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Sinopse

Inteligente, sofisticada e talentosa, Charlotte Field é uma diplomata com um talento para quase tudo. Fred Flarsky, por sua vez, é um bom jornalista, porém com tendência autodestrutiva. Os dois não têm nada em comum, exceto que ela era sua babá e foi sua primeira paixão. Enquanto se prepara para concorrer à Presidência, Charlotte impulsivamente contrata Fred como seu redator de discursos, para o desânimo de seus conselheiros de confiança.

Crítica

Poucos discordam que Charlize Theron é uma das mulheres mais lindas do cinema atual. Da mesma forma, Seth Rogen tem construído sua carreira se apoiando mais no humor do que nos seus atributos físicos. Por isso mesmo, a ideia de colocá-los como um par romântico não é das mais óbvias. É nessa estranheza, portanto, em que a comédia Casal Improvável deposita a maior parte das suas fichas. E ainda que o diretor Jonathan Levine e os roteiristas Dan Sterling e Liz Hannah se esforcem para irem além disso, pouco conseguem no sentido de superar esta expectativa inicial. Ou seja, apenas o suficiente para que seu filme escape do ostracismo mais previsível.

E se é para investir no absurdo, que este seja assumido sem ressalvas. Essa coragem se percebe na premissa de Casal Improvável: a personagem de Theron, mesmo sendo apenas 3 anos mais velha que Rogen, foi, na adolescência, babá dele. É curioso – e um tanto sem sentido – terem diminuído este intervalo etário entre os dois quando, na verdade, ambos possuem uma diferença de 7 anos – ela nasceu em 1975 e ele em 1982. A ligação ficcional serve, no entanto, como ponto de partida para que possam se reconectar mais de duas décadas depois, quando se encontram em posições bem distintas: ela em plena campanha para a presidência da república, enquanto que ele acaba de se demitir – o jornal pequeno e independente em que trabalhava foi adquirido por um grande conglomerado, e como discorda destas práticas predatórias, opta por se retirar ao invés de se submeter às regras do jogo.

Essa, na verdade, parece ser a maior questão do longa de Jonathan Levine (o mesmo do interessante 50%, 2011, e do constrangedor Viagem das Loucas, 2017): até que ponto estamos dispostos a ceder em nome de um interesse em comum? Fred Flarsky (Rogen) é daqueles caras que se acreditam donos da verdade e nunca parecem dispostos a ceder, esquecendo que, muitas vezes, outros compromissos e responsabilidades podem falar mais alto. Quando se reencontram, Charlotte Field (Theron) decide contratá-lo como redator dos seus discursos. A convivência os aproxima, a ponto do flerte iniciado tantos anos antes se desenrolar em uma nova paixão. Só que ela almeja ser a primeira mulher a assumir o comando da nação, enquanto que ele está longe de ter o perfil que se encaixaria nas pesquisas de preferências do eleitorado. Quando um vídeo de cunho sexual ameaça vazar na internet, se veem em uma encruzilhada: seguem o sentimento que estão vivendo ou assumem um sacrifício em nome de uma conquista há tanto almejada?

Um dos tropeços mais evidentes da produção é o excesso de personagens, principalmente entre os coadjuvantes. Lance (O’Shea Jackson Jr., de Godzilla II: Rei dos Monstros, 2019) e Maggie (June Diane Raphael, de Grace and Frankie, 2015-) funcionam bem como suporte dos protagonistas, ele como o amigo sem noção, ela como a auxiliar sempre direta em suas observações. Os diálogos ganham com as participações de ambos, e o conjunto se eleva cada vez que estão em cena. O contrário do que se percebe com as interferências de Bob Odenkirk (o presidente), Alexander Skarsgard (o primeiro ministro canadense) e, principalmente, de Andy Serkis (sob forte maquiagem como o empresário Wembley). O primeiro é uma nítida crítica ao atual cenário político norte-americano (o chapéu serve também ao Brasil), enquanto que o segundo se mostra visivelmente deslocado como um tipo que evidencia sua falta de versatilidade. Já o terceiro mais distrai, principalmente por assumir uma subtrama própria, do que acrescenta algo de interessante.

Sem ser engraçado a ponto de beirar o deboche – a graça vem quase que exclusivamente da inadequação do personagem de Rogen ao universo proposto pela namorada – e nem demasiadamente sexy – Theron continua estonteante, mas mesmo as interações entre eles são controladas, sem abusar na ousadia – Casal Improvável peca, ainda, por uma edição um tanto preguiçosa – são mais de duas horas de projeção, para uma trama que poderia ser resolvida facilmente com 30 ou 40 minutos a menos. Falta foco, entre os dilemas enfrentados pelos personagens principais, já divididos entre a intimidade que desfrutam – surpreendentemente, os dois possuem boa química juntos – e a imagem pública que tentam defender. Assim, entre mortos e feridos, temos algo digno de nota, ainda que aquém do potencial apresentado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
6
Daniel Oliveira
5
MÉDIA
5.5

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