Crítica
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Sinopse
Natalie é uma dona de casa que se sente prisioneira de uma vida sem sentido. Após descobrir que está grávida, ela entra em pânico e decide fugir de casa. Em sua fuga, conhece um jogador de futebol, e com ele acaba se envolvendo.
Crítica
Apesar de pouco visto ou lembrado, Caminhos Mal Traçados é o ponto de virada da carreira de Francis Ford Coppola como o cineasta autoral que todos conhecem. Foi através deste filme que o cineasta conquistou o respeito da crítica como diretor e roteirista que viria a produzir farto material de qualidade para a história do cinema. Pode não ter feito sucesso com o público, mas este road movie recheado de boas intenções é o tipo de longa que muitos aspirantes a grandes nomes da sétima arte gostariam de realizar: com baixo orçamento e um roteiro que evolui a cada minuto que passa na tela.
Baseado no conto Echoes, do próprio diretor, o longa acompanha a jornada da dona de casa Natalie (Shirley Knight), que está grávida e foge da sua confortável Long Island para tentar encontrar a própria personalidade, perdida através do tempo. No seu caminho aparecem o jogador de futebol Jimmy (James Caan) e Gordon (Robert Duvall), um guarda de trânsito. Mas, afinal, para onde ir? E, especialmente, qual o motivo e a espera do fim desta jornada?
Caminhos Mal Traçados é o oposto de Sem Destino, clássico road movie lançado no mesmo ano. Se no longa de Dennis Hopper os protagonistas vendem drogas na fronteira para conquistar o american way of life e se tornarem exemplares da classe média, Natalie é a própria personificação desta mesma classe média que quer fugir do próprio conforto. Não apenas uma crítica social e econômica, a personagem lança diferentes olhares sob o feminismo latente da época, mostrando-se não apenas alguém de mente aberta que não precisa de uma figura masculina para desenvolver e mostrar sua persona como também uma mulher de sexualidade aflorada e, nem por isso, sensual no contexto machista. Seus companheiros de jornada são reflexos do que ela busca, nunca seu produto final. O personagem de Caan, tão problemático, é quase um filho que ela sente vontade de cuidar. Já o de Duvall bate de frente com sua natureza sexual, numa guerra de dominação psicológica.
Assim, o time de protagonistas é brilhantemente dirigido por Coppola, compondo personagens tão distintas quanto marcantes. Se o roteiro é capaz de sacadas geniais, especialmente nos diálogos que, a princípio, parecem simplórios para resultar em grandes questões sobre a essência do ser humano, a ambientação de diferentes trechos desta estrada interminável exala a vulnerabilidade de seus personagens, tão humanos como qualquer um. Uma frase marcante do longa - e que remete ao título original (The Rain People) - é de que "as pessoas da chuva são como a chuva: quando elas choram, elas desaparecem por completo". No caso, as máscaras caem quando se está fora do próprio casulo.
O longa de Coppola explora através destes caminhos do título em português a necessidade do ser humano em buscar algo além do seu cotidiano, uma importância maior dentro do contexto da sociedade, e não apenas ficar restrito a um nicho comunitário. Natalie é o exemplo perfeito de alguém que pode se realizar perante o que todos esperam de uma mulher, mas ela quer mais do que isso. Mesmo que este algo mais possa ser frustrante, o que importa é a jornada de autoconhecimento que muitos parecem não ter em toda sua vida.
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