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Sinopse

Um garoto de sete anos se depara com um saco de dinheiro que caiu inusitadamente em seu quintal. O menino começa a ver como sua vida muda a partir da grana, mas também como as pessoas ao seu redor mudam.

Crítica

Desde que sua mãe faleceu, o garoto passou a estabelecer conversas com os santos, talvez para ter certeza de que ela estaria bem. Ele, em companhia do pai e do irmão mais velho, se muda para uma nova casa. Introspectivo, leva tempo para se adaptar à vizinhança e ao colégio, amigos e colegas novos e um tanto assustadores, com seus jeitos e manias. Enquanto isso, se refugia em brincadeiras imaginárias e solitárias. Isso até quando um “milagre” literalmente acontece, ao cair sobre sua cabeça uma sacola repleta de dinheiro. Sem ter muita noção do que aquilo significa – a não ser que dá pra comprar “muita coisa” – decide contar ao irmão, que prefere manter em segredo o acontecimento. Aos poucos, no entanto, os dois começam a realizar pequenos sonhos consumistas, mas uma urgência os impelirá a tomar uma atitude: em menos de uma semana a moeda inglesa será alterada para o euro, e então tudo o que possuem agora mais nada valerá.

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A partir dessa premissa interessante se desenvolve Caiu do Céu, talvez o mais subestimado trabalho do diretor Danny Boyle. Dono de uma cinematografia tão diversa quanto inovadora, de onde se destacam o revolucionário Trainspotting: Sem Limites (1996) e o oscarizado Quem Quer Ser um Milionário? (2008), Boyle nos remete neste pequeno filme ao seu longa de estreia, Cova Rasa (1994), que também partia do conceito “o que fazer com todo este dinheiro?”. Porém, ao invés de investir no cinismo e na dupla face das relações humanas, o cineasta agora aposta num lirismo infantil, adotando um tom de fábula em sua narrativa.

Caiu do Céu pode ser um tanto decepcionante para quem está acostumado com o estilo mais frenético do cinema de Boyle. Mas, uma vez dentro do espírito geral da obra, ela se torna leve e irresistível, mesmo abordando temas relativamente problemáticos, como ganância, crime, confiança e lealdade. A interpretação angelical do pequeno Alex Etel, a presença de coadjuvantes como James Nesbitt (Domingo Sangrento, 2002) e a mão segura do realizador contribuem para o bom resultado geral. E o roteiro, escrito por Frank Cottrell Boyce, se não repete a mesma profundidade de alguns dos textos anteriores dele, como Hilary & Jackie (1998) e Código 46 (2003), certamente se inclui em um nível de qualidade pouco comum ao cinema atual.

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Fé contra consumismo, ingenuidade contra violência, segurança contra aspirações. Estes são apenas alguns dos conflitos propostos aqui. E o mais curioso é conferir como são abordados, sem resvalar na polêmica gratuita ou na banal lição de moral. Caiu do Céu é cinema, acima de tudo, e assim sendo contém sua necessária dose de entretenimento. Mas nem por isso é descartável ou irrelevante. Há muitas idéias por trás de sua aparente simplicidade, e o melhor é descobri-las aos poucos, sem força ou exagero.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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