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Crítica


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Sinopse

Jaqueline, uma jovem humilde de 16 anos, é bolsista em um colégio particular e passa seus dias dividida entre os estudos e os pensamentos em Fernando, o garoto mais bonito da escola. O que ela não imagina é que sua melhor amiga, Amanda, já namorou o rapaz. E também que ele próprio tem um segredo capaz de impedir qualquer chance de namoro entre os dois. Além disso, Marchesi, amigo de Fernando, também gosta de Jaqueline, e pretende fazer de tudo para conquistá-la.

Crítica

Os anseios, as dúvidas e as dificuldades são praticamente universais. Bye Bye Jaqueline retrata a adolescência, esse período de transição geralmente turbulento, no qual questões banais, se vistas depois, pelo prisma adulto, adquirem um tamanho desproporcional. Jaqueline (Poliana Oliveira) é estudante de uma escola particular do Paraná. O fato dela ser bolsista, ou seja, de não pertencer necessariamente ao mesmo estrato social dos demais colegas, aqui é apenas um dos sintomas da leviandade constante na abordagem do diretor Anderson Simão. Tal diferença de classes é arremessada como mera informação, utilizada sem qualquer importância, permanecendo num nível ínfimo de representatividade. Todavia, o principal motor do filme é o interesse da menina pelo galãzinho da escola, Fernando (Victor Carlim), alguém considerado praticamente inalcançável. Ela troca confidências com a melhor amiga, a nonsense Amanda (Gabrielle Pizzato Santana), que mais adiante faz uma revelação pretensamente bombástica, embora nada a prepare devidamente.

Os diálogos, alguns deles sofríveis, são as maiores debilidades de Bye Bye Jaqueline. Não ajuda muito a dirimir esse caráter a encenação engessada proposta por Simão. Somente em uma cena há inventividade visual. A beleza do plano da plateia do cinema sendo iluminada gradativamente pelas luzes dos celulares se acendendo, dando a impressão de vagalumes quebrando o escuro, é a exceção que, neste caso, confirma a regra, pois, no mais, o que se tem é um percurso imagético burocrático. Não raro, o visto sublinha ordinariamente o dito e vice-versa. No que concerne à trama, são frequentemente falhas as tentativas de substanciar o drama tipicamente adolescente feito de amores e desamores, com fulano gostando de beltrana que, por sua vez, está apaixonada por sicrano. O problema não é inexistir algo de novo no front, mas a ausência de personalidade, bem como o contentamento com caminhos antes percorridos, sem que se almeje visivelmente o acréscimo de algo próprio às dinâmicas acessadas.

Bye Bye Jaqueline é atravessado por diversas situações absolutamente mal enjambradas, como a festa ocorrida após a vitória do time de vôlei da escola. Uma das meninas, inclusive, chega a mencionar uma orgia para se referir à comemoração que ocorrerá, seja na vitória ou na derrota. Aliás, a representação da adolescência feminina é um tanto problemática, haja vista a tendência sintomática à reiteração de expressões chulas como “vaca e vadia”, colocadas na boca das jovens como xingamentos às colegas. Travestido de discurso coloquial, tal expediente trata de reforçar estereótipos. Outra tendência visível é uma fetichização recorrente do corpo das jovens, especialmente o de Jaqueline, ela que aparece, sem mais aquela, de lingerie no quarto, de bruços, numa cena descartável. Similar em tom é a passagem da atriz experimentando “inocentemente” seu biquíni diante do espelho. Anderson Simão não se detém na observação da sexualidade crescente, portanto tais momentos soam completamente gratuitos no filme.

O professor da gurizada – atente à bem-vinda valorização do acento regional, sem ímpetos de neutralizar sotaques ou coisa que o valha, pelo contrário, dando-lhes relevo – é um caso à parte. Silvano (Wellington Sari) tem comportamentos estranhos em sala de aula, atingindo o cúmulo de literalmente comer uma prova somente para não entrega-la à amiga de uma aluna ausente. Marchesi (Leonardo Oliveira), o apaixonado por Jaqueline, que lhe rouba um beijo, ora apresenta conduta reprovável, ora bastante compreensível. Todavia, isso é uma inconstância contraproducente, não fruto da vontade de escapar ao maniqueísmo, vide as demais construções de personagem. Bye Bye Jaqueline apresenta figuras bidimensionais, excessivamente frouxas, até quando encaixadas nos códigos da comédia romântica adolescente. Várias canções servem com moldura a esse conjunto fragilizado por uma série de problemas conceituais e de execução, cujo resultado é, no mínimo, ingênuo cinematograficamente falando.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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