Crítica
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Sinopse
Filha da classe média paulistana, Raquel decidiu se tornar garota de programa. Atendendo com o codinome Bruna Surfistinha, ela ganhou destaque nacional ao compartilhar suas aventuras num blog e depois num livro.
Crítica
Qual atriz nacional seria mais apropriada para viver na tela grande a maior prostituta do Brasil? O que para alguns poderia soar como ofensa, para Deborah Secco serviu como elogio, e o resultado é admirável! Seu retrato como a protagonista de Bruna Surfistinha é também seu amadurecimento como atriz, numa performance impecável. Ousada, desprovida de glamour ou pudores descabidos para o contexto, a artista deixa de lado o olhar global pelo qual o público está tão acostumada a vê-la e se atira de cabeça numa performance madura e sem amarras, mostrando de vez que por trás do corpo perfeito e do sorriso maroto há uma intérprete capaz de voos maiores e mais exigentes.
O diretor Marcus Baldini também é digno de parabéns em sua estreia cinematográfica. Ao invés de propor uma visão romântica da vida da adolescente de classe média que abandona a família adotiva e os colegas de escola para se atirar na prostituição, como se aquilo fosse um sonho e um pesadelo, ele prefere seguir por uma linha mais naturalista, esboçando motivos, porém sem forçar conclusões. O que a levou a esse caminho? Quais os motivos da opção tomada? Há prazer ou é apenas sofrimento? Tudo isso e muito mais é exposto na tela, porém sem soluções maniqueístas ou respostas prontas. Cada um pode ter sua conclusão, da mesma forma como a própria Bruna. Afinal, saberá a jovem Raquel Pacheco (seu verdadeiro nome) os motivos que a fizeram seguir tais escolhas?
Adaptação do livro O Doce Veneno do Escorpião, o filme Bruna Surfistinha não deixa dúvida: a prostituição feminina pode, sim, ser um meio para o dinheiro fácil, para um mundo de exposição calculada e para uma realidade de muito brilho e pouco conteúdo. Mas também é um processo de dor, de carência, de exploração e de sofrimento. Exageros tem seu preço, e o longa deixa isso muito claro. Se o enredo é inteligente nesse ponto, fazendo uso de um olhar um tanto distante e impessoal, mais preocupado em apenas mostrar do que em provocar reflexões, muito se deve também ao desempenho de Deborah, que até então só havia aparecido no cinema em papéis menores em filmes como Meu Tio Matou um Cara e A Cartomante. Dessa vez, ela domina sua imagem, se colocando em cena na medida certa entre a gostosa e a pobre coitada, entre a garotinha ingênua e a mulher desejada. Em ambos os papéis se saiu muito bem, e nesse caso o mérito é todo dela.
Grande sucesso de público, Bruna Surfistinha levou mais de um milhão de espectadores aos cinemas em sua primeira semana em cartaz. Muitos, obviamente, motivados apenas pelas cenas de sexo e nudez. Claro, elas existem, mas estão longe da proposta romântica e estilizada tão propagada por Hollywood. Estamos falando de uma garota de programa, então é claro que esse elemento faz parte de sua história. Mas acima de tudo o que temos é a trajetória de uma profissional que soube usar das ferramentas à sua disposição para se destacar e conquistar um espaço diferenciado. Se errou, ela pagou um preço. Mas não a imaginem como vítima ou heroína. Independente de ser Bruna ou Raquel, o que temos é uma menina virando adulta, dando passos inseguros e garantindo cada conquista com muito esforço. E se suas decisões podem ser questionadas, ao menos ela foi em frente, na cara e na coragem. E nem todo mundo pode dizer o mesmo a respeito de suas vontades e ambições. Não é exemplo a ser seguido literalmente, mas com certeza justifica uma análise mais apurada. Afinal, ela sabia onde queria ir. E nós, sabemos?
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