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Sinopse

Em Frankfurt, 1946, o judeu David Berman e seus seis amigos só possuem um propósito em mente: conseguir finalmente ir embora da Alemanha. Mas, nos tempos difíceis de crise após o fim da Segunda Guerra Mundial, eles precisam de muito dinheiro para realizar seu sonho de partir para os Estados Unidos. Para isso, encontram apenas uma saída: começar a vender enxovais para mulheres alemãs.

Crítica

Sam Garbarski é um cineasta alemão com o qual é provável que o público brasileiro mais atento tenha alguma afinidade. Afinal, filmes como O Tango de Rashevski (2003) e Irina Palm (2007) – este premiado no Festival de Berlim – chegaram a circular por aqui no início do século. Porém, há mais ou menos uma década não se tinha notícias dele, ao menos até a estreia desse Bye Bye Alemanha, longa em que ele volta a contar com Moritz Bleibtreu, estrela do seu filme anterior, o hollywoodiano Vijay and I (2013), como protagonista. Mais do que voltar às origens, no entanto, o que ele busca dessa vez é fazer um acerto de contar com o passado de seu próprio país, um mea culpa internacional, revirando segredos e mentiras do governo nazista e dos judeus que dele conseguiram sobreviver. Uma proposta arriscada, e como se percebe em cena, que nem sempre consegue alcançar o seu intento.

Por sua vez, Bleibtreu é um astro de carreira consistente e consolidada, tanto na sua terra natal como no exterior. Ele primeiro se tornou conhecido como o par da ruiva-título de Corra Lola Corra (1998), mas nestes quase vinte anos seguintes ele marcou presença em títulos diversos, como Munique (2005), O Grupo Baader Meinhof (2008) e Guerra Mundial Z (2013), entre tantos outros. Com isso em mente, percebe-se que tem experiência suficiente para dar vida a David Bermann, um personagem dúbio do qual se duvida o tempo todo, uma percepção que, mesmo assim, lhe é favorável. O problema maior é quando extrapola os limites da ficção e esse sentimento passa a se verificar também entre os espectadores. Sem identificar sua verdadeira natureza, ele se confirma como uma incógnita, talvez por um tempo além do necessário, exigindo uma suspensão de interesse que acaba por se desgastar e, ao invés de envolver, termina por afastar qualquer curiosidade eventualmente despertada.

Estamos na Alemanha logo nos primeiros anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Os judeus ainda se encontram em guetos – ao menos a maior parte deles – mas, aos poucos, começam a conquistar novamente seus espaços na sociedade. Bermann é um deles, alguém visto como líder e exemplo entre os seus pares, porém encarado com desconfiança pelos norte-americanos que estão tratando de regularizar o país após o conflito militar. Sua condição aparentemente segura começa a estremecer quando é chamado para um depoimento para a agente especial Sara Simon (Antje Traue, a Faora-Ul de O Homem de Aço, 2013). Ela quer saber a verdade sobre a história dele, motivada por documentos e relatos contraditórios a seu respeito. Como um homem de tanto destaque conseguiu permanecer ileso por tanto tempo, mesmo despertando a curiosidade e a atenção dos oficiais nazistas? Teria tido ele apenas sorte, ou seu envolvimento seria de natureza mais nebulosa e comprometedora?

A premissa de Bye Bye Alemanha, como se percebe, promete. No entanto, Garbarski nunca chega a alcançar de forma plena estas expectativas. Ele acaba por se apoiar por demais na performance invariavelmente segura de Bleibtreu, eficiente em compor um tipo charmoso e envolvente, mas que guarda no olho algo a mais, uma verdade que lhe deixa desconfortável e que, em parte, justifica o mistério que a envolve. Isso, por outro lado, é pouco diante de todos os fantasmas que essa trama promove. Assim como o recente Labirinto de Mentiras (2014), outra produção alemã que investigava o comportamento pátrio após a eliminação dos ideais nazistas, essa aqui também resguarda para si interesses nobres que, infelizmente, acabam em resultados questionáveis. Uma visão mais incisiva e menos romanceada lhe faria bem. Talvez não tanto ao público em busca de um final feliz, mas de acordo com a seriedade que o tema exige.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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