
Capitão América: Admirável Mundo Novo
-
Julius Onah
-
Captain America: Brave New World
-
2025
-
EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Capitão América: Admirável Mundo Novo, após se encontrar com o recém-eleito presidente dos EUA, Thaddeus Ross, Sam se vê no meio de um incidente internacional. Ele deve descobrir o motivo por trás de uma conspiração global nefasta antes que o verdadeiro gênio faça o mundo inteiro ser dominado pelo vermelho. Parte da saga Universo Cinematográfico Marvel.
Crítica
Pelo menos nos últimos cinco anos, está difícil começar qualquer análise sobre um novo filme da Marvel sem destacar o quanto ele deixa a desejar em comparação à fase áurea do estúdio – que acabou com Vingadores: Ultimato (2019). Capitão América: Admirável Mundo Novo dá continuidade ao que parece ser uma crise infinita de criatividade, algo capaz de transformar boas possibilidades em experiências, quando muito, esquecíveis. Primeiro longa-metragem solo de Sam Wilson (Anthony Mackie) como o novo Capitão América, ele começa com o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, o outrora temido general Ross (Harrison Ford), dizendo que há apenas uma forma de enfrentar a crise pela qual a nação passa: com todos juntos. Por mais escapista que uma trama seja, não há como ela ser completamente isolada do tempo em que foi lançada. Nesse sentido, os paralelos entre Ross e atual presidente dos EUA, Donald Trump, não apenas são possíveis, como irresistíveis. Afinal de contas, temos um homem agressivo no comando da Casa Branca. Porém, Ross anuncia que está mudado e compreendeu certas coisas fundamentais, como a necessidade dos heróis. O cineasta Julius Onah não trabalha a dúvida sobre essa reabilitação e, de modo igualmente inexplicável, ignora o peso dramático do arrependimento. No fundo, bem no fundo, há o remorso, mas o tema acaba não engrenando.
E sobre o novo encarregado do título mais patriótico entre os Vingadores? Sam Wilson é elaborado como um homem de ação, aquele que dificilmente deixará seus admiradores na mão. A Marvel preparou o terreno para o herdeiro em Falcão e o Soldado Invernal (2021), enchendo a série de discussões interessantes (e mal desenvolvidas) a respeito das dúvidas do sujeito quanto a assumir um posto que nunca foi representativo o suficiente para englobar as minorias norte-americanos. O Capitão América foi criado como símbolo de uma nação imperialista. Também na série víamos um pouco do medo de Sam se tornar o novo Capitão e não atender as expectativas na comparação com o aposentado Steve Rogers. Poucos são os momentos de Capitão América: Admirável Mundo Novo em que essas interrogações voltam à tona – e quando voltam é tão superficialmente que significam pouco. Aliás, num filme carente de boas ideias visuais e que precisa de uma verborragia interminável para explicar até as mais simples conspirações, as demandas humanas dos personagens são tratadas como empecilho. Se ao menos as cenas de ação fossem empolgantes o suficiente para não darmos tanta importância para essas fragilidades, mas nem isso. Sam é envolvido numa situação X, fica correndo de um lado para o outro caçando pistas falsas (algumas tolas). Nada é desenvolvido com consistência.
Capitão América: Admirável Mundo Novo poderia cruzar as experiências semelhantes de Samuel Sterns (Tim Blake Nelson) e Isaiah Bradley (Carl Lumbly). Ambos são homens torturados pelo Estado, mas que fazem usos diferentes da dor residual por tantos anos sendo tratados como lixo. Mas, lembre-se, o filme não está preocupado em desenvolver minimamente os personagens, senão o que explicaria a utilização de um mísero diálogo sofrível para trazer burocraticamente de volta a dúvida de Sam? Na verdade, a cena serve estritamente como desculpa (esfarrapada) para uma participação especial dispensável. A falta de entendimento dos roteiristas sobre a necessidade de tornar importantes os desejos e sentimentos das pessoas transforma em instante ridículo o clímax da batalha contra um inimigo vermelho praticamente impossível de ser derrotado. Uma vez que não podemos derrubar um monstro tão poderoso, porque não apelar para o bom e velho sentimentalismo que funciona de maneira milagrosa e providencial? O esvaziamento de Sam como uma figura potencialmente agregadora de novidades ao Universo Marvel parece até sabotagem do estúdio. Algo do tipo “nós tentamos injetar diversidade nesse mundo de super-heróis, mas como não deu certo resolvemos voltar a reproduzir velhos modelos comercialmente mais exitosos”. Isso daria sentido ao abandono da ideia de Sam como modelo.
Aliás, Sam é visto como modelo, mas apenas ao colega latino que sonha em herdar o uniforme do Falcão. Portanto, se é para um homem negro se tornar referência, que seja para outro membro de uma minoria perseguida nos Estados Unidos, nunca por um branco tipicamente anglo-saxão? Antes que algum leitor mais sensível se incomode com essa análise do que está implícito no discurso do filme, é preciso dizer que Capitão América: Admirável Mundo Novo desconfia tanto da capacidade cognitiva do espectador que, ainda por cima, enche a boca das pessoas com explicações para tudo. Esquematicamente, de cinco em cinco minutos alguém faz perguntas apropriadas para gerar respostas meramente explicativas e/ou ilustrativas. Chega-se ao cúmulo de um personagem desvendar algo e perguntar quase diretamente ao vilão se ele entendeu corretamente. Por falar em vilões, os que enfrentam o novo Capitão América e companhia são todos propensos a oferecer um manual dos seus planos aos mocinhos. Mas e se pensarmos no que essa nova iniciativa contribui para o avanço do Universo Marvel? É peça importante no conjunto maior, ao menos? Somente pela menção do adamantium (liga metálica da qual os ossos do Wolverine são feitos) e nada mais. Aliás, a cena pós-créditos é a pior de todos os filmes da Marvel, pois coloca um personagem falando algo alarmante como se fosse uma novidade assustadora, mas que está dado e reiterado desde o princípio desse famigerado UCM. É um encerramento ainda mais frustrante para esse filme que de admirável tem muito pouco.
Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)
- Sesc Melhores Filmes :: Festival é encerrado após 50 edições. Novo formato está nos planos do SESC - 13 de março de 2025
- Parthenope: Os Amores de Nápoles - 13 de março de 2025
- Deu Preguiça :: Animação dublada por Heloísa Périssé e Tontom estreia em mais de 450 salas. Saiba onde assistir - 13 de março de 2025
Deixe um comentário