Crítica
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Sinopse
Juntas no mesmo ramo por décadas, quatro consagradas atrizes britânicas deixam de lado os holofotes por alguns instantes para realizarem conversas intimistas, sinceras e reflexivas a respeito de suas carreiras, vidas pessoais e as influências de suas carreiras para a consolidação de uma amizade.
Crítica
Como estragar um filme com Chá com as Damas? Simples. Basta se colocar no caminho de Maggie Smith, Judi Dench, Joan Plowright e Eileen Atkins. Exatamente o que o diretor Roger Michell, sabiamente, opta por não fazer. Ao reunir num mesmo ambiente quatro das maiores atrizes inglesas de sua geração, ele simplesmente decide sentar fora de quadro e ouvi-las conversar sobre os mais diversos assuntos, de como começaram na carreira até como é lidar com a velhice e a proximidade com a morte. O resultado, como poderia se esperar, é não menos do que magnífico. Afinal, o que se tem aqui é um acesso privilegiado ao íntimo de quatro senhoras que, mais do que damas, são verdadeiras mestras em seus ofícios. Exemplos de história e perseverança, de excelência e genialidade. Obviamente, não é todo dia que uma oferta como essa surge, de modo tão facilitado e bem apresentado.
Juntas, elas possuem três Oscars, três Tonys, cinco Emmys, sete Globos de Ouro e dezenove Baftas – sem contar outros tantos reconhecimentos nos teatros da Inglaterra e dos Estados Unidos. Apenas Smith e Dench, muito por suas participações nas sagas Harry Potter (a primeira foi a professora Minerva McGonagall) e James Bond (a segunda viveu a enigmática M), somam mais de US$ 10 bilhões nas bilheterias de todo o mundo. Plowright, por sua vez, foi casada com ninguém menos do que Laurence Olivier – o maior de todos os atores, segundo muitos se apressariam em confirmar – enquanto que Atkins começou a atuar ainda criança, em apresentações de vaudeville, incentivada pela mãe que, quando grávida, ouviu de uma cigana que a filha seria uma dançarina de sucesso. Errou a profissão, mas acertou no impacto que causaria no mundo das artes. Os (e)feitos de cada uma delas são superlativos, e poder acompanhá-las por pouco mais de uma hora discorrendo com calma e tranquilidade por muitas dessas lembranças é um passeio pela trilha da memória de valor inestimável.
Os momentos impagáveis são diversos. Maggie Smith se refere aos próprios filhos de uma maneira bastante característica, ao afirmar que “houve uma época em que todas nós estávamos cercadas por aquelas pequenas pessoas”. Judi Dench pergunta à amiga: “quantos episódios de Downton Abbey você gravou? Foram quantas temporadas?”, para ouvir como resposta: “não sei. Nunca assisti ao programa. Mas eles me deram um box com os DVDs”. O diretor, que permanece o tempo inteiro nos bastidores, apenas soltando temas ou questões aleatórias que as motivem a embarcar em novos assuntos, indaga: “vocês pretendem seguir trabalhando até quando?”, para que Joan Plowright responda sem pensar duas vezes: “meu agente nos Estados Unidos me disse que, se eu quisesse algum trabalho por lá, deveria torcer para Judi Dench dizer ‘não’ para algum convite”. A popularidade de algumas delas, principalmente após uma longa carreira, é tema recorrente. “Judi, fale sobre Bond. Conte como é ficar coberta por joias”, provoca Smith. “Eu nunca me cobri com joias nessas filmes”, replica, espantada, a atriz. “Depois deles você ficou, sim”, finaliza a colega.
São velhas amigas, que há décadas estão juntas na mesma profissão, e por isso se dão direito a esse tipo de intimidade. Smith e Atkins estiveram juntas em Assassinato em Gosford Park (2001), Dench e Smith em O Exótico Hotel Marigold (2011), Plowright, Smith e Dench em Chá com Mussolini (1999). E estes foram apenas alguns dos encontros. Nos palcos foram outros tantos. E nada parece oferecer limite a elas. Do modo como começaram suas carreiras aos papeis mais emblemáticos – as quatro possuem recordações diversas sobre Cleopatra, por exemplo. Dos colegas de trabalho às grandes desavenças – “trabalhar com ele era particularmente desagradável” ou “o problema dele é que queria ser mais rainha do que eu”. Do quanto Olivier influenciou a vida de cada uma delas a como era trabalhar com o próprio marido – as quatro, em momentos diferentes, foram casadas também com atores. A relação com a crítica e a importância de dizer “sim” ou “não” no momento certo. Está tudo diante delas. E daqueles que com elas se alinham.
Mais do que qualquer coisa, Judi Dench, Maggie Smith, Joan Plowright e Eileen Atkins são, também, Damas do Império Britânico. Não que isso tenha determinado muita coisa em suas vidas – Atkins conta que até hesitou antes de aceitar a honraria – mas é, de qualquer forma, um reconhecimento por tudo que já fizeram e representam. Chá com as Damas pode ter muito pouco de chá – na verdade, elas preferem champanhe (“este convite está muito atrasado, deveriam ter nos oferecido a bebida horas atrás”) – mas, com certeza, tem muito da classe, elegância, humor afiado e experiência de vida de quatro experts no assunto. Poderíamos ficar dias com elas. Mas Michell – diretor de filmes como Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) e Um Fim de Semana em Paris (2013) – é preciso em sua condução, intercalando suas falas e declarações com uma cuidadosa pesquisa história e imagens precisas para ilustrar cada discurso. Afinal, sentar na primeira fila tem um preço. E o que aqui é cobrado ainda é pequeno perto de tudo que é oferecido em retorno.
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