Crítica
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Sinopse
As aventuras amorosas e a convivência de Casanova com a nobreza do século 18.
Crítica
Em nossa maratona cinematográfica atual, estamos acostumados a privilegiar sempre a última bobagem a chegar às telas ao invés de investir nos clássicos, naquelas obras que deram origem a tudo que temos ao nosso redor nos dias de hoje. São os títulos de formação, que muitos comentam, mas poucos de fato os viram e podem discorrer a respeito. Por isso que é bom, vez que outra, dar uma parada estratégica e olhar para trás, analisar com cuidado um título que talvez tenha ficado esquecido por um tempo, mas nunca ignorado. Nem sempre temos a oportunidade de nos confrontarmos com o trabalho de um gênio, que é o que acontece cada vez que nos deleitamos com qualquer peça assinada pelo maestro Federico Fellini. E com o fenomenal Casanova de Fellini a sensação mais uma vez se repete.
Se para muitos nos dias de hoje o cinema de Fellini é um desconhecido, este filme se colocaria como uma porta de entrada ousada e radical, mas nunca mais do que impressionante e convidativa. Há muito a ser dito sobre A Doce Vida (1960) – talvez a sua obra mais imortal – e há os mais nostálgicos que podem se derreter por outros trabalhos não menos impactantes, como Amarcord (1973) ou mesmo algumas de suas primeiras ousadias, como o belo e singelo A Estrada da Vida (1954). São todos títulos irretocáveis, e que se colocam lado a lado com este verdadeiro marco da sétima arte, um longa inovador desde sua concepção e totalmente revolucionário diante os moldes em que se apresenta. Fellini se debruçou sobre um personagem que era de domínio universal e o fez tão seu que sua unicidade só pode ser celebrada.
O Casanova apresentado pelo cineasta italiano nos conduz por uma viagem tão grande que somente aqueles que se atirarem de cabeça nesse mundo louco e inesperado poderão desfrutá-la à contento. Filmado totalmente dentro dos estúdios da Cinecittá, em Roma, o filme é um perfeito exemplo de trabalho anti-naturalista e teatral. Com um roteiro baseado em autobiografias escritas pelo próprio Giácomo Casanova e estruturado de modo episódico (num formato muitas vezes explorado por Fellini), por nenhum momento se exime de apresentar tipos bizarros e absurdos (outra característica do diretor) para extrair do seu elenco – e, conseqüentemente, de sua audiência – emoções que irão aflorar incontrolavelmente (de modo similar como se sucedia em quase toda a sua obra). Ou seja, é o melhor do cinema felliniano, que aproveita a história desse célebre conquistador amoroso, acompanhando-o desde sua prisão na tenra idade até a morte, já velho, para revelar ao mundo a visão de mundo de um mestre (Fellini, é claro) acima de qualquer suspeita.
Casanova de Fellini é um clássico que não envelheceu, e ainda hoje é eficiente em suas intenções e alucinações. Celebrado em todo o mundo, foi indicado a dois Oscars – Melhor Roteiro Adaptado e Figurino – levando a estatueta nesse último quesito. Sinal de que não fala apenas com plateias específicas e que seu apelo é, comprovadamente, global. Um filme perfeito, de gênio e genial, que felizmente se mantém em tão boa forma como em quando foi exibido pela primeira vez, em 1976, quase quarenta anos atrás. É uma oportunidade rara de termos uma aula de cinema e de história ao alcance de quem se reconhecer sábio o suficiente para desfrutá-la.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 9 |
Chico Fireman | 7 |
Ailton Monteiro | 9 |
MÉDIA | 8.3 |
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