Crítica
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Sinopse
Bruceuilis é um policial do interior do Ceará que, para resgatar Celestina, cabra considerada patrimônio da cidade, viaja até São Paulo. Lá encontra Trindade, escrivão da polícia que resolve se aventurar em campo, mesmo não sendo essa a sua especialidade. Salvar a cabra Celestina não parece ser uma tarefa fácil. Mas, para esses cabras da peste, nada parece ser impossível.
Crítica
Cabras da Peste é uma paródia e, como tal, se sustenta na sátira. Neste caso, o cineasta Vitor Brandt constrói o filme escrito em parceria com Denis Nielsen baseado nos códigos dos filmes policiais protagonizados por uma dupla de servidores da lei. Geralmente, nesse tipo de produção à qual o brasileiro faz alusão, o dueto se justifica pela forma como as fragilidades de um integrante são compensadas pelas potencialidades do outro. É basicamente o que acontece desde o princípio na união improvável entre Bruceuilis (Edmilson Filho), nordestino de passagem por São Paulo no encalço da cabra sequestrada involuntariamente por um meliante, e Trindade (Matheus Nachtergaele), considerado um homem frouxo e sem atitude, a despeito do distintivo na carteira. Mais que o andamento da trama, os rumos batidos tomados pela investigação atrapalhada, o principal sabor do longa-metragem está na boa capacidade de brincar com os códigos de referência, abrasileirando alguns deles com variável competência. A versão forró da música-tema de Um Tira da Pesada (1984), por exemplo, é uma dessas boas sacadas do conjunto que vale o quanto pesa sua capacidade de fazer homenagens.
Um dos ingredientes principais ao sucesso desse tipo de empreitada calcada numa dupla de policiais é a competência dos intérpretes. E nesse quesito Cabras da Peste conta com um duo arretado. Edmilson Filho novamente coloca seu talento cômico a serviço de uma caricatura de arquétipos cinematográficos. Em O Shaolin do Sertão (2016), era uma versão cearense dos heróis dos longas orientais de artes marciais. Em Cine Holliúdy (2012), um apaixonado capaz de desempenhar vários papeis inclinados ao deboche com tipos característicos da Sétima Arte. Já aqui, se encaixa bem no lugar do homem da lei destrambelhado, apesar do talento para a luta corporal. Aliás, no que diz respeito às brigas, destaca-se – dos pontos de vista da coreografia e cômico – a peleia com os vilões em que ele joga fora as armas de fogo e prefere utilizar uma toalha molhada. Por sua vez, Matheus Nachtergaele interpreta um parceiro contido, fadado a ser vítima e não dar a volta por cima em sua senda de derrotas até bem próximo do encerramento. Talvez ele pudesse ser melhor explorado como alguém sem talento, caracterizado por preguiça. Ainda assim, funciona, inclusive, como uma boa escada.
É compreensível que Vitor Brandt não se preocupe com a plausibilidade em Cabras da Peste, porque a finalidade é simplesmente a paródia. Deslocamentos enormes acontecem em questão de minutos, circunstâncias são convenientemente encaixadas para a trama andar no sentido desejado e, além disso, não há um aprofundamento nos personagens. As pessoas no filme são o que apresentam superficialmente, sobretudo por conta da prevalência dessa vontade de empilhar sacanagens com elementos consagrados, sobretudo os do cinema de ação Hollywoodiano. Há muita previsibilidade, como quando alguém menciona a culpabilidade de um político, sendo que até ali vimos apenas um candidato fazendo campanha. Não é difícil ligar os pontos, mas surpreender o espectador também não parece parte da missão de deboche assumida pelo realizador. De negativo, a inexistência de tanta coisa singular abaixo da casca divertida de zombaria com os códigos conhecidos. Porém, o ritmo adequado para esse tipo de comédia ligeira, bem como a mencionada destreza do elenco esbaldado com o material vocacionado à gozação, garantem o saldo positivo dentro de uma proposta.
É perceptível a influência do cinema de Halder Gomes em Cabras da Peste, especialmente no que diz respeito à valorização do humor popular. O cineasta cearense é produtor dessa empreitada lançada diretamente em streaming, e certamente as menções ao cinema como universo a ser celebrado por meio da sátira é um expediente básico que Vitor Brandt pega emprestado do colega. Dentro das boas tiradas que o filme apresenta, a ligação com a motorista de aplicativo vivida por Evelyn Castro e a vigília que ganha toques ainda maiores de contemporaneidade com a espera abastecida de alimentos por um entregador de bicicleta. Ainda que atenda também a um estereótipo, a personagem de Letícia Lima é excessivamente masculinizada, aproximando-se perigosamente de um clichê não tão observado como os outros enquanto um exemplar recorrente cinematograficamente. Pois, entre mortos, feridos e fora de combate, o resultado é uma comédia leve, cuja pretensão é brincar com um objeto de afeição, no caso os filmes estrelados por duplas policiais. Nesse quesito, sai-se melhor do que Uma Quase Dupla (2018), projeto de natureza parecida, mas não tão certeiro quanto ao tributo descompromissado, às vezes inspirado, a produções e tipos sobreviventes na memória afetiva de muitos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 6 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6 |
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