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Sinopse

Depois de ser mudar para uma cidade grande, a interiorana Bebel enfrenta as adversidades de um ambiente por ela desconhecido. Na sua jornada de aclimatação, ela enfrenta os colegas mais populares da escola e um empresário que faz testes laboratoriais em animais.

Crítica

O cineasta Paulo Nascimento é daqueles legítimos operários do audiovisual. Quando não está dirigindo, envolve-se com redações e produções. Antenado com as mudanças sociais que o cercam, vem solidificando sua carreira explorando dramas pessoais e relações incertas, como fez de forma instigante em Em Teu Nome (2009) e A Oeste do Fim do Mundo (2013). Mas, nesse caminho, também tropeçou com Teu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos (2018), cujo enredo se perde entre tema e história. Agora, curiosamente, após surfar por tramas criminais e distópicas entre 2019 e 2022, o cineasta, com Chama a Bebel, reencontra a mesma armadilha de seis anos atrás.

Aqui, Giulia Benite, que alcançou holofotes merecidos com a saga Turma da Mônica, dá vida a personagem-título. Doce, sincera, estudiosa e preocupada com o futuro ambiental do planeta Terra, é difícil não se conectar com essa adolescente que parece uma versão aperfeiçoada de Greta Thunberg, ativista ambiental sueca. Ademais, a jovem possui limitações físicas e necessita de cadeira de rodas, mas dispensa qualquer autocomplacência. Moradora do interior, ela precisa se mudar para uma cidade maior a fim de completar seus estudos em escola que possua ensino médio. Para tanto, precisará lidar com a saudade que sentirá da mãe, Mariana (Larissa Maciel), e também do avô, Seu João (José Rubens Chachá), entes afetuosos que ajudaram a moldar seu caráter íntegro. Sua nova moradia é comandada pela fútil tia Marieta (Flávia Garrafa), que não apenas desdenha dos assuntos da sobrinha como também a repreende com frequência. O novo contexto se agrava ainda mais quando Rox (Sofia Cordeiro), a aluna mais popular do colégio, implica com Bebel por seus “papos chatos sobre meio ambiente”.

A partir daí, conexões superficiais surgem ao espectador através de visão maniqueísta dos relacionamentos, estratégia que o próprio realizador da empreitada descartou em outras oportunidades. Tal composição, que pode gerar desconfiança até mesmo dos mais pequenos, pode ser verificada não somente em provocações gratuitas dispostas pela tia, mas também em falas propostas à Rox, que não ganha espaço para além de vilania frágil e afrontas antiquadas, sufocando o trabalho da antagonista. Marcos Breda, longe de seus melhores dias, ao menos ganha alguns fundamentos com o objetivo de defender a sordidez de seu personagem, inescrupuloso empresário que usa animais em testes cosméticos. Ele, ao lado das já citadas, completa a trinca dos vilões insuficientes. Sendo assim, Giulia precisa reinar sozinha em cena.

Do outro lado da mesa, ao lado de Bebel, estão os também adolescentes Beto (Antônio Zeni) e Zico (Gustavo Coelho), que possuem terreno amplo para o destaque como féis escudeiros, que poderiam temperar as situações e construir profundidade ao pressuposto. Entretanto, suas participações são tímidas, o que sobrecarrega novamente Benite. Esse vácuo é, em partes, ocupado pelo ator Pedro Henriques Motta, na pele de Guga, que propõe alguma ambiguidade ao enredo monocromático. No entanto, é válido refletir sobre o quão abastecidos os novos talentos poderiam ter sido pelo roteiro. Aqui, assim como a já lembrada obra de 2018, há batalha de confluências. Ou seja, a pauta pela pauta. Tratar sobre o aquecimento global não é mais unicamente tema importante, e sim urgente. Contudo, não basta que a obra tenha sua eloquente “Greta tupiniquim” e sua claque, mas que também apresente desafios reais e convincentes.

Ainda assim, vale pontuar que a condição desfavorável da protagonista em relação aos seus movimentos corporais é tratada com leveza. Não há melodrama em sua situação, tampouco esgotamento da pauta durante os acontecimentos, embora a trilha sonora teime em estabelecer alguns cenários do gênero. Desse modo, Chama a Bebel pode ser considerado passo admissível na carreira dos jovens atores envolvidos, principalmente para Giulia Benite, que sai intacta de arriscada aposta.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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