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Sinopse

Dois estudantes vivem o sonho da revolução em meio à Ditadura Civil-militar do Brasil. Um deles, Tiago, é ferido numa ação e precisa se esconder num apartamento. Ali é cuidado por Rosa, sua enfermeira e contato com as ruas.

Crítica

Premiado com cinco Candangos no Festival de Brasília, inclusive como Melhor Filme pelo Júri Popular, Cabra-Cega é um filme que quase chega lá. Apesar do argumento interessante, da premissa envolvente, de contar com dois protagonistas em alta forma e de possuir atributos técnicos repletos de um cuidado digno de nota. O filme peca, no entanto, exatamente no essencial, ou seja, em sua estrutura dramática, que é por demais circular e redundante. Assim, sem grandes inovações, se esvai uma válida oportunidade de análise da luta armada brasileira nos tempos da ditadura vista pelo lado de dentro, do clandestino. Ao invés disso, o que temos é uma posição oficial e, por isso mesmo, superficial.

De imediato somos jogados no drama de Thiago (Leonardo Medeiros, em atuação digna do prêmio recebido como Melhor Ator no Festival de Brasília), um rebelde que após escapar de uma emboscada precisa se esconder do governo e do exército, saindo temporariamente da ação. Assim ele fica, ao menos até se recuperar dos ferimentos sofridos e que seu rosto saia da lista dos principais procurados. Na reclusão de um apartamento cedido por um companheiro, ele terá como companhia apenas uma outra militante, encarregada de auxiliá-lo com alimentos e informações. Sem poder agir, passa a observar com angústia e preocupação sua inércia, ao mesmo tempo em que começará a repensar suas atitudes, seja em relação aos que estão ao seu redor ou quanto a si próprio.

Incongruências do roteiro, como as quebras de segurança impostas pelo protagonista, a atenção injustificável que ele oferece a uma vizinha, ou um passeio que dá pelo centro da cidade sem que isso represente risco, e atuações capengas e amadoras demonstradas por alguns coadjuvantes, como o dono do apartamento, prejudicam a credibilidade da obra como um todo. Há ainda, paralelo a isso, a indecisão do diretor Toni Venturi quanto aos seus propósitos: estamos diante da trajetória de toda uma geração, representada naqueles que lutavam e acreditavam numa melhor realidade, ou essa é uma história de amor sobre duas pessoas que se encontravam no local e no momento errado de suas vidas? Caso contrário, porque recair no clichê da atração sexual entre estranhos em situações climáticas?

Realizado a partir de uma extensa pesquisa do diretor com sobreviventes dos anos de chumbo, Cabra-Cega significa a volta de Venturi ao tema, que havia marcado seu trabalho de estreia, o documentário O Velho (1997), sobre Luis Carlos Prestes. Com uma preciosa trilha sonora recuperada em grande parte pelas talentosas mãos da cantora e compositora Fernanda Porto, este filme vale mais pelo registro histórico que forma a base de sua estrutura e pela mensagem que carrega do que pelo produto artístico em si.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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