Crítica
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Sinopse
O diretor teatral João Pedro está bastante atarefado com os ensaios de sua peça a ser encenada no ano de 1971. Nas folgas ele recebe um membro do Partido Comunista que não compreende suas opções estéticas, algo importante especialmente levando em consideração que o partido é um dos financiadores do espetáculo.
Crítica
Ugo Giorgetti é um dos grandes nomes do cinema atual, e é muito bom não somente perceber que ele segue na ativa, mas que também continua realizando filmes bastante acima da média. Seu mais recente trabalho chama-se Cara ou Coroa, uma obra de teor muito mais sério do que os títulos que o consagraram, como os irônicos Festa (1989, melhor filme no 17° Festival de Gramado) e Sábado (1995, melhor diretor pela APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte), ou os saudosos Boleiros (1998) e Boleiros 2 (2006). Ele se volta agora para o período da ditadura militar, mas com um olhar bem de acordo com o seu ofício: a visão daqueles que buscaram resistir através da expressão artística.
João Pedro (Emílio de Mello) e Getúlio (Geraldo Rodrigues) são dois irmãos que buscam no teatro uma forma de se manifestarem contra a repressão e a censura. Estamos no início dos anos 1970, e enquanto o primeiro promove essa militância de forma aberta e explosiva, envolvendo parentes e grupos de atores com montagens provocadoras, o segundo procura agir de forma mais discreta, sem atrair tanto a atenção daqueles que estão por perto. A posição de cada um é colocada em choque quando o partido os procura com uma missão: precisam esconder, por alguns dias, dois companheiros refugiados. Após refletirem, chegam – não sem antes muita discussão e debate – à conclusão de que o melhor esconderijo é o porão da casa onde a namorada do segundo vive com o avô. O problema é que este é um general do exército (Walmor Chagas, em participação eficiente), que ainda que esteja aposentado, segue com as mesmas manias e ideologias.
Cara ou Coroa apresenta diversos pontos de interesse. Há os jovens que querem gritar para quem puder ouvir, o casal em separação devido à inconstante irresponsabilidade financeira do marido, os namorados apaixonados e também aqueles que vivem à espera de que algo grande aconteça, mas que ao mesmo tempo seguem com medo de mudança. Os dois rebeldes que estão sendo procurados pela polícia representam mundos distintos: enquanto um está ciente do seu papel e da condição passageira que está vivendo, o outro vê perigo em qualquer sombra e pode colocar tudo à perder num mero deslize. Há ainda a figura forte do militar em reforma que tudo vê, mas prefere a cegueira diante dos rompantes revolucionários da neta. Assim como o título aponta, tudo parece que poderá ser solucionado num jogar de moedas, como se fosse uma mera questão de sorte o destino de todo o país.
Além de uma precisa seleção de elenco, Giorgetti apresenta neste filme um destacado cuidado técnico, que vai desde a impressionante reconstituição de época até a bela trilha sonora, que vai pontuando a ação sem exagero, mas com personalidade. Apesar do olhar proposto em Cara ou Coroa ser um tanto nostálgico e até mesmo fantasioso em alguns momentos, ele não deixa de ser bastante realista no seu todo, não se eximindo em focar além do combate, inclusive aquilo que muitas vezes preferia-se esquecer, como a ausência de maiores motivações ou o desconhecimento do que defender. Neste painel proposto há espaço para uma gama bem diversificada de personagens, desde o mais reacionário até o sonhador sem pés no chão. E quem disse que não foi com tipos como estes que o jogo se desenrolou? O importante sempre foi acreditar, e aqui podemos perceber que mesmo os menores esforços, quando no sentido certo, fizeram as maiores diferenças.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Wallace Andrioli | 6 |
MÉDIA | 6.5 |
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