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Crítica


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Sinopse

Zachary Beaulieu vive o despertar da sua homossexualidade nos anos 1960. Para ficar em paz com a própria orientação sexual, ele vai ter de lidar com uma mãe extremamente religiosa e um pai conservador.

Crítica

Como simplesmente não amar C.R.A.Z.Y.? Este, além de ser uma das produções mais premiadas da história do cinema canadense, é também uma emocionante mensagem de amor incondicional entre pais e filhos, irmãos e, acima de tudo, seres humanos. O amor em família, a descoberta de nossas identidades e a luta contra o preconceito, seja ele sexual, social ou religioso. Um libelo contra a intolerância e a ignorância, levada às telas numa obra comovente e muito bem realizada. Sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes dos últimos tempos (a se lamentar, apenas, a demora do filme em ser lançado no Brasil, em 2007, apesar de ter sido produzido dois anos antes!).

O diretor e roteirista Jean-Marc Vallée fez do propósito de levar C.R.A.Z.Y. às telas um objetivo pessoal, que lhe custou cerca de dez anos de investimentos, pesquisas, releituras do roteiro, filmagens e produção. E o resultado não poderia ser melhor, justificando todo o esforço envolvido. A trama nos apresenta uma família com cinco filhos homens, cada um batizado com um nome cuja inicial nos leva ao título do filme e também de uma das mais famosas canções de Patsy Cline, cantora endeusada pelo pai dos rapazes. Christian, Raymond, Antoine e Yvan são, na verdade, coadjuvantes, enquanto que acompanhamos esta vida atráves dos olhos e sentimentos de Zac, o quarto filho. Enquanto os demais se encaixam mais facilmente em estereótipos - o vagabundo, o esportivo, o nerd e o preguiçoso - Zac é o rebelde, o inovador, o contestador, o inquieto, o que entrará em conflito com o resto da família, e para evitar a separação irá sufocar seus próprios questionamentos de sexualidade, religiosidade e humanidade, até não mais suportar.

O mundo que enxergamos através de Zac é repleto de contradições, e justamente por isso é tão verdadeiro. Em plenos anos 70, em meio à liberação dos costumes e de repressões ideológicas, ele luta bravamente para tentar se encaixar num modelo pré-estabelecido, e assim garantir seu lugar naquele universo familiar. Isso, claro, até perceber que no final o sangue sempre acaba falando mais alto. E esta é a ideia que C.R.A.Z.Y. tenta levar ao seu espectador: quando o amor é verdadeiro e real, deve ser maior do que tudo, não importando quão limitadas sejam nossas referências e suposições.

Vencedor de mais de 35 prêmios internacionais, C.R.A.Z.Y. foi o representante oficial para concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro (é todo falado em francês) em 2005. Acabou não conseguindo a vaga, o que não faz a menor diferença. Tocante e mágico, místico e sensível, sexy e engraçado, singelo e abrangente, este é um filme que ultrapassa questões como homossexualidade, tradição, fraternidade e discriminação. É, sim, um longa que fala do sentimento mais nobre de todos, o puro amor, e somente por isso merece ser conhecido por todos. Por mais loucos que sejamos. Afinal, como já diz o ditado, ninguém de perto é muito normal!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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