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Sinopse

Bobby deseja ser escritor e se muda à efervescente Nova Iorque nos anos 1930, inclusive mirando trabalhar no cinema. Logo ele se apaixona por Theresa, a filha do chefe, e acaba frequentando a alta sociedade hollywoodiana.

Crítica

Talvez seja apenas um reflexo incontornável do passar do tempo, mas é perceptível que a nostalgia vem ganhando cada vez mais espaço nos trabalhos de Woody Allen. Não que este sentimento já não se manifestasse em outros estágios de sua obra, vide A Rosa Púrpura do Cairo (1985) ou A Era do Rádio (1987), mas seu papel parece ser ainda mais essencial em títulos recentes como Meia-Noite em Paris (2011) e Magia ao Luar (2014). Em Café Society, assim como nos outros longas já citados, essa aura nostálgica envolve as discussões sobre relacionamentos amorosos tão caras a Allen, e vem acompanhada da fantasia, do apreço pela arte da ilusão, que aqui se materializa através da concepção de Hollywood como um local de criação de sonhos.

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Os bastidores da indústria cinematográfica dos anos 30 servem como ambientação para a trama que acompanha Bobby (Jesse Eisenberg), um aspirante a escritor que se muda de Nova York para Los Angeles buscando iniciar uma carreira no universo artístico com a ajuda de seu tio, Phil Stern (Steve Carell), um bem-sucedido e influente produtor de cinema. Enquanto realiza pequenos trabalhos como mensageiro da produtora, aguardando a chance de mostrar seu talento, o jovem do Bronx se apaixona por Vonnie (Kristen Stewart), a encantadora secretária particular de Phil. O problema é que, apesar da química instantânea que surge entre os dois, os sentimentos de Bobby não são plenamente correspondidos, já que a garota mantém um relacionamento secreto com um homem mais velho e casado.

Em meio a esse triângulo amoroso que se estabelece, Allen insere todos os principais elementos recorrentes em sua filmografia: a presença do jazz na trilha sonora, as referências cinéfilas, o núcleo familiar judaico, as desilusões sentimentais, os embates existenciais e o protagonista neurótico. Essa figura central típica do universo do cineasta é encarnada com bastante competência por Eisenberg. Ainda que seja um ator marcado por um modo de interpretação que basicamente se repete em todos os seus trabalhos, com pequenas variações, esse estilo particular se encaixa no arquétipo do alterego clássico de Allen, como a fala rápida e a aparência levemente insegura e frágil. O resto do elenco mantém o bom nível de atuações, com Stewart dando vida à garota cool, aparentemente desprendida da artificialidade do mundo das celebridades hollywoodianas, e Carell se destacando pelo carisma habitual.

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Como é de se esperar em todo longa de Allen, mesmo nos mais irregulares, Café Society apresenta uma série de momentos inspirados que atestam a habilidade do diretor e, especialmente, a do roteirista. A sequência em que Bobby contrata uma prostituta judia iniciante é um ótimo exemplo, assim como o diálogo entre os pais do protagonista, que debatem sobre vida após a morte e respostas divinas – “Não responder também é uma resposta”, conclui a mãe de Bobby – ou ainda todas as cenas com participação do cunhado comunista, sempre carregadas de ironia. Tudo isso é registrado em um tom bastante leve e despretensioso, algo sublimado pela deslumbrante e luminosa fotografia do mestre italiano Vittorio Storaro – de O Último Imperador (1987), O Fundo do Coração (1981) e outros notáveis trabalhos – que proporciona ao filme um requinte visual inegável.

A leveza desse registro pode transmitir certa sensação de superficialidade, já que a gravidade das ações é quase sempre abrandada – como as intervenções de Ben (Corey Stoll), o irmão mafioso de Bobby, que mesmo carregadas de violência ganham um tratamento cômico, praticamente cartunesco. Os conflitos nunca chegam a se aprofundar completamente e alguns personagens são subaproveitados, caso de Veronica, vivida Blake Lively - que surge belíssima, mas com pouco a fazer. Essa, porém, aparenta ser uma escolha consciente de Allen que, na balada nostálgica mencionada no início, realiza uma homenagem e, porque não dizer, um resgate do romantismo do cinema de outra era. Existe no longa um olhar de admiração saudosista em relação a uma inocência – como a da cena em que as luzes do quarto de hotel de Bobby se apagam durante o jantar com Vonnie  - que vem se perdendo ao longo da evolução da sétima arte.

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Volta-se, então, à representação de Hollywood como a terra dos sonhos que Bobby – sem conseguir romper seus laços com Nova York, símbolo do mundo concreto - se vê obrigado a abandonar. Deste modo, Allen trata da idealização que fazemos de nós mesmos, daquilo que imaginávamos que nos tornaríamos e dos desejos que quase sempre tropeçam na barreira da realidade à qual acabamos por nos adaptar, como ocorre com Bobby e Vonnie. Se as situações que nos são apresentadas carecem do peso que supostamente deveriam possuir é porque estamos nessa esfera quimérica criada pelo cineasta. Já que, como a certa altura infere o protagonista, sonhos são apenas isso: sonhos. E seu fascínio reside exatamente nessa qualidade - invariavelmente destruída quando transportada para a vida real – de serem inalcançáveis e eternos, tal qual uma cena de cinema.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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