intensidade da paixão do rapaz por ela é digna dos filmes clássicos hollywoodianos, tanto que um dos pontos fortes de Brooklyn é exatamente esse resgate que faz da narrativa clássica. A garota, ainda imatura quanto a qualquer tipo de romance, se mantém gélida e distante quando o jovem diz que a ama. A resposta dela é quase um “obrigado”. Arrependida, depois de muito analisar a situação ela se explica de modo tocante e, sem nem pestanejar, Tony a pede em casamento. Cohen e Ronan criam um casal de protagonistas com uma química ao mesmo tempo intensa e delicada.
É quando entra o segundo ato do filme. Devido a uma tragédia, a jovem precisa retornar a sua cidade natal. O casamento com Tony é um segredo e sua chegada à cidadezinha é repleta de tentativas que a façam ficar por lá e deixar Nova York para trás. Porém Ellis está diferente, se tornou grande demais para aquele espaço e aquela vida. Mesmo assim, se vê diante de uma dúvida que para o espectador se constrói de forma claustrofóbica. É impressionante a potência que Hornby e Crowley criam durante esse ato. Seus antigos vizinhos parecem se reunir inconscientemente em um complô para que ela permaneça com eles. São oferecidas oportunidades de emprego e até um pretendente, Jim Farrell (interpretado pela sensação do momento, Domhnall Gleeson). E a plateia fica com o constante suspense a respeito da decisão da jovem e seu poder de escolha.
Tanto em Brooklin como em Era uma vez em Nova York é construída uma trama em volta das mulheres. A representação dada às personagens e a força que carregam vai bem além de relacionamentos superficiais e um platonismo em volta do amor. As personagens, Ellis e Ewa, possuem uma cumplicidade belíssima com suas irmãs e uma constante lembrança de suas verdadeiras origens. Se Era uma vez decide mostrar as dificuldades, a miséria e a desesperação que sua protagonista é colocada, Brooklin se vale da beleza, do sutil e da esperança sem, no entanto, perder o verdadeiro cerne: a busca por uma experiência de vida verdadeira para essas protagonistas e o poder de cada uma em fazer suas escolhas.
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