Crítica

Busca Frenética é o tipo de suspense que deixa o espectador investigar os mistérios como se ele fosse cúmplice do protagonista, o que evita aquelas resoluções posteriores que se dão por meio de diálogos expositivos e artificiais. Assim, o filme parece confiar na capacidade da plateia de estabelecer por si as ligações entre os eventos ocorrentes – semelhante ao eficiente (e recente) Os Suspeitos (2013), de Denis Villeneuve. Deste modo, ao lado de Chinatown (1974) e O Escritor Fantasma (2010), acaba sendo mais um admirável thriller investigativo dirigido por Roman Polanski.

As semelhanças de Busca Frenética com os dois outros filmes de Polanski citados não param por aí. Todos são protagonizados por homens não especialmente traumatizados em virtude de qualquer evento anterior, ao contrário de muitos semelhantes que habitam obras do mesmo gênero. Os protagonistas vivem seus momentos de maior tensão durante a trama que se apresenta, são atormentados mais pelo presente do que por qualquer coisa do passado. A figura da mulher misteriosa também está nas três realizações, mas essas femme fatales que se veem são sutis, distorcidas, sendo partes intrínsecas dos eventos que circundam os personagens principais e não apenas uma peça.

Em Busca Frenética, durante viagem a Paris, o médico Richard Walker (Harrison Ford) tem sua esposa sequestrada. Ele, então, inicia uma minuciosa investigação por conta própria para descobrir o paradeiro da companheira, uma vez que a polícia não o leva muito a sério no momento da queixa. Logo, se junta à jovem Michelle (Emmanuelle Seigner) e começa a desvendar uma teia de acontecimentos, na qual seu envolvimento foi acidental, obra de um acaso desafortunado.

Busca Frenética é visualmente elegante, muito por conta de seus enquadramentos e movimentos de câmera – note como muitos deles parecem privilegiar formas angulosas, com elementos destacados em primeiro plano, isso tudo dentro do foco. A fotografia é bela e transmite muitas vezes calmaria, por mais que explore cenas cujo principal elemento é o frenesi do título. Neste quesito, a sequência do telhado é tensa justamente pela aparente placidez da câmera diante da situação. Claro que a trilha, irmã tonal da fotografia, é essencial para amplificar o efeito, e sendo ela composta por ninguém menos que Ennio Morricone fica difícil não elogiar.

O filme comete alguns pecadilhos aqui e ali. Fica difícil, por exemplo, acreditar que a polícia desistiria tão fácil de investigar o caso, como acontece na cena no quarto do hotel. Mas nenhum desses pequenos tropeços é repreensível o suficiente para tirar o mérito de Busca Frenética, um thriller eficiente e cativante. Boa parte deste êxito também se deve ao carisma de Harrison Ford, ator que confere boa dose de austeridade e inteligência a Richard. Sua “química” com Seigner é essencial para o tenso e bem orquestrado clímax, fechamento de quase duas horas de um crescente inebriante. Um suspense digno do gênero, Busca Frenética promove mergulho em meio a uma paleta cinzenta, melodias melancólicas e intrigas desveladas dentro de sequências magnéticas e inventivas, além de ser habitado por personagens críveis.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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