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Sinopse

Darcy e Tom reúnem suas famílias num local especializado em casamentos. Mas, eles não contavam com o receio crescente em relação ao evento e à própria ideia da união. É quando a vida dos convidados corre perigo.

Crítica

Este não é o primeiro, nem mesmo o segundo, mas o terceiro filme com Jennifer Lopez cujo enlace amoroso entre os protagonistas ganha destaque até mesmo no título. Após O Casamento dos Meus Sonhos (2001) e Case Comigo (2022), o lançamento de Casamento Armado é mais do que suficiente para apontar uma certa fixação da atriz com o tema – e isso que estamos ignorando outros projetos cuja ação se dava nos mesmos cenários, como A Sogra (2005) e Plano B (2010), além de uma infinidade de comédias românticas similares. O que muda, dessa vez, nem é tanto a cerimônia em si – felizmente, pois é uma alteração sutil, ainda que bem-vinda – mas o que acontece aos noivos (e aos seus convidados) quando o improvável acontece. Ou seja, em todos esses outros longas, o cerne dos acontecimentos era a descoberta do amor e a decisão (ou não) de duas pessoas em passar o resto dos seus dias juntos. Dessa vez, porém, por mais que a mesma dúvida permaneça, ela é relegada a um segundo plano. Afinal, mesmo com o “casamento” ainda em debate, é no “armado” em que se concentra a maior parte das atenções. É o tipo de desvio que garante uma atenção renovada – mais do que o romance, está na ação o interesse maior – ainda que essa não consiga se sustentar por muito tempo.

Darcy e Tom (JLo e Josh Duhamel, que até funcionam bem juntos, seja pelo porte atlético dele ou pelas curvas sinuosas dela, garantindo uma interação ao mesmo tempo sexy e engraçada, visto que ambos também sabem fazer uso de insuspeitas veias cômicas quando necessárias) decidem celebrar sua união em uma ilha paradisíaca no meio do oceano. Parecia o cenário perfeito para o início de uma vida a dois, mas tudo vem abaixo quando o local é tomado por piratas que exigem um resgate milionários para liberar não apenas os noivos, mas também seus amigos e familiares, com vida. A questão é que a chegada dos bandidos se dá no meio de uma discussão do casal, que está afastado dos convidados. Dessa forma, enquanto os demais se encontram sob a mira de metralhadoras e granadas, os namorados debatem se ainda se amam e o quão preparados estão para dar tão importante passo. Não irá demorar, porém, até perceberem que há assuntos mais urgentes a serem tratados – como a sobrevivência deles – e, assim, terão que unir forças para não apenas saírem vivos, mas também para eliminar o perigo que ameaça acabar com a festa tão esperada.

Um leitor mais apressado poderia acusar o autor desse texto de etarismo, mas a discussão quanto às idades dos intérpretes se faz importante não apenas pela mudança de paradigma, mas pelo modo como seus personagens se comportam. Setenta anos atrás, uma estrela de 50 anos aparecia em cena para dar vida a uma figura já relegada ao ostracismo, como se não houvesse mais oportunidades válidas a alguém dessa idade (Crepúsculo dos Deuses, 1950). Porém, o tempo passou, e hoje temos Lopez (nascida em 1969) e Duhamel (de 1972) tendo discussões como se fossem jovens prestes a dar um passo importante no início de suas vidas, e não como dois adultos de meia idade que certamente já passaram por outros relacionamentos tão (ou mais) importantes quanto o que agora estão se propondo. Para completar o cenário, há ainda o ex-namorado dela, vivido por Lenny Kravitz (prestes a completar 60 anos, pois nasceu em 1964), um tipo que disfarça ataques de ciúmes ao mesmo tempo em que possui uma agenda particular de interesses para se fazer presente e tentar sabotar o enlace dos dois. Seria ao menos estranho, não fossem as atitudes infantis capazes de conduzir não apenas a trama, mas também as atenções da audiência. No final das contas, é tudo tão anacrônico que nem como sátira pode ser encarado.

Por outro lado, quando o diretor Jason Moore (que acertou em A Escolha Perfeita, 2012, mas derrapou com o insosso Irmãs, 2015) e o roteirista Mark Hammer (que não escrevia nada desde o discreto Apenas Duas Noites, 2014, de quase uma década atrás) resolvem abandonar o discurso romântico e abraçam a comédia física, seja pelas interações entre os protagonistas ou mesmo nas poucas oportunidades concedidas aos coadjuvantes, o conjunto chega a ganhar algum fôlego. No elenco de apoio, nomes como Jennifer Coolidge (em alta mais do que nunca após o sucesso da série The White Lotus, 2021-2022), repetindo pela enésima vez – e com o efeito de sempre – a figura sem noção que a tornou famosa, é um dos destaques. Assim como a nossa Sonia Braga (mais uma vez aparecendo como a mãe de JLo, após o drama Olhar de Anjo, 2001), que acaba tendo duas ou três falas de maior impacto, sem uma oportunidade sólida para justificar sua presença. Ou mesmo a desenvolta D’Arcy Carden, hilária em The Good Place (2016-2020), mas sem muito o que dizer além de um ou outro momento mais ao final, quando consegue quebrar as expectativas a seu respeito. Juntas, se mostram capazes de voos mais altos do que aqueles que lhes são permitidos.

Dessa forma, Casamento Armado falha miseravelmente por não confiar no conjunto reunido, se mostrando como uma tentativa frustrada de veículo para o estrelato único e exclusivo dos dois rostos que estampam o cartaz. O problema é que ambos já exploraram essas figuras tantas vezes antes – ela como a garota nem um pouco indefesa pronta para ir à luta quando necessário, ele o herói atrapalhado capaz de grandes feitos mesmo quando ninguém parece acreditar no seu potencial – e, mesmo assim, seguem batendo na mesma tecla, indiferentes ao passar do tempo (e do desgaste que tamanha repetição proporciona). Alguns diálogos são inspirados, certas soluções podem soar inesperadas e mesmo o desfecho, por mais óbvio que se apresente, é suficiente para garantir o “e viveram felizes para sempre”. Porém, inevitável mesmo é intuir, durante os créditos finais, quando todos os atores aparecem reunidos cantando e dançando, que eles certamente se divertiram mais do que os espectadores que, após muito esforço, conseguiram chegar ao final. Quando o lado de lá da tela se mostra mais atraente do que o sentimento alcançado no sofá, não há dúvidas sobre quem está ostentando o nariz de palhaço no final das contas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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