Crítica
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Crítica
Há um abismo entre o original Caçadores de Emoção (1991) e o remake Caçadores de Emoção: Além do Limite (2016). Instransponível, aliás. Claro que a comparação é sempre complicada – ou melhor, diga-se “indesejada” – mas neste caso torna-se necessária. Pois o primeiro é um filme que criou um estilo todo próprio dentro dos filmes de ação, com uma pegada que seria reproduzida de forma semelhante alguns anos depois em Velocidade Máxima (1994). Em comum possuem um ritmo dinâmico e piadas perspicazes que estão presentes na memória de gerações. Além disso, revelaram também um nova maneira de viver, em que o mais importante era preservar e dar atenção a natureza, ter hábitos saudáveis, cuidar da forma física e praticar esportes radicais. E se acrescentar ingredientes como surfar ondas gigantes, deixar a adrenalina comandar seus impulsos, saltar de paraquedas, viver a emoção e curtir tudo até o êxtase, terá uma bela receita.
As qualidades da produção de 1991 são pontuais e bem fáceis de se observar. Na sua abertura, o longa já se mostra interessante. Vemos duas sequências distintas. Um agente do FBI está treinando na linha de tiro. Enquanto isso, a silhueta de um surfista encara ondas radicais. Temos fartas imagens em slow do surfista versus a velocidade real e a destreza infalível do agente acertando todos os alvos. Um duelo entre a beleza da natureza aliada à liberdade, ao prazer e à emoção do desbravador. Que em breve será enfrentado e perseguido por um outro caçador. Caberá ao agente se infiltrar, conhecer e possuir o mundo libertário e audacioso do esportista. Só assim poderá dominá-lo e detê-lo. Isso é dirigir um filme a partir de um roteiro eficaz. Construir uma indicação engenhosa, e ao mesmo tempo sutil, do que teremos pela frente. Assim se começa uma boa história.
É importante também analisarmos Caçadores de Emoção a partir do contexto de sua época. Os anos 1990 estavam apenas começando. A mentalidade de se rebelar contra um sistema opressor e voraz ainda mobilizava o público jovem e adolescente. Diferente dos dias atuais? Sim e não. Hoje não encaramos mais um sistema apenas como vilão. Por outro lado, quem além dos jovens se encantaria com a possibilidade de viver as sensações até às últimas consequências? Os prazeres de desafiar seus limites? Apenas para citar duas boas escolhas que fizeram o filme funcionar. Há outras.
Vejamos os protagonistas. Verossímeis e sem receio de viver a pleno aqueles irresistíveis desafios. Tudo isso inserido em uma trama articulada e original, com papeis e atuações bem definidos, dois protagonistas com carisma e um bom potencial dramático os unindo, além de um bom elenco e uma direção muito segura e precisa. Aliás, a realizadora Kathryn Bigelow – primeira e única mulher a ganhar um Oscar de Melhor Direção, feito alcançado por Guerra ao Terror (2009) – merece elogios. Ela não se preocupou apenas com as cenas de esportes e ação. Cuidou muito bem de seus dois personagens principais.
O filme versa sobre essa relação de amizade, admiração e dualidade entre Buddy (Patrick Swayze) – um surfista de espírito livre, espécie de líder espiritual da quadrilha de assaltantes de banco (os ótimos ex-presidentes mascarados, uma bem humorada crítica ao sistema) – e Johnny Utah (Keanu Reeves) – o policial que irá persegui-los, atuando do outro lado, mas nem tanto assim (pois curte e se envolve na vibe dos surfistas bandidos). Ele se aproxima do grupo aprendendo a surfar. Ganha primeiro a confiança e o coração da ex-namorada de Buddy, vivida por Lori Petty. Depois se integra de vez ao grupo. Logo em seguida está criado o triângulo amoroso-trágico. Mas Jonnhy se depara de verdade com conflitos, pressões de seus chefes e ainda encontra tempo para trocar boas piadas, numa afinada parceria com Gary Busey. Encara um caminho isento de redenção em meio à frases ora engraçadas ora trágicas: “a vida tem um senso de humor doentio”, ou quando os presidentes saem com o dinheiro do roubo e lembram numa gravação “não se esqueçam de votar”!
Em tempos de remakes, continuações, filmes em série, tudo que o espectador deseja é ser surpreendido e desafiado. No mínimo com roteiros trabalhados e criativos. Diretores que saibam aonde querem ir. Um filme, no mínimo, precisa valer a pena os preços bem salgados que pagamos nas bilheterias. O filme de 1991 sabe bem tudo isso. Já o remake se limita a ampliar as cenas de esportes radicais através de um realismo incrível e utilizando o recurso da filmagem em terceira dimensão. Só que para por aí. Assim como em cena o novato tinha muito a aprender com o veterano, mais uma vez Hollywood mostra às novas gerações o quanto se tem a ganhar ao observar os clássicos, sejam eles pop ou não.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Alexandre Derlam | 6 |
Robledo Milani | 8 |
Marcelo Müller | 10 |
Francisco Carbone | 9 |
Filipe Pereira | 8 |
Roberto Cunha | 10 |
Mariani Batista | 8 |
MÉDIA | 8.4 |
Filme que é a cara do início dos anos 90. Este filme me prendeu a atenção na primeira vez que vi, há muito tempo, apesar de não ser um tipo de história que me atraia e da obviedade e clichês do enredo. Tem o personagem do Keanu Reeves com atuação bem caricata, cheio de jeitos para falar e andar e tem até a personagem da mocinha espevitada de cabelo curtinho e pretensamente sex, estilo Demi Moore em Ghost, bem característico do início dos anos 90. Sempre que há oportunidade, assisto este filme novamente, até pela nostalgia.