Crítica
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Sinopse
Nos anos 1990, Carol Danvers, uma agente da CIA, acaba estabelecendo contato com uma raça alienígena e ganha poderes sobre-humanos. Entre as suas novas habilidades, estão uma força fora do comum e a capacidade de voar. Descoberta por Nick Fury, ela agora precisa encontrar seu lugar num mundo que está se transformando.
Crítica
Suprindo parcialmente as expectativas que pairavam sobre o primeiro filme solo de uma das principais super-heroínas do Universo Marvel, os cineastas Anna Boden e Ryan Fleck (Parceiros de Jogo, 2015) fazem um trabalho apenas razoável em Capitã Marvel, tornando-o uma boa experiência, mas morna. A direção não valoriza tanto os instantes de emoção e, além disso, pesa a falta de sustância da atriz principal, Brie Larson, pois ela demora a encontrar os tons da protagonista. Diante de uma história de origem, somos convidados a conhecer o que levou a militar Carol Denvers a se tornar uma valorosa guerreira da raça Kree. O mais inteligente do roteiro é estabelecer tal percurso de maneira fragmentada, sem separar um bloco especificamente para isso. Descobrimos a verdade, assim, junto com a personagem, por meio de flashes do passado ignorado em sua completude. Os inimigos Skrull extraem os lampejos do outrora numa tentativa de apropriação da tecnologia seminal para seus planos insuspeitos. Até aí tudo bem, mesmo a narrativa progredindo burocraticamente, demorando a engrenar.
Capitã Marvel se passa nos anos 90. Todavia, a conjuntura noventista fica tão e somente a cargo da ótima trilha sonora repleta de hits facilmente identificáveis. O rápido vislumbre da locadora Blockbuster também visa evocar a época em que o acesso aos filmes era limitado às salas de cinema ou aos estabelecimentos de aluguel de VHS. Mas, tais componentes são insuficientes para apresentar uma contextualização sólida. Em termos de comparação, há mais “anos 80” em Guardiões da Galáxia (2014), cuja trama se passa quase integralmente no espaço, do que neste longa-metragem ambientado majoritariamente no planeta C-53, conhecido como Terra. A jornada gradativa de descoberta identitária de Carol é desenhada com um misto de hesitação e curiosidade, do que decorre sua pouca espessura dramática. Um exemplo do descuido diretivo é a forma como a "extraterrestre" se integra rapidamente à Terra, algo sequer assinalado como indício de sua humanidade. As coisas melhoram bastante quando entra em cena o agente Nick Fury (Samuel L. Jackson).
Aliás, as sacadas humorísticas efetivamente engraçadas derivam quase totalmente da ginga desse personagem bem diferente do sisudo chefe da S.H.I.E.L.D. visto nas demais produções do Universo Cinematográfico Marvel. Aqui ele é praticamente iniciante, rejuvenescido por impressionantes processos digitais, alheio às ameaças alienígenas. Numa cena específica, a da perseguição embaixo do trajeto ferroviário urbano, Anna Boden e Ryan Fleck ensaiam uma homenagem aos exemplares policiais norte-americanos dos anos 70, especificamente a Operação França (1971). Porém, a citação é tão frugal que não chega a reverberar de alguma forma. Brie Larson, o componente mais frágil de Capitã Marvel, não dá conta da modulação emocional dessa mulher que, aos poucos, acessa o passado para descobrir sua origem e seu propósito numa guerra de limites turvos. Ela é eclipsada frequentemente pelos colegas Samuel L. Jackson e Ben Mendelsohn, o intérprete de Talos, líder Skrull que revela a surpresa responsável por oferecer ao conjunto uma ótima guinada.
Capitã Marvel faz uma curiosa e bem-vinda ponte com a realidade ao se debruçar sobre o drama da raça consecutivamente encurralada nos recantos universais. Pais são separados dos filhos – alô, alô Donald Trump, essa foi para você – e as atenções se voltam ao necessário reparo de injustiças. Anna Boden e Ryan Fleck proporcionam à protagonista, ao menos, dois belos momentos de intensidade, exceções que, infelizmente, aqui confirmam a regra. O primeiro, a montagem com as diversas Carols se erguendo diante de prováveis derrotas; o segundo, a libertação de uma entidade que se vale do inconsciente para projetar figuras de respeito. É pouco, especialmente quando há um acúmulo de eventos tratados com boas doses de displicência. Entre os destaques positivos, figuram, ainda, o gato Goose, que centraliza anedotas realmente efetivas, e as participações de Jude Law e Annette Bening, ótimos apesar dos papeis pequenos. Pena que Brie Larson, embora não faça feio, demonstre-se aquém da representatividade de Carol, custando a encontrar as suas essências humana e Kree.
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