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Crítica


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Sinopse

Um parasita desconhecido e agressivo se espalha rapidamente entre os moradores de um condomínio que fica numa ilha canadense. Os infectados apresentam como principais sintomas a violência extrema e um apetite sexual incomum.

Crítica

Após entregar alguns curtas e médias-metragens, além de outros tantos trabalhos para a televisão, David Cronenberg estava finalmente pronto para estrear no cinema com um longa-metragem. E o escolhido para tal tarefa foi Calafrios, uma produção que fazia uso de elementos recorrentes no gênero do terror para subvertê-los sob um olhar mais contemporâneo, colocando-se, surpreendentemente, à frente do seu tempo. Como resultado, temos algo que quarenta anos depois continua provocando o efeito esperado, ainda que em determinadas passagens, em confronto com o avanço tecnológico posterior, provoquem momentos de humor involuntário. Uma combinação que parece ir, coincidentemente, de acordo com um ideal perseguido pelo próprio realizador.

Cronenberg sempre soube explorar a ironia em suas tramas, buscando graça até nas situações mais adversas. Outros elementos recorrentes no seu cinema são o sexo e a violência. Todos presentes também neste seu primeiro projeto de maior amplitude. Calafrios resgata um argumento que encontra reflexo no clássico Vampiros de Almas (1956) – e que seria refilmado por Hollywood três anos após a estreia de Cronenberg sob o título Os Invasores de Corpos (1978). Seu caráter precursor, no entanto, pode ser observado em uma franquia de muito mais apelo popular: é quase inacreditável perceber que este filme foi feito quatro anos antes de Alien: O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott. Vendo-os hoje, seria fácil imaginar que o diretor canadense teria simplesmente copiado – ou ao menos se inspirado – nestas obras mais conhecidas. O interessante, no entanto, é perceber que o que aconteceu foi justamente o contrário.

A trama começa do modo mais asséptico possível: com um comercial de televisão exibindo as maravilhas desfrutada por quem mora no condomínio Starline, localizado em uma ilha próxima à Montreal. Todo o conforto e modernidade possível estão à disposição dos locais. Ao mesmo tempo em que acompanhamos a chegada de novos interessados por essa realidade, uma cena muito mais forte se impõe, em paralelo: um homem invade o apartamento de uma jovem e parte para cima dela, atacando-a com força, até deixá-la inconsciente. Em seguida ele a coloca sobre a mesa de jantar, e após tirar sua roupa, com um bisturi abre a barriga dela e dá início a um procedimento tão estranho quanto infeliz. Em questão de minutos, os dois estarão mortos, e o perigo tem início.

O que descobrimos em seguida é o que homem em questão era um cientista que havia desenvolvido um parasita cuja utilidade seria suprir o mal funcionamento de determinados órgãos humanos – tipo, se o seu rim parar de funcionar, o verme poderia assumir a função dele, evitando a necessidade de um implante e desenvolvendo uma relação de mútuo benefício com seu hospedeiro. A garota era sua cobaia. Algo durante o desenvolvimento da experiência, no entanto, deu muito errado. A infestação parasitária teve um efeito colateral – o despertar de uma fúria sexual no infectado – e a cada nova transa, o contágio se repetia. Estamos anos antes da descoberta da AIDS, por exemplo, mas em resumo é exatamente o que temos em mão: uma doença sexualmente transmissível que causa a danação de suas vítimas, todos concentrados em um mesmo ambiente – o edifício Starline e a ilha que os cerca – e sem muitas chances de escapar. Como sobreviver passa a ser mais uma questão de sorte do que de força.

O elenco de Calafrios é um achado, combinando atores gabaritados, como Barbara Steele (que anos antes havia trabalhado com Fellini em 8 ½, 1963), com outros absolutamente inexperientes, como o protagonista Paul Hampton, que no papel do médico Roger St. Luc consegue manter uma calma quase patética diante tamanho caos. Outro ponto curioso do filme é o fato de se tratar de uma produção de Ivan Reitman, o mesmo que no futuro iria dirigir comédias como Almôndegas (1979) e Os Caça-Fantasmas (1984). Ou seja, hoje podemos perceber que certamente havia aqui o tipo de material que lhe atraía. E assim Cronenberg pôde se lançar no universo cinematográfico, ainda que de um modo um tanto amador, mas já antevendo muitas das qualidades que o tornaria um dos maiores autores do cinema atual. Se não pela forma como trabalhar uma história como essa, só a coragem demonstrada em seu final já lhe oferece os créditos que tão bem saberia explorar em suas obras posteriores.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
6
Ailton Monteiro
9
MÉDIA
7.5

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