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Sinopse

Salomé, Lorde Cigano e Andorinha são artistas ambulantes que cruzam o país com a Caravana Rolidei, fazendo espetáculos para o setor mais humilde da população brasileira e que ainda não tem acesso à televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço e sua esposa, Dasdô, com os quais a Caravana cruza a Amazônia até chegar a Brasília.

Crítica

Carlos Diegues, conhecido também pela alcunha de Cacá, acaba de completar 50 anos de cinema, meio século de vasta contribuição à arte. E um de seus trabalhos mais emblemáticos é, sem dúvida, Bye Bye Brasil, drama protagonizado pela Caravana Rolidei, grupo itinerante que leva alegria (mas não somente) a parcelas menos abastadas da nação. Lorde Cigano, Salomé e Andorinha vagam pelo interior, principalmente do Norte e Nordeste, fugindo das antenas “espinha-de-peixe”, pois o público rareia onde já chegou televisão. Num dos povoados, recolhem Ciço e Dasdô, casal jovem, ele com a sanfona, ela com o herdeiro na barriga já proeminente.

De lugarejo em lugarejo, a Caravana Rolidei atravessa paisagens empobrecidas e testemunha a angústia dos que oram fervorosamente por pingos de chuva. A passagem lúdica da trupe miserável desvela outros tantos filhos largados à própria sorte pela pátria-mãe desnaturada. Índios em mendicância urbana, homens e mulheres digladiando-se por trabalho, enquanto a necessidade sobrepõe-se a elementos básicos, tais como a moral. Em dado momento, o imberbe Ciço apaixona-se por Salomé, pecado encarnado com volúpia e sensibilidade por Betty Faria, e propõe fuga, num amor próximo do desespero. Lorde Cigano (quiçá o papel da vida de José Wilker), o líder malandro capaz até de fazer nevar nos trópicos, seduz a vulnerável Dasdô apenas por seu sexo. Assim, o humilde encanta-se pelo mambembe, pois o crê altivo.

Mesmo após a dissolução do Cinema Novo, Cacá Diegues (um dos próceres do movimento) continuou dando voz e rosto aos que padecem à margem do progresso, expondo noutras chaves as mazelas de uma sociedade doente. Musicado pela virtuosa trilha sonora de Chico Buarque de Hollanda e Roberto Menescal, Bye Bye Brasil guarda significâncias densas, extraídas de suas paisagens geográfica, social e afetiva. Possui rara beleza, não apenas por expor (no bom sentido) o sofrido povo tupiniquim, mas, sobretudo por fazê-lo graciosamente, tomado da incorrigível esperança dessa gente que, a despeito de todas as evidências, crê num sol capaz de nunca mais se pôr.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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