Crítica
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Sinopse
Crítica
A coprodução luso-brasileira Caminhos Magnétykos oferece alegorias alimentadas por tensões de ordem ideológica. O protagonista é Raymond (Dominique Pinon), francês radicado em Portugal, onde constituiu família. A angústia na iminência do casamento da filha caçula, Catarina (Alba Baptista), nasce e se reproduz por conta de sua natureza revolucionária em conflito com as circunstâncias do matrimônio. Ele consentiu o enlace tendo em vista apenas o aspecto financeiro. O genro é um homem de posses, bem relacionado com as altas esferas do governo que traveste seu autoritarismo bélico de reformismo supostamente caro aos bons costumes e à família tradicional. São vários os sintomas desse mundo contemporâneo em degradação que atravessam a vivência do estrangeiro, sendo um deles o primeiro-ministro de penteado falso, de natureza demagógico-midiática e discurso passivo-agressivo. Há a tentativa de aludir a um estado das coisas atual.
A linguagem proposta pelo cineasta Edgar Pêra é a do delírio constante. Há a constituição de uma fábula dotada de linhas distópicas. A montagem é um dos elementos responsáveis pela peculiaridade da narrativa que, às vezes, ao mirar na sensação asfixiante, acaba atingindo (e enfraquecendo) a mensagem política suscitada com veemência. Quase ininterruptamente, quadros banhados em luzes multicoloridas são sobrepostos a fim de desenhar o percurso onírico. São poucas as transições realizadas com cortes secos, por exemplo. O realizador embola as imagens com o intuito de acentuar a hipertrofia de outras esferas, vide a verborragia aparentemente deslocada dos contextos e a exacerbada preocupação paterna com a integridade da filha. O arrependimento de Raymond é colocado num local de imprescindibilidade, especialmente porque Catarina é erigida, de modo simplório, ao panteão de representante de uma pureza prestes a ser corrompida.
Há momentos luminares em Caminhos Magnétykos, tais como as participações de Ney Matogrosso. No primeiro instante, ele é um guia espiritual que fornece pistas evasivas, bem ao gosto das profecias que anteveem jornadas heroicas. Logo depois, ele surge rapidamente como líder da insurreição, oferecendo uma faceta complementar ao misticismo antes revelado. Embora a trama se beneficie desse itinerário formal que lhe confere traços assumidamente caóticos e curiosos, algo que combina com a inclinação apocalíptica da tese defendida, o conjunto se ressente da falta de um melhor aproveitamento dos indícios simbólicos e líricos. Edgar Pêra permite que o filme se torne refém de uma reiteração nem sempre bem-vinda de procedimentos e intenções manifestadas. A sobreposição de imagens, por exemplo, chega ao ponto de gerar um despropósito. Assim, a apresentação do mundo colapsado, a partir do protagonista em crise, perde parte da pujança.
Caminhos Magnétykos utiliza bem a sua artesania imagética em algumas passagens. Dominique Pinon – intérprete conhecido pela colaboração com o compatriota Jean-Pierre Jeunet – faz de Raymond uma figura essencialmente trágica, arrastada pela conjuntura sócio-política que o leva a tomar atitudes drásticas, como “penhorar” a filha. Ainda que o trajeto seja coerente e profundamente pessoal, dado os contornos que lhe conferem a aura de pesadelo intransferível, é uma pena que o realizador trabalhe de maneira insuficiente a potencialidade dos coadjuvantes, sobretudo certos que, se melhor aproveitados, poderiam adensar a contenda entre convicções antagônicas. Um tanto moroso e repetitivo, o filme propõe uma visão singular do desespero dos utopistas diante da ascensão da truculência do conservadorismo supostamente cordato. Poucos assuntos são globalmente tão atuais. A lastimar que Edgar Pêra estabeleça uma hierarquia em que eventualmente a fragilidade da integração entre o corpus formal e o conteúdo minimize a eficiência da corajosa empreitada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Bruno Carmelo | 7 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 6 |
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