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Sinopse

Após ser considerado inapto para o serviço militar, Steve Rogers entra como voluntário num projeto secreto e acaba tornando-se o Capitão América. Agora um super-herói, ele se dedica a defender os ideais dos Estados Unidos.

Crítica

Durante algum tempo se cogitou a possibilidade de lançar esse filme somente com o título O Primeiro Vingador fora dos Estados Unidos pois Capitão América seria... hã... americano demais! Como se fosse fazer alguma diferença! Ele é, sim, totalmente americano. Mas qual filme de super-herói não é?Assim como todos os outros heróis das histórias em quadrinhos adaptados para a tela grande, esse aqui também defende os mesmos ideais de “justiça, paz e segurança” que qualquer Superman, Homem-Aranha, Homem de Ferro ou Batman! A diferença é que, se os outros ainda disfarçavam com um ar um pouco mais “universal” (Gotham City é uma cidade fictícia, Peter Parker é um adolescente e os X-Men vem de todos os cantos do planeta), esse aqui escancara de vez, no peito e no nome. Capitão América é o herói americano por excelência, aquele que se sacrifica em nome de um amor ou de um amigo e que prefere morrer a abdicar do que acredita. Ele é tão politicamente correto que chega a ser chato. Tal qual o filme aqui discutido.

Caso alguém ainda não saiba, Capitão América: O Primeiro Vingador faz parte de uma estratégia da Marvel para levar seus personagens mais carismáticos e famosos dos quadrinhos para a tela grande. Depois de ver algumas de suas criações serem adaptadas de qualquer jeito – vide Demolidor: O Homem sem Medo (2003), Elektra (2005), Hulk (2003) e Quarteto Fantástico (2005), só para ficarmos nos casos mais dramáticos – a poderosa editora resolveu virar também estúdio de cinema e cuidar ela mesma dessas transposições. Esse retrato mais fiel começou com o primeiro Homem de Ferro (2008), se desdobrou em O Incrível Hulk (2008)e teve novos episódios em Homem de Ferro 2 (2010) e no recente Thor (2011). Todos estão conectados com esse Capitão América, e terão seu ápice em Os Vingadores (2012), que promete colocá-los todos juntos em nome de uma única ameaça. O supergrupo Vingadores conta ainda com as participações do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner, visto rapidamente em Thor) e da Viúva Negra (personagem de Scarlett Johansson em Homem de Ferro 2). Isto claro, não resta dúvida que estamos, aqui, diante de um prólogo duplo: do personagem e também da superaventura que somente no ano que vem iremos conferir.

Capitão América: O Primeiro Vingador possui algumas qualidades, mas seus defeitos o superam tranquilamente. Primeiro, do lado de cá das câmeras. Joe Johnston, o diretor, é um artesão competente, porém nada original ou criativo. Veja alguns dos seus trabalhos mais conhecidos – O Lobisomem (2010) ou Jurassic Park 3 (2001) – sempre repletos de expectativas que nunca são cumpridas à contento. Ele mais uma vez faz o que lhe foi solicitado, mas de forma protocolar e mecânica, como se seguisse um formulário, sem ousadia nem familiaridade com o material. Chris Evans, o protagonista, é outro problema. Se como o Tocha Humana de Quarteto Fantástico ele funcionava bem, era mais por causa do tipo atraente e do bom humor constante, duas qualidades do ator que aqui ficam sublimadas. Ele está até mais forte e atlético, porém sempre sério, tenso e sem o menor carisma, resumindo-se a uma sequência de caretas que pouco contribuem. Já os efeitos especiais – prioridade número um neste tipo de produção – também não emocionam, aparecendo de forma previsível e bastante padrão. Nem mesmo o visual antes/depois do protagonista  é tão incrível assim, pois já foi visto – e com melhores resultados – em O Curioso Caso de Benjamim Button (2008).

Mas há alguns coadjuvantes interessantes, como o vilão Caveira Vermelha de Hugo Weaving (se divertindo no meio de tanta bobagem), o cientista temeroso de suas próprias criações vivido por Toby Jones ou o militar impiedoso interpretado por Tommy Lee Jones (que nasceu para esse tipo de papel). Algumas soluções do roteiro também são bem vindas, como utilizar o herói recém criado como peça de propaganda, com um visual mais infantil que remete diretamente ao desenho dos quadrinhos, assim como a relação dele com o melhor amigo – Bucky (Sebastian Stan) – bastante fiel à fonte original.

Mesmo assim, há algo que não pode ser negado: esse é um filme de época, e como tal deve ser encarado. A trama toda se passa nos anos 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. Steve Rogers (Evans) é um rapaz franzino que sonha defender seu país no campo de batalha. Após diversas recusas, um dia acaba sendo selecionado para participar de um projeto secreto que visa criar um supersoldado. A experiência dá certo com ele, mas logo se perde após a verificação dos efeitos. Assim, ao invés de um exército, tem-se apenas um homem. E impedido de partir para luta, Rogers vira uma ação de marketing. Mas isso dura pouco, até o momento em que decide partir para ação, enfrentando um maluco pior que Hitler para tentar salvar o mundo de um mal fictício ainda mais grave do que a realidade.

Capitão América não faz tudo sozinho, não fica com a moça no final e ainda termina morto. Ops, falei demais? Não, porque como todo mundo já está careca de saber, sua morte é temporária. Congelado em pleno Ártico, é encontrado 70 anos depois – para, assim, juntar-se aos já comentados Vingadores. Mas esse herói tão padrão – e ao mesmo tempo tão fora do comum – merecia algo mais criativo, e não somente um registro que funciona como nota de rodapé dentro de algo maior. Os fãs irão gostar, os curiosos terão aqui um bom material informativo e os desavisados sairão da mesma maneira que entraram, sem mais nem menos. Não há muita emoção, suspense ou incertezas. Tudo é apenas um aquecimento. E se outros já nos deixaram mais animados, dessa vez por pouco não nos provocou bocejos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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