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Sinopse

A vida e a obra de Charles Chaplin, garoto que saiu da Inglaterra e ganhou os Estados Unidos (e depois o mundo) com a sua arte.

Crítica

Dez anos após realizar o multioscarizado Gandhi (1982) – foram nove prêmios da Academia, inclusive Melhor Filme, Diretor e Ator –, Richard Attenborough retornou às cinebiografias de grandes personalidades do século XX com Chaplin, sobre um dos grandes artistas, na acepção completa do termo, da história do cinema. No entanto, o sucesso nas principais premiações de 1993 foi bem menor que o de uma década antes, praticamente se reduzindo a indicações para o então jovem e promissor Robert Downey Jr., intérprete de Charles Chaplin no filme.

A verdade é que houve um bocado de justiça nesse desempenho abaixo do esperado de Chaplin nas premiações. Enquanto Gandhi, apesar de bastante conservador em seu formato, remetia belamente ao cinema esplendoroso de David LeanA Ponte do Rio Kwai (1957), Lawrence da Arábia (1962), entre outros –, o filme sobre o criador do inesquecível personagem Carlitos é bem menos inspirado, reduzindo-se a uma daquelas cinebiografias com cara de verbete da Wikipédia, por simplesmente passar rapidamente pelos acontecimentos mais importantes da vida do biografado, sem dedicar qualquer esforço a se aprofundar realmente em qualquer um deles. É lamentável que um sujeito revolucionário, inovador para o cinema como Chaplin vire um filme absolutamente careta, insosso, protocolar.

Outra escolha equivocada de Attenborough (e do trio de roteiristas William Goldman, Bryan Forbes e William Boyd) foi criar um personagem fictício (interpretado por Anthony Hopkins) para funcionar como espécie de alter-ego do espectador, uma vez que, sendo o editor de uma autobiografia que está sendo escrita por Chaplin dentro do filme, se coloca como ouvinte de suas histórias, tirando dúvidas, introduzindo determinadas figuras na hora exata, ajudando, enfim, a criar uma narrativa a partir de um amontoado de experiências. Se o artifício é, portanto, justificado e poderia até representar algum sopro de criatividade, em Chaplin ele é usado da maneira mais burocrática imaginável, soando excessivamente didático e artificial.

O que há de realmente bom, no fim das contas, é mesmo a atuação de Downey Jr., que, ainda distante dos trejeitos de Tony Stark que caracterizariam sua carreira em anos mais recentes, consegue dar certa densidade ao protagonista e algumas composições visuais interessantes: as imagens dos créditos iniciais, com Carlitos se desmontando diante da câmera; o momento em que ele, invertendo esse processo, constrói seu célebre personagem no departamento de figurino do estúdio; aquele em que Attenborough, para narrar um episódio em que Chaplin tem de fugir de uma de suas esposas com o material de um filme que ela tenta lhe tomar na justiça, emula o estilo das comédias chaplinianas; um rápido plano já no fim do filme, em que o protagonista, idoso, surge sentado em uma cadeira, com os típicos adereços de Carlitos (chapéu e bengala) posicionados de forma a remeter ao personagem.

E há por fim, claro, alguns trechos de clássicos como O Garoto (1921), Em Busca do Ouro (1925), O Grande Ditador (1940), O Circo (1928), entre outros, encerrando a cinebiografia, exibidos no emocionante contexto do recebimento, por Chaplin, de um Oscar honorário, em 1972. Não há mediocridade que sobreviva à beleza do cinema desse gigante e Attenborough consegue, com isso, deixar uma impressão minimamente positiva quando sobem os créditos finais de seu filme.

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é um historiador que fez do cinema seu maior prazer, estudando temas ligados à Sétima Arte na graduação, no mestrado e no doutorado. Brinca de escrever sobre filmes na internet desde 2003, mantendo seu atual blog, o Crônicas Cinéfilas, desde 2008. Reza, todos os dias, para seus dois deuses: Billy Wilder e Alfred Hitchcock.
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