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Sinopse

Nos Estados Unidos dos anos 1950, uma mulher se apaixona pela caixa de uma loja de departamentos. Uma vez enredadas num amor interditado pelas tradições tacanhas, elas precisarão lutar para viver essa sentimento intenso.

Crítica

Atrás do balcão, uma vendedora tenta acompanhar a grande movimentação de compras de Natal em uma grande loja de departamentos. Ao fundo ela enxerga uma mulher muito bonita, elegante, por volta dos seus 40 anos, perdida tentando encontrar algo que não se sabe. Os olhares se cruzam. A funcionária desvia o rosto. Mas quando volta, a figura sensual está à sua frente e a atração tem início. Todd Haynes é um cineasta conhecido por seu estilo sofisticado e sua tendência ao melodrama, tão acentuada em filmes como Velvet Goldmine (1998), Longe do Paraíso (2002) e a minissérie televisiva Mildred Pierce (2011). O caso não é diferente com Carol, produção premiada no último Festival de Cannes e aclamada pela crítica e premiações internacionais. Sempre com um tema polêmico como pano de fundo para sua fotografia envernizada, desta vez o diretor se debruça na adaptação de um livro de Patricia Highsmith para tratar de um romance lésbico em plenos anos 1950. Acima de Haynes, quem dá um show é a dupla principal: Cate Blanchett e Rooney Mara.

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A vencedora do Oscar duas vezes (atriz coadjuvante por O Aviador, 2004, e atriz por Blue Jasmine, 2013) é a Carol do título, uma mulher que está em processo de separação do marido possessivo (Kyle Chandler). Quando ela conhece Therese quando vai comprar um brinquedo para sua filha, a atração inicial logo começa a se transformar em paixão à medida em que as personagens vão se encontrando, seja para um simples almoço ou uma noite de piano em casa. É claro que o fato de ser um casal homossexual numa época em que ainda era sinônimo de doença acentua a briga judicial entre Carol e seu marido, que a acusa de desvio de comportamento.

A história é reconfigurada diversas vezes a partir do ápice da paixão de Carol e Therese. Se até então o ritmo seguia lento, muito mais focado em como se dá o processo desta história de amor, sempre com uma fotografia em que predominam tons quentes acalorados (mesmo em cenas onde o gelo toma conta da tela) e uma matiz rosa delicada, a partir do segundo momento as questões se tornam mais intensas e trágicas. Todd Haynes segue bem a cartilha de Douglas Sirk, grande nome do melodrama em Hollywood, em títulos como Palavras ao Vento (1956), e transforma qualquer acontecimento em algo intenso para seus personagens. Inclusive emulando as atuações década de ouro do cinemão norte-americano, quase fazendo com que seu elenco, em especial suas duas estrelas, evoquem o exagero daquela época.

É justamente nas interpretações que Haynes conquista ainda mais com Carol. Se a trama por si se trata de uma questão polêmica e tratada de forma sutil, mas nunca leviana, é a presença de Blanchett e Mara e a química entre as duas que mantém o interesse até o fim. A primeira vive sua dona de casa como uma mulher sexy, ativa, dona de suas convicções e atitudes perante os outros, mas frágil quando está entre quatro paredes. Lembra um pouco de sua Blue Jasmine, mas em tons menos esquizofrênicos. Já a versátil Mara deixa de lado qualquer lembrança de sua Lisbeth Salander de Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011) e entrega uma jovem contida, em constante dúvida sobre sua vida, sexualidade e sentimentos até se firmar com a paixão pela mulher mais velha. Uma se entrega à outra de diferentes formas, mesmo que, a princípio, pareça que Carol abuse de seu charme aliado à elevada classe social para obter vantagens da menina.

(L-R) ROONEY MARA and CATE BLANCHETT star in CAROL.

Com uma direção de arte e figurino que remetem a um filme realmente rodado na época em que passa, Todd Haynes consegue mesclar este aspecto clássico com um debate tão atual como o preconceito que não deixa qualquer tipo de amor ser livre. O longa tem sido apontado como um dos favoritos nas premiações deste ano, o que deve incluí-lo na corrida para o Oscar. Porém, acima disso, o cineasta prova, mais uma vez, que um roteiro ancorado no melodrama, seus mocinhos e vilões, consegue ser muito mais profundo do que se imagina quando bem filmado e bem contado. E só por este aspecto Carol já mereceria todos os aplausos que tem recebido.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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