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Sinopse

Michelle e Allen já estão firmes no namoro, ao ponto de seus pais se conhecerem. No entanto, a confusão está montada quando os pais percebem que cada cônjuge tem um caso conjugal com o outro. E aí, como conciliar isso?

Crítica

Não há mistério quanto ao que esperar de Casamento em Família, longa que marca a (tardia) estreia como diretor e roteirista de Michael Jacobs, um experiente profissional que há mais de quarenta anos atua em Hollywood – cujo maior mérito foi a indicação que recebeu como Melhor Filme no Oscar por Quiz Show: A Verdade dos Bastidores (1994). Porém, se esse era um longa que se desenvolvia pelas entrelinhas, com segredos e mentiras sendo revelados somente com o avanço da história, nesse seu primeiro projeto solo o cineasta deixa de lado esse entendimento e parte para um jogo mais aberto, quase escancarado. Tamanha franqueza encontra barreiras ao longo do caminho, mas talvez a maior delas seja a incapacidade dos atores em levar a sério as próprias falas que deveriam defender, tornando evidente a farsa que conduzem, não apenas enquanto ficção, mas mesmo como produto de entretenimento. É tudo tão falso que raro será o espectador que conseguir embarcar nessa canoa furada.

Com cerca de 90 minutos de duração, é exatamente na metade de sua trama em que acontece a sequência central de eventos que, de uma forma ou de outra, acaba justificando uma maior curiosidade em relação a esse projeto. Afinal, assim como o pôster de divulgação já adianta, são apenas seis atores no elenco, formando três casais. Todos atravessam momentos distintos de crise: Michelle (Emma Roberts) e Allen (Luke Bracey) são os namorados de anos indecisos se devem ou não se casar; Grace (Diane Keaton) e Howard (Richard Gere), os pais dela, estão buscando forças para reacender o amor que uma vez os uniu; e Sam (William H. Macy) e Monica (Susan Sarandon), os pais dele, formam a dupla que não mais encontra motivos para permanecer junta, procurando razões, por sua vez, que talvez expliquem o por quê de ainda não terem cada um seguido seu próprio rumo.

Acontece que, durante a metade inicial, os casais maduros são apresentados de forma trocada, fortalecendo uma suposta confusão que não irá se sustentar por muito tempo. Grace e Sam estão sozinhos num cinema, cada um sentado no seu canto, e será essa solidão que terminará por aproximá-los. Após se abrirem e muito conversarem, expondo sentimentos que acreditavam estarem enterrados, se sentirão, enfim, ouvidos e compreendidos. É uma ligação voltada mais à carência que atravessam e menos a um desejo puramente carnal. Ao mesmo tempo, Howard e Monica estão num quarto de hotel, ela fogosa para cima dele, enquanto o homem se pergunta o que está fazendo ali, longe da própria esposa. No final da noite, cada um irá para o seu lado: os primeiros se sentindo amados, mesmo que por instantes, ao passo que os segundos movidos mais pela culpa e por um sentimento de vingança.

O imbróglio tem início quando, durante uma festa de casamento de amigos, Allen fica em pânico ao se dar conta de que provavelmente será o próximo a subir no altar. Assim, sem saber o que fazer, desajeitadamente se atira na frente da namorada de anos para impedi-la de apanhar o buquê atirado pela noiva, como se esse gesto banal fosse capaz de apagar as aspirações da garota. Como fica claro o medo dele, Michelle terá que colocá-lo contra a parede: ou se casam, ou terminam de vez. Como chega a declarar, tudo o que viveram até aquele momento era visto por ela como um caminho rumo a algum lugar; enquanto que, para o rapaz, era só uma situação cômoda, sem ter para onde ir e nem porque mudar. Por mais que o visual hollywoodiano da dupla busque uma jovialidade artificial, o fato é que ambos já passaram dos 30, e soa um tanto anacrônico vê-los discutindo questões “para a toda a vida”, exaltando uma inocência que cabe mais aos que estão dando a recém os primeiros passos em suas jornadas românticas, e não pessoas com experiências acumuladas.

Porém, no final das contas, Casamento em Família acaba falhando miseravelmente em seu intento de estimular uma (rasa) reflexão a respeito de estruturas familiares e expectativas românticas mais realistas pela inabilidade do diretor em lidar com seu elenco. Richard Gere e Luke Bracey dão a impressão de estarem a um passo de caírem na risada, tamanha é a artificialidade dos conflitos que os envolvem. Diane Keaton chegou ao set e se posicionou diante das câmeras exatamente como tem se portado nas últimas décadas, num misto de estranhamento com desconforto. Susan Sarandon deve ter aceitado o convite apenas pela oportunidade de anunciar uma série de frases de efeito, enquanto que Emma Roberts e William H. Macy são os únicos que demonstram algum tipo de preocupação com o universo ficcional ao qual estão inseridos. O sentimento de repeteco também é forte por serem nomes que volta e meia estão juntos. Sarandon já fez par com todos os principais: Keaton (O Casamento do Ano, 2013), Gere (A Negociação, 2012), e Macy (O Cliente, 1994). Já Roberts e Bracey estão revivendo o mesmo par romântico do recente Amor com Data Marcada (2020). Nada de novo no horizonte, como se pode ver. Nem por detrás, e menos ainda diante das câmeras.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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