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Sinopse

Kat Valdez e Bastian formam o casal mais famoso da música pop. Eles acabam de lançar um hit chamado Marry Me, e planejam se casar num grande evento ao vivo, diante dos fãs. No entanto, poucos minutos antes de trocarem alianças, Kat descobre que Bastian a traiu. Ela tem uma crise sobre o palco e toma uma decisão inesperada: se casar com um fã qualquer presente na multidão.

Crítica

Durante o período de premiações de dois anos atrás, Jennifer Lopez chegou a ser apontada como uma das favoritas ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por sua performance em As Golpistas (2019), trabalho que lhe rendeu indicações ao Globo de Ouro, Critics Choice, SAG, Sociedade Nacional dos Críticos, Independent Spirit e cerca de uma dezena de reconhecimentos junto às associações críticas regionais por todos os Estados Unidos. No entanto, quando as finalistas ao prêmio da Academia foram, enfim, anunciadas, não só se viu de fora da seleção, como também estampou todas as matérias a respeito como a maior decepção da temporada. O que fez, então? Ao invés de ficar se lamuriando, esperou o tempo protocolar para se recompor – estendido graças a uma pandemia mundial – e decidiu voltar às origens, fazendo o que sabe melhor, sem se arriscar e com retorno garantido. O resultado é esse Case Comigo, comédia romântica produzida pela própria na qual interpreta uma personagem bastante próxima da sua persona. Assim, ao espectador são dadas duas opções: se divertir com a fantasia ou se entreter com os possíveis paralelos entre a ficção com a realidade. De um modo ou de outro, nada é muito revolucionário, ainda que esteja, também, longe de maiores constrangimentos.

Kat (Lopez, envergando com habilidade uma figura com a qual se acostumou ao longo de sua carreira, de simpatia e empoderamento) é uma das maiores superstars do música pop mundial. Sua popularidade aumentou ainda mais quando engatou uma relação com outro astro de igual estatura, o cantor-sensação Bastian (Maluma, o colombiano conquistador que já pegou de Anitta à Madonna, aqui estreando no cinema também sem assumir riscos, oferecendo uma versão de si mesmo). O público shippa o casal, e o romance acaba adquirindo tamanha proporção a ponto de anunciarem uma cerimônia de troca de anéis pública, no meio de um concerto da dupla. É festa, claro, mas também um imenso golpe publicitário. Assim como o filme em questão. Afinal, por mais que JLo esteja oferecendo aos fãs um lado cândido da figura que a tornou famosa, a mocinha que sofre por amor, mas é recompensada no final, nada do que é exibido em cena chega a ser minimamente inovador – ou mesmo inédito. A estrela tem tantos títulos similares em sua filmografia, que o maior desafio desse projeto talvez seja identificar qualquer pingo de originalidade.

Eis, que então, surge a constatação: nada aqui deve, enfim, ser... novo. A ideia é justamente essa: mais do mesmo, mas com tanto esmero e sofisticação, que reluza como ouro, por mais que o metal por baixo de tanto brilho enferruja após o primeiro banho de chuva. Quando Kat descobre, instantes antes de proferir o aguardado “sim” e na frente de milhares dos seus fãs que Bastian lhe traiu com ninguém menos do que sua assistente de palco, aquilo que ambos estavam começando a construir juntos começa a desmoronar como se não mais tivesse volta. Mas o próximo passo irá definir o futuro dos envolvidos, não apenas do casal prestes a ser desfeito, mas também de um terceiro inocente chamado às pressas para a ocasião. Na plateia, segurando ao acaso um cartaz que exibe em letras garrafais o pedido “Case Comigo?” – não por acaso, também o título da canção que os cantores lançaram para promover o enlace – está um professor de matemática que preferia estar em qualquer outro lugar, que não ali. Desiludida, a diva aceita o pedido: “sim, eu me caso com você”. E assim, Charlie Gilbert (Owen Wilson) deixa de ser um mero anônimo para se tornar o desconhecido mais famoso do momento.

Ele não deveria estar naquele auditório (foi levado contra a sua vontade pela melhor amiga, vivida pela comediante Sarah Silverman, se esforçando para tirar leite de pedra com um tipo ingrato, mas que em suas mãos se torna simpático – além de cumprir a cota LGBTQIA+ do enredo), nem carregando o escrito na cartolina. Da mesma forma, por mais decepcionada que estivesse, não se pode afirmar que foi pelo impacto da má notícia sobre a infidelidade do noivo que levou a cantora a confundir o nome de sua composição com um pedido real de casamento. Ou seja, tudo é marketing: bem azeitado, claro, mas ainda assim planejado e, mesmo que grite improviso por todos os lados (“meu Deus, ela se casou com um estranho”, “quem é esse homem?”, “o que os dois estão pensando?”) está na frente das câmeras – e não no ambiente inventado – a discussão mais interessante. JLo também estava tentando se recuperar de uma imensa “puxada de tapete”. Assim, pintou o quadro que mais lhe favorecesse, permanecendo atenta até ao mais insignificante dos detalhes: além de protagonista, é também produtora e... veja só: responsável pela trilha sonora, somente com melodias que tanto ela, quanto sua criação fantasiosa, poderiam defender sem ruído algum.

E quando um cenário como esse ainda ajuda em reforçar seu poder em Hollywood, o que poderia dar errado? Se há até alguns anos mesmo os galãs menos badalados poderiam se dar ao luxo de ter ao lado deles mocinhas dez, vinte, às vezes trinta ou mesmo quarenta anos mais novas como par romântico – e todo mundo achava absolutamente normal – é chegada a hora da virada. Mesmo com a diferença de idade entre Lopez e Wilson de apenas um ano, sendo ele o mais velho, o mote da história está no fato de tantos torcerem pela paixão de Kat e Bastian, ainda que JLo seja nada menos do que 25 anos mais velha do que Maluma: e não é que há química entre eles? A resposta para tal percepção se chama “carisma”, o que ambos possuem de sobra. Algo que, no entanto, por mais que se mostrem comprometidos, Case Comigo se ressente, revelando-se refém de personagens maiores do que a trama em si. E sem ter por quem sofrer – afinal, quem chega a duvidar sobre como todo esse imbróglio irá acabar? – como provocar envolvimento? Melhor se contentar com a trilha sonora. Nela, ao menos, há alguma verdade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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