Bugarach

Crítica

Um bom primeiro passo para se realizar um documentário de qualidade é eleger um tema interessante. Bugarach passa com louvor nesse crivo ao mostrar a rotina de um pequeno vilarejo no sul da França no final de 2012. O elemento inusitado nessa situação é que existe um rumor de que Bugarach será o único lugar do mundo que seria poupado do apocalipse previsto pelos maias para 21 de dezembro de 2012.

Com esse ponto de partida, o longa descobre na aldeia ótimos personagens para formar um panorama local. Entre eles, o destaque fica para a relação construída entre um adolescente aspirante a ilusionista e um velho mendigo místico. A aproximação entres essas duas figuras foi forçada pelos realizadores, mas a forma como eles se relacionam foi espontânea.

A intervenção dos cineastas é evidente em alguns momentos. Se isso dá início a uma série de questionamentos sobre ética e autenticidade, também possibilita a criação de cenas e enquadramentos muito bonitos, impensáveis para um documentário mais tradicional.

Sem um narrador ou depoimentos caretas, Bugarach garante seu fator de personalidade. Com o bom uso das locações e a tentativa de desvendar o que se passa por baixo da superfície de aparências daquela sociedade aparentemente banal, o documentário se aproxima do seriado Twin Peaks (1990-1991), uma das referências confessas do longa.

A sombra do apocalipse se faz presente constantemente. Como um bom filme de suspense, o documentário usa a situação-limite para convidar a uma reflexão de temas mais profundos. A forma como levamos a vida e a sociedade do espetáculo são alguns dos assuntos que a produção visita. O único porém é que o filme se contamina demais com a atmosfera pacata do vilarejo. Assim, tem-se um andamento vagaroso e se sente a falta de um aprofundamento mais agudo em alguns tópicos.

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Edu Fernandes

é formado em Audiovisual pela ECA/USP. Escreve para os sites BRCine e SaraivaConteúdo, além de colaborar para a revista Preview. Participa do programa Quadro a Quadro na TV Geração Z e de videoposts do canal Tateia. Tem experiência em sites (UOL Cinema, Cineclick e GQ), revistas (SET, Movie e Rolling Stone) e televisão (programas Revista da Cidade e Manhã Gazeta).

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