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Sinopse

Um novo filme está sendo rodado, com o jovem cineasta acreditando ter encontrado a protagonista perfeita. No entanto, começa um suspense envolvendo a vida real do diretor, essa mulher misteriosa e um colega de elenco.

Crítica

A jovem interiorana Nathalie Post (Dominique Swain) nutre a obsessão de tomar qualquer decisão que a permita deixar sua cidade natal. Sem recursos financeiros, as possibilidades tornam-se mínimas e inversamente proporcionais ao desejo de livrar-se de quem a prende ao lugar. Impedida de realizar seus impulsos mais primitivos, a jovem aplaca sua raiva no processo de escrita do seu diário. O material que Post ficcionaliza encontra Mitchell Haven (Tygh Runyan), diretor de cinema em início de carreira. Haven está certo de que a trama que envolve relações transtornadas, dinheiro e um assassinato misterioso pode ser transformada em um bom filme.

De forma superficial, Caminho para o Nada se apresenta como o meta-filme. Entretanto, em águas mais profundas, torna-se um exercício pouco lúcido sobre as delimitações da realidade e da ficção. Conduzido pelo experiente diretor americano Monte Hellman, conhecido dos fãs de western por A Vingança de um Pistoleiro (1965) e Disparo para Matar (1966), e do público em geral, possivelmente, pelo interessante Corrida sem Fim (1971), o diretor conserva em seu mais recente trabalho o traço autoral e a produção de baixo orçamento, características de uma carreira iniciada nos anos 60 à margem dos grandes estúdios. Labirinticamente, o conteúdo da trama de Mitchell Haven somente nos é revelado ao passo que assistimos ao filme de Monte Hellman. Por outro lado, o conteúdo do filme de Hellman é a história de e sobre o filme de Haven. O que significa que ambos os diretores não compartilham das mesmas tramas, que iniciam por coincidência.

Essa dependência cinematográfica tem início quando, na primeira cena do filme de Hellman, um aparelho de DVD induz o espectador a acompanhar o filme de Haven, também chamado Caminho para o Nada. Nesse momento ainda não suspeitamos que estamos nos enredando em duas dimensões. Ao mesmo tempo em que acompanhamos o filme de Hellman por flashback, acompanhamos a construção cronológica do filme de Haven. Durante o desenrolar desse quebra-cabeça meta-ficcional, seguimos Haven durante a produção do seu filme. Em busca da atriz perfeita para o papel, o diretor realiza o grande clichê do gênero ao envolver-se com a escolhida (Shannyn Sossamon). A relação torna-se visivelmente conturbada e marcada pelo ciúme no set. Além disso, tudo indica que o passado da personagem de Sossamon a condena. Na medida em que as filmagens avançam, Bruno Brotherton (Waylon Payne), produtor geral do filme, começa a juntar provas contra a atriz. Supostamente há um crime em jogo.

A grande virtude de Caminho para o Nada é o alto grau de dificuldade do exercício cinematográfico proposto. Ao dominar duas estruturas narrativas idênticas e dar tons aparentemente diferentes, o filme exige do espectador a atitude de encaixar as peças do jogo, ao mesmo tempo em que o instiga a resolver o possível conflito que está por detrás das relações entre ambos. No entanto, o esforço empreendido para estabelecer as conexões necessárias premia o público com muito pouco ou quase nada. É o exercício pelo exercício, uma vez que Hellman falha ao não elaborar outros aspectos da obra, como personagens complexos, bons diálogos e sequências de qualidade. Apesar de a estrutura entremeada sinalizar um desafio, a resolução deste não resulta, como poderíamos imaginar, em uma percepção original do apagamento do real e do ficcional, assim como soa inócuo ao não produzir sentido a partir do enredo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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