Crítica
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Sinopse
Xiclet é uma artista plástica capixaba que se estabeleceu em São Paulo no início dos anos 2000 e, desde então, transformou a casa onde mora em um espaço público, voltado para a divulgação de artistas que ficam de fora do grande circuito das artes. Além de artista e galerista, Xiclet é uma provocadora incansável do “status quo”.
Crítica
Existe um reconhecível carinho no olhar que a diretora Sofia Amaral lança sobre Adriana Duarte, mais conhecida como Xiclet. Artista plástica capixaba, galerista nada convencional, ela é registrada como uma bem-vinda e bissexta anomalia no cerne de um mundo elitizado, dominado por marchands, em que a arte tornou-se mercadoria de valor considerável. Ainda nesse sentido, a casa onde ela mora, em São Paulo, é um espaço tão plural quanto democrático. Lá não apenas se expõe obras, mas também se vivencia um processo de troca profissional e humana. Casa da Xiclet apresenta uma saída possível, exaltando ambientes de resistência como o capitaneado pela mulher de fraseado inteligente, porém sem afetação. Todavia, há problemas persistentes. Primeiro, a curta duração, que provoca uma sensação de superficialidade, e, segundo, a falta de foco.
Casa da Xiclet tenta dar conta de muita coisa em pouco tempo. Isso fica evidente nos depoimentos apressados de figuras relevantes, como o da cartunista Laerte Coutinho. Não há, portanto, espaço para uma investigação complexa sobre o funcionamento da casa, o tema inicial do documentário. Embora seja eficiente no que tange ao seu caráter meramente informativo, e que nos instigue a descobrir mais acerca desse lugar em que o curador é abolido, no qual imprescindível é apresentar trabalhos, sendo, então, secundário comercializá-los, o filme é combalido por uma necessidade de abrangência incompatível com sua natureza de média-metragem. Ao invés de concentrar-se num ponto específico, a realizadora prefere colocar outros componentes em jogo, como o âmbito pessoal de Xiclet, mais especificamente a relação com a família, a vida acadêmica no Espírito Santo e os laços com colegas admiráveis.
Da metade em diante, Casa da Xiclet deixa de ser um filme concentrado na casa, deslocando seu interesse a Xiclet. Acompanhamo-la numa volta para casa, em Linhares, no interior do Espírito Santo. Ali, são colhidos depoimentos da mãe e das irmãs, falas que dão conta de uma diferença considerável entre as expectativas domésticas e a realização de Adriana. Todavia, novamente, a pressa se encarrega de esmaecer consideravelmente as ressonâncias desses momentos potencialmente substanciais. A conversa com Nelson Leirner, considerado uma espécie de guru por Xiclet, igualmente é rica, mas célere, deixando um gosto amargo de insuficiência. É esse anseio por abraçar os diversos vieses, tanto do espaço artístico quanto e, principalmente, da idealizadora e administradora da Casa da Xiclet, que restringe o alcance dramático do filme, reduzindo-o a um passei descompromissado por uma trajetória fascinante.
Em meio a esse percurso acidentado, marcado por uma progressão em desabalada carreira, há um competente enfoque de pontos e traços suficientemente marcantes para que nos sintamos impelidos a procurar mais a respeito de Xiclet e da sua casa transformada em galeria comunitária. Sofia Amaral adiciona mais um deslocamento ao filme – com isso adensando a dispersão – quando mostra a protagonista no Rio de Janeiro, mais precisamente na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. A força de Casa da Xiclet, assim sendo, reside na retórica ferina de Xiclet, na valorização de um estilo de vida completamente voltado à arte e às interações humanas dela decorrentes. A intenção da cineasta é mais demonstrativa que propriamente investigativa, haja vista a ausência de mergulhos mais profundos nas searas identificadas e o privilégio aos vários depoimentos que louvam Xiclet como foco de resistência aos ditames do status quo.
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Marcelo, adorei sua crítica perfeita. é isso mesmo. tudo ao mesmo tempo agora da caráter de superficialidade. mas né não kkkk. obrigada. Xiclet