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Sinopse

Uma família se muda para uma nova casa, localizada nos arredores de um antigo cemitério, usado para enterrar animais de estimação, mas que já foi usado para sepultamento de indígenas. Coisas estranhas começam a acontecer, transformando a vida cotidiana dos moradores em um pesadelo.

Crítica

Antes de mais nada, é preciso estudar o contexto. Quando o primeiro Cemitério Maldito (1989) chegou aos cinemas, o sucesso nas bilheterias foi moderado – custou pouco (US$ 11,5 milhões) e arrecadou nos EUA cinco vezes esse valor – tanto que ganhou uma continuação logo depois, Cemitério Maldito II (1992) – desta vez, sem a interferência de Stephen King, autor da história original. Trinta anos atrás, no entanto, o mundo era mais simpático a ideias que hoje soam como ultraje, tanto em relação ao sexo, como no que diz respeito à violência. E se por um lado o novo Cemitério Maldito que chega às telas três décadas depois é totalmente casto em sua visão de mundo – é um filme de terror no qual, curiosamente, ninguém transa – em relação ao gore os excessos estão por toda a parte, principalmente em sua metade final. Um fato que, ao ser constatado, conta tanto contra quanto a favor dessa nova versão.

O que precisa ser dito a respeito deste Cemitério Maldito versão 2019? O elenco ganhou pontos – Jason Clarke tem a cara perfeita de quem merece se dar mal no final da história, e John Lithgow oferece peso à trama como o vizinho que sabe demais. A ambientação, no entanto, extrapola os limites do crível – o caminho até o terreno assombrado onde se enterram bichos de estimação que ressuscitam no dia seguinte é tão fantasmagórico que parece estar no trajeto até Mordor, visto em O Senhor dos Anéis. Porém, problema maior está no ritmo imposto à narrativa, reflexo da inexperiência dos diretores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, a mesma dupla por trás do mais intimista – e melhor acabado – Starry Eyes (2014). Se o começo é interessante, revelando com cuidado a ambientação de uma família que chega para morar no interior, depois é só ladeira abaixo, com acontecimentos desencontrados, eventos se sobrepondo sem muito sentido e um final que, ainda que corajoso, talvez exija mais do que o espectador possa estar disposto a entregar.

Mas se estes deslizes podem, sob um aspecto ou outro, ser desculpados, o que dizer de todas as incongruências apresentadas pelo roteiro de Matt Greenberg (do desastre O Sétimo Filho, 2014) e Jeff Buhler (do frustrante Maligno, 2019)? Quando o gato de estimação da filha mais velha é atropelado, Lithgow não pensa duas vezes em recomendar o cemitério amaldiçoado – mesmo sabendo que, apesar de retornar, o animal volta com outra personalidade, maléfica e vingativa. Quando confrontado, tudo o que tem a dizer é: “mas era um gatinho tão bonitinho, e ela gostava tanto dele...”. Ou seja, é quase uma comédia involuntária. Ou a passagem em que uma personagem se esconde num quarto e, ao tentar fugir, ao invés de abrir a janela – como qualquer pessoa normal faria – ela opta por jogar uma cadeira, espalhando cacos de vidros por todos os lados. Oi?

Kölsch e Widmyer não querem reinventar a roda, e parecem satisfeitos em apenas trilhar percursos já conhecidos. No entanto, também lhes falta aquele algo a mais que justifique essa nova visita. O cinema de terror costuma ser uma aposta segura para aqueles em busca de resultados rápidos e satisfações garantidas. No entanto, estamos falando de um produtor como Lorenzo di Bonaventura – responsável, entre outros, pela saga multimilionária Transformers – e do próprio Stephen King, talvez o mais bem-sucedido escritor do gênero em toda a história! Era de se esperar que se desse um passo além, seja na ousadia, ou mesmo na criatividade. E se alguns apontarem que o final é, no mínimo, provocador, vale lembrar que está longe de ser revolucionário – outros textos do autor já investiram na mesma proposta, como O Nevoeiro (2007), e com melhores resultados.

Entre (muitos) mortos e (outros tantos) feridos, este Cemitério Maldito vem para uma luta já bastante congestionada, aquela que dita que as bilheterias são dominadas ou por super-heróis, ou pelo horror de ocasião da semana. O pedigree inerente ao título se perde rapidamente, e o que sobra são tentativas frustradas de sustos que não se concretizam e uma discussão que nunca chega a se aprofundar no que, de fato, merecia: o conceito e origem do mal, suas mais diversas formas e como lidar com sua suposta eternidade. A bela família do começo vai aos poucos sendo corrompida, e não serão olhos puros e ingênuos que terão que se confrontar com a conclusão destes atos. E, por mais antecipados que estes sejam, ainda assim são perturbadores. Se este era o objetivo a ser alcançado, mérito de quem se propôs a tanto. Mas também não se pode exigir algum tipo de satisfação após esta caminhada.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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