Crítica
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Sinopse
Sônia e Hugo são da alta burguesia carioca e levam uma vida bastante confortável. Aos poucos vão à falência, mas ninguém sabe de seus problemas financeiros, nem mesmo o filho Jean, que faz de tudo para se desvencilhar dos pais superprotetores. Para se manter, o casal corta despesas e ele, que só se preocupava com garotas e vestibular, enfrenta pela primeira vez a realidade.
Crítica
Quando o sociólogo Gilberto Freyre lançou, em 1933, o livro Casa-Grande & Senzala, tinha como objetivo ressaltar a importância da casa dos senhores na formação sociocultural brasileira, assim como a distância que mantinha do lugar onde os escravos ficavam e as intrínsecas relações que se desenvolviam entre as duas, sem as quais o Brasil de hoje – ou daquela época – jamais existira como tal. Pois o que Fellipe Barbosa, mais de 80 anos depois, faz em Casa Grande, tem uma conotação mais íntima e pessoal, porém não de menor impacto. Afinal, ele está falando aqui de um assunto sobre o qual possui propriedade, ainda que faça uso de um justo e necessário distanciamento: a falência do sistema social mais tradicional e o fim das barreiras entre estes dois extremos.
A vida de Jean (Thales Cavalcanti, em seu trabalho de estreia) está ruindo, porém as mudanças lhes surgem sutis, e será por isso que levará algum tempo para que perceba o que se passa ao seu redor. Na bela mansão na zona sul do Rio de Janeiro onde mora com seus pais – um empresário e uma dona de casa – e a irmã menor, ele aos poucos começa a sentir as diferenças. É um empregado dispensado, é a ida ao colégio que ao invés de ser com motorista particular passa a ser com ônibus público, é o dinheiro que falta para uma saída com os amigos. Coisas pequenas, mas que somadas criam um quadro com o qual ele – e nem seus familiares – estão acostumados. Como agir – ou seria melhor reagir? – dentro desta nova realidade?
Fellipe Barbosa foi filho de uma elite decadente, que viu ruir suas expectativas em manter o mesmo status quo para as gerações seguintes. Só que ele saiu de casa antes da quebra, foi estudar cinema nos Estados Unidos e acabou sendo preservado, de um modo ou de outro, da nova condição que tomava conta de sua família. Quando ficou a par dos fatos, o choque foi tão intenso – afinal, era algo pelo qual não esperava – quanto estranho – pois sua vida já havia mudado neste ínterim, e o que havia deixado lá atrás não lhe fazia mais falta. Jean, o personagem, é um pouco Fellipe. Mas um é ficção, e o outro é criador. Um está no outro, mas como base, e não complemento. Foi uma forma de expiar o drama familiar, mas sob a forma de manifestação artística, em uma análise que não poderia ser lida como isolada. Muitos brasileiros de norte a sul experimentaram – e ainda experimentam – a mesma situação, dia após dia.
Casa Grande, ou A Balada do Pobre Jean, é uma obra surpreendentemente madura para um realizador tão jovem. Este é o primeiro longa de ficção de Barbosa, que antes havia entregue o documentário Laura (2011) e participado pontualmente do projeto coletivo Rio, Eu Te Amo (2014). Com bastante sensibilidade e sem exagerar nos pontos mais condenatórios – nos compadecemos até mesmo daqueles que poderiam ser apontados como ‘culpados’, pois todos possuem suas razões e nada aqui é gratuito – ele consegue atingir um discurso muito próprio, que permite que seus personagens se desenvolvam sem pressa nem atropelo, proporcionando as condições necessárias para que cada reviravolta surja naturalmente. O afastamento dos pais, a visão pelo outro lado das coisas, a inversão dos papéis: tudo está ali, com cada movimento no seu devido tempo e lugar.
Premiado nos festivais de Paulínia, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Recife, Casa Grande foi exibido com sucesso também no exterior, onde ganhou prêmios da crítica e do público em mostras e competições na França (Toulouse) e em Portugal (Santa Maria da Feira), entre outros. E ainda que por momentos – seja pelo entrelaçamento dos diversos personagens ou pela ambientação da trama – nos remeta ao excelente O Som ao Redor (2013), este é um filme que se mantém em pé com suas próprias pernas, graças ao talento inequívoco do seu realizador, um jovem que sabe observar, analisar e traduzir em linguagem cinematográfica com eficiência uma realidade que parece distante, mas que pode – e está – muito mais próxima do que imaginamos – e que gostaríamos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Marcelo Müller | 8 |
Francisco Carbone | 9 |
Wallace Andrioli | 8 |
Edu Fernandes | 9 |
Roberto Cunha | 9 |
Chico Fireman | 8 |
MÉDIA | 8.4 |
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