Crítica
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Crítica
A jornada dos alunos da escola Carrossel começou ainda no século passado – no ano de 1989, para ser mais exato, em um especial da televisão mexicana. A fórmula de combinar os diferentes segmentos da sociedade em uma sala de aula acabou dando tão certo que logo em seguida a ideia já havia sido desenvolvida para um formato mais alongado de telenovela e, como consequência natural, também não tardou para ser exportada para diversos países ao redor do mundo. E como o Brasil não nega sua alma brega e pueril, era certo que por aqui tal proposta funcionaria tão bem quanto. E não apenas a exibição do produto original, mas também a refilmagem com elenco nacional (iniciada em 2012) e, por conseguinte, a versão cinematográfica da mesma (Carrossel: O Filme, de 2015). O que nos leva a esse Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina, lançado nos cinemas menos de um ano após o primeiro, resultado óbvio dos mais de 2,5 milhões de ingressos vendidos. Natural, porém não menos inspirado.
É curioso perceber como as mentes por trás da franquia Carrossel, ainda que cientes da mina de ouro que possuem, não temem assumir riscos calculados. Por exemplo, em Carrossel: O Filme eles simplesmente levaram as crianças para uma colônia de férias, ou seja, deixando o ambiente escolar de lado e ignorando uma das suas personagens mais icônicas: a Professorinha Helena (Rosanne Mulholland). Pois se arriscar parece dar certo, aventura-se ainda mais em Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina, com a inserção de uma nova vilã e, mais uma vez, mantendo o cotidiano de tarefas para casa, provas e horários de recreio à parte. Mas tudo, é evidente, sem exageros, justamente para não desagradar o público mais fiel.
A trama de Carrossel 2 não perde tempo para iniciar e entrega exatamente o que o subtítulo promete: a mimada e estrelíssima Maria Joaquina (Larissa Manoela) é sequestrada, o que obriga seus colegas a embarcarem em uma gincana improvisada atrás de pistas sobre o seu paradeiro. Os responsáveis pelo sumiço são os vilões Gonzales (Paulo Miklos, abraçando a proposta com bastante entrega) e Gonzalito (Oscar Filho, roubando a cena a cada aparição), que mesmo tendo sido presos no final da aventura anterior, já estão soltos e em busca de vingança. Mas não estão sozinhos, e além da mãe do primeiro (participação divertida de Elke Maravilha), que não tem muita certeza do que está acontecendo ao seu redor, há ainda uma outra presença misteriosa, não só no controle da operação, como ciente de tudo que se passa, tanto nos bastidores do golpe como nas atividades propostas para a turminha, que sai mais uma vez do colégio para se aventurar pelas ruas de São Paulo.
Essa contemporaneidade é um dos maiores charmes de Carrossel 2. Ainda que fique evidente ter sido feito às pressas – nada é muito aprofundado e sem questionamentos, enquanto que o próprio desenrolar dos acontecimentos não toma mais do que algumas horas dos personagens – os perigos enfrentados pelos protagonistas em nenhum momento chegam a ser realmente preocupantes, ao mesmo tempo em que cada novo desafio que lhes é proposto estimula diferentes percepções, como na caça ao tesouro em pleno Parque Ibirapuera, o disputado jogo de futebol de salão, as lidas culinárias (em tempos de MasterChef Junior, tal proposta parece bem apropriada) e até o duelo de sumô, que mesmo sendo o mais sério à princípio, não chega a representar um risco verdadeiro, com soluções engenhosas e bem apropriadas ao público ao qual a narrativa se dirige.
Por outro lado, chega a ser curioso constatar que o elo fraco do elenco é mesmo Helena, presente em uma Mulholland quase inadequada. Musa de cineastas ousados como José Eduardo Belmonte e Carlos Reichenbach, ela até pode se ocupar na telinha com os pequenos, mas diante de algo mais ambicioso lhe falta conteúdo e postura para oferecer uma presença mais envolvente, mantendo-se apagada a maior parte do tempo. Sua contrapartida é a cantora pop Didi Mel, vivida pela onipresente Miá Mello (este é o terceiro dos quatro filmes que a atriz participou neste ano). Como a melhor amiga da professora que trilhou caminhos bem distintos da ex-colega, ela compõe um tipo enigmático e, talvez por isso mesmo, mais interessante. Nada que chegue a representar um enigma, mas o carisma da intérprete é suficiente para que o espectador fique atento às suas ações, independente do lado em que se posicione.
Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina não é nenhum marco na produção nacional e nem deverá mudar a vida de ninguém. Porém, serve com eficiência ao que se propõe: entreter com competência e agilidade. Com um grupo jovem coeso – destaque para Larissa Manoela, Maísa Silva e japonês Matheus Ueta – que funcionam bem em conjunto e também individualmente, com personalidades bem definidas e funções distintas, tem-se aqui um produto assumidamente comercial, e felizmente sem vergonha de se assumir como tal. Reflexo de uma indústria em crescimento, que atende a um propósito bastante específico e com sotaque verde e amarelo. Ainda que o mesmo e seus desdobramentos sejam esquecidos junto com o acender das luzes ao final da sessão.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 4 |
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