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Sinopse

O atropelamento de um ciclista às vésperas do Natal entrelaça os caminhos de duas famílias de classes sociais discrepantes.

Crítica

O cenário é um salão de luxo recheado de sujeira pós-festa. Copos no chão, pratos com restos de comida, papel picado pra todo lado. O serviço de limpeza precisa andar rápido para deixar tudo pronto. Um dos trabalhadores resolve não fazer hora-extra, vai embora em sua bicicleta e é atropelado por um carro em alta velocidade. A sequência inicial de Capital Humano, novo filme do italiano Paolo Virzì não poderia ser mais metafórica. Pois é a partir da sujeira proporcionada pela classe alta que eventos tomam proporções catastróficas e atingem a camada mais pobre da população. E este não é o único foco da produção vencedora do David di Donatello Awards, o Oscar Italiano. A crítica aos valores do ser humano tem como pano de fundo a crise econômica europeia, em especial a italiana. Dividido em quatro atos, o drama se transforma em um suspense cheio de detalhes que vão se agregando e esclarecendo a trama para o espectador.

capitale

Tudo começa com Dino Ossola (Fabrizio Bentivoglio), um corretor de imóveis que está prestes a ser pai de novo. Querendo ganhar o dinheiro que nunca teve na vida, resolve pedir um empréstimo de 700 mil no banco para aplicar na empresa de Giovanni Bernaschi (Fabrizio Gifuni). Um fundo “garantido”. Bernaschi é casado com Carla (Valeria Bruni Tedeschi), foco da segunda parte. Ela é uma ex-atriz que virou dondoca e sofre com o tédio proporcionado pelas constantes viagens de negócio do marido e com as saídas do filho adolescente, Massimiliano (Guglielmo Pinelli). A inspiração vem através da compra e restauração de um antigo teatro da cidade. Seu filho único namora Serena (Matilde Gioli), primogênita de Dino e protagonista do último capítulo individual do filme. Esta se envolve com Luca (Giovanni Anzaldo), rapaz recém saído do reformatório após ser detido com drogas em casa e que se consulta com sua madrasta, a psicóloga Roberta (Valeria Golino).

Com este mosaico de personagens e situações, Virzì se baseia no livro homônimo do crítico de cinema Stephen Amidon para fazer um retrato desta Itália decadente em que o capital deixa as pessoas loucas e sedentas por poder. Além das situações apresentadas por cada um, o que une todas estas personas é o acidente do início do filme, causado por não se sabe quem, ainda que o dono do carro seja Massimiliano. E as acusações começam a respingar sobre os outros, fazendo sentimentos guardados explodirem e causando ruptura nestas relações que já não tinham uma base sólida. Não é apenas a decadência da sociedade de consumo e dos holofotes das colunas sociais. É isto tudo refletido pela decadência do ser humano, sempre em busca de mais e mais em sua ambição, mesmo que para isso precise sacrificar os outros e a si mesmo. Tudo se encaixa no último capítulo da história, que amarra qualquer ponta solta e também os diferentes pontos de vista relatados, já que muito do que os personagens vivem individualmente também está diretamente relacionado com os colegas de cena.

EL CAPITAL HUMANO3

De suas 18 indicações ao David di Donatello, o longa levou para casa sete estatuetas, incluindo a principal, o que catapultou sua escolha para ser o indicado ao Oscar italiano do ano de seu lançamento. Entre atuações extraordinárias de um elenco que não deixa seus personagens serem meras caricaturas vilanescas ou o contrário, Paolo Virzì quebra paradigmas da sociedade italiana de forma sutil, mas nem por isso menos cru, com uma fotografia sempre nublada, escura, assim como a alma de seus personagens. Capital Humano retrata toda a podridão da humanidade em seus gestos, dos maiores aos menores, como a eterna discussão de quem é mais corrupto: o grande executivo que desvia dinheiro ou o empreendedor da classe média que mente para qual fim é o empréstimo no banco? De todos os personagens, as mulheres apresentadas pelo cineasta talvez sejam as que apresentam dados mais otimistas em suas atitudes e honestidade, ainda que não sejam 100 por cento santas (ainda bem). É uma cutucada que pode ter sido apontada para os europeus, mas serve para qualquer um que vive no modus operandi capitalista. Afinal, quanto custa a vida ao final disso tudo? Se depender dos cálculos das seguradoras, cerca de 200 mil euros. Mas será que alguém admite valer apenas isto?

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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Matheus Bonez
10
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
8

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