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Crítica


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Sinopse

Phil é um jovem de 17 anos que não gostar de falar a respeito da mãe e de sua irmã gêmea. Em vez de enfrentar as dificuldades com elas, o garoto prefere mergulhar numa nova paixão escolar.

Crítica

A sua existência gira em torno do que? Dos seus amores, familiares, amigos? Ou seriam os estudos, as necessidades profissionais, uma ânsia por conhecer novos lugares e travar descobertas peculiares? Os motivos podem ser os mais diversos, mas é importante que existam, pois são eles que determinam o acordar de cada novo dia e o impulso para seguir em frente, crescendo e se modificando. Centro do Meu Mundo trata justamente desse processo de realizações e alinhamento de novas afinidades pelo qual passa Phil (Louis Hofmann) a partir do momento em que chega de umas férias de não mais do que três semanas. Um período relativamente curto, mas suficiente para que essas transformações se apresentem de forma imperativa em sua vida, quer queira ou não. E a maneira assertiva como o filme vai apresentando cada uma dessas mudanças é possível que seja o maior dos seus méritos.

Não é segredo algum e também não chega a ser um trauma o fato de Phil ser gay. Aliás, é ele mesmo quem se apresenta assim, como apenas mais uma das suas características: “tenho tantos anos, moro com minha mãe e minha irmã, sou gay e gosto de andar de bicicleta”. E se, felizmente, essa não é uma história sobre um rapaz em busca da sua orientação sexual, também não consegue desviar de todos os clichês do gênero: como, por exemplo, a ausência de um final feliz tradicional, mas que, por outro lado, até pode ser visto como positivo – afinal, é a partir da dor que o ser humano cresce, não é mesmo? Bom, ao menos é a mensagem que este conto de formação tenta transmitir.

Phil não sofre por se sentir atração por outros rapazes como ele, ao menos não se essa referência se der no plural. Pois, quando se apaixona por um garoto em particular, os receios e temores que passa a sentir são iguais aos de todo adolescente, seja na Alemanha ou em qualquer lugar do mundo ocidental. Nicholas (a revelação Jannik Schümann) é de uma beleza hipnotizadora, e pior: tem consciência disso. Novo na escola, domina os olhares por onde passa. Mas é apenas em um deles que está interessado: justamente o de Phil. Não demora para os dois estarem passando as tardes embaixo dos lençóis amarrotados de um ou de outro. Porém, não importa o quanto tempo passem juntos, nunca parece ser o suficiente. Alguma coisa está faltando. Não para o protagonista, que se mostra disposto a encontrar seu lugar naquele cenário. É o outro o inquieto, o que na superfície parece ter tudo, mas no seu interior abriga um enorme vazio.

Enquanto o romance deles não decola, Phil tem mais com o que se preocupar. Essa carga dramática vai ser oferecida pelas relações que luta em preservar tanto com a mãe, uma hippie que a vida toda recusou revelar a identidade do pai dos filhos, como com a irmã gêmea, que até pouco tempo atrás era como sua cara-metade, mas desde que ele retornou tem se mantido distante, quase ausente. O garoto pressente que algo aconteceu entre as duas durante sua ausência, mas reconhece, também, que talvez não esteja no seu lugar forçar qualquer tipo de revelação ou depoimento a respeito. Só lhe resta, portanto, esperar. Mas quanto tempo se tem à disposição quando tudo mais parece voar diante os olhos, e as certezas de hoje rapidamente se transformam nas tristezas de amanhã, ainda que pouco antes soassem como a esperança de ontem?

Quando chega em sua cidade-natal após o período em que esteve afastado, Phil já sabe que não ficará por ali por muito tempo. E um evento parece quase premonitório para essa decisão que não tardará em se impor: um vendaval que devastou boa parte da região. Caminhos inteiros foram colocados abaixo, árvores arrancadas, jardins destruídos. Foi a limpeza necessária para que uma reconstrução fosse providenciada. Da mesma forma, o jovem perceberá que somente abrindo mão do muito – ou pouco, dependendo do ponto de vista – que agora pensa ter é que poderá, enfim, se sentir livre para partir em busca de novas conquistas. E para que essa jornada seja bem-sucedida, é fundamental o compromisso assumido por Hofmann, aqui em um desempenho tão leve quanto determinado, anterior ao tom sorumbático e pessimista do papel que o revelou ao mundo, na série Dark (2017-2020). O sucesso de Centro do Meu Mundo está em suas mãos, e, felizmente, ele se sai bem diante de tamanha responsabilidade.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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