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Sinopse

​Laéssio Rodrigues de Oliveira é considerado pelas autoridades o maior ladrão de livros raros do Brasil. Não é uma trajetória comum a do jovem balconista de padaria, obcecado por papéis antigos, que passa a frequentar altas rodas de colecionadores de arte e, depois, os cadernos policiais. Mas a decisão de contar essa história gera dilemas para os quais nem Laéssio, nem o próprio documentário, estavam preparados. Ainda que por caminhos tortos, Laéssio evidencia a necessidade de o Brasil cuidar de sua própria história.​

Crítica

A história de Laéssio Rodrigues de Oliveira foi curiosa o suficiente para despertar a atenção dos cineastas Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini, que resolveram contar a vida do homem conhecido como um dos maiores ladrões de livros raros do Brasil. Ao assistir a Cartas para um Ladrão de Livros é possível entender o que interessou os diretores. A trajetória do cinebiografado, assim como sua eloquência ao contá-la, é material mais do que suficiente para um bom documentário. O mesmo não pensam, claro, as vítimas dos seus crimes que, segundo o próprio filme, através de recortes de jornal, se mostraram incrédulos com o fato daquele homem ser retratado no cinema. Talvez por serem também jornalistas, os realizadores não se esquivam dessas questões e pontuam o filme com depoimentos de figuras contrárias ao retratado, dando um maior escopo à obra.

Com quatro passagens pela cadeia (a quinta sendo cumprida no momento do lançamento do filme no Festival do Rio), Laéssio começou sua vida de crimes através de uma paixão por Carmen Miranda. Depois de ter conhecido a obra da brazillian bombshell, resolveu colecionar qualquer coisa em que pudesse colocar as mãos a respeito da artista. Com dinheiro curto, não conseguia comprar tudo o que achava de seu ídolo. Passou a roubar. Seu primeiro furto foi uma revista com Miranda na capa, publicada nos anos de 1940, surrupiada do Museu da Imagem e Som de São Paulo. Com o tempo, os roubos foram ficando mais sofisticados, com o larápio se valendo de brechas de segurança de museus e bibliotecas, se fazendo passar por pesquisador, para levantar materiais mais raros. A venda destas peças o permitiu comprar um carro de luxo, roupas caras, um bom apartamento e sustentar uma vida, ao lado de seu marido, mais confortável.

Longe de ser uma mente brilhante do crime, Laéssio é uma figura impulsionada por desejos de fama e destaque. Para ele, nada pior do que passar a vida sem ter qualquer momento de brilho. Cartas para um Ladrão de Livros pode fechar esse ciclo para o retratado, visto que sua história sai das colunas policiais para os cadernos de cultura, para os cinemas e festivais. Teria ele imaginado que algum dia viria a ser a estrela de seu próprio filme? De imaginação fértil, talvez tenha, sim, pensado na hipótese.

Carlos Juliano Barros costura as histórias do protagonista com as cartas que eles trocaram em suas diversas idas à cadeia. O documentário, inclusive, teve de ficar um tempo em hiato devido a uma prisão inesperada de Laéssio. As missivas funcionam para contextualizar alguns pontos da trajetória do retratado, nos colocando dentro de sua cabeça – e também explicando o longo caminho pelo qual essa história passou para ser contada. Como dito anteriormente, os diretores entrevistam figuras que passaram pela vida dele e não têm naquele homem suas melhores lembranças. Desde um antigo amigo que fazia performances como Carmen Miranda (e que se mostra visivelmente desconfortável por vê-lo ser protagonista de um filme), passando por bibliotecários e responsáveis por grandes acervos pilhados pelo bandido.

O protagonista de Cartas para um Ladrão de Livros se mostra muito confortável com seu passado e não exibe qualquer tipo de arrependimento pelos seus atos, o que é interessante dado os anos que passou na cadeia. “Liberdade sem dinheiro é um tipo de prisão”, reflete. Com sua lábia e Inteligência, tirou vantagem de cada passagem que teve atrás das grades. Seja pedindo indultos para seus colegas ou denunciando guardas por maus tratos, Laéssio é alguém que se vira bem dentro da cadeia. Uma figura curiosíssima, dono de atitudes muito questionáveis, que termina por envolver o espectador em um documentário muito bem amarrado pela dupla de realizadores.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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