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Sinopse

Um carismático rapaz lidera um grupo informal de marketing para um salão afro na região, mas sente que seu potencial seria mais aproveitado se ele iniciasse seu próprio negócio no ramo estético masculino. Mas a chegada de um concorrente ameaça seus planos.

Crítica

Aludindo à obra-prima de Spike LeeFaça a Coisa Certa (1989), inclusive pela maneira como concentram a ação em poucas quadras, os cineastas Modi Barry e Cédric Ido fazem de Chateau: Paris um retrato descontraído dos imigrantes na capital francesa, especialmente dos africanos. O principal ponto de encontro dos personagens, apresentados com direito a letreiro, é a saída do metrô, onde dois grupos disputam a atenção e a fidelidade da clientela para os salões de beleza dos arredores. A câmera captura essas pessoas, não à toa majoritariamente negras, fazendo o que podem para sobreviver em Paris, cuja marca registrada, a Torre Eiffel, aparece ligeiramente, apenas para pontuar uma realidade apartada da apregoada pelos cartões postais. Não há um tom de denúncia, pois a narrativa é estruturada dramaticamente a partir do carisma dos homens e mulheres que fazem um malabarismo danado para realizar sonhos ou ascender na vida. A violência é ocasional, assim não surgindo como elemento intrínseco, mas pontual.

Nesse mosaico de gente trabalhadora – uns com inclinação especial ao trambique – Charles (Jacky Ido) é o protagonista, o representante dos forasteiros dispostos a dar um passo significativo para conseguir independência financeira. Ele almeja comprar o salão de beleza de um curdo que lhe atende lendo poesias, linhas incompreensíveis a quem não domina o idioma médio oriental. Sua atuação como marqueteiro informal dos estabelecimentos da vizinhança já não lhe satisfaz, tanto que os encarregados reclamam frequentemente de sua apatia, principalmente diante da concorrência de Bébé (Eric Abrogoua). Tais antagonistas possuem temperamentos e, portanto condutas, bastante distintos. O primeiro anda bem vestido, se preocupa com o alinhamento dos ternos, é elegante, enquanto o segundo faz mais o estilo despojado, agressivo na forma como ocupa terreno. Todavia, a rivalidade está longe de ser nuclear ao filme, se configurando numa das instâncias que deflagram a conjuntura, ela basilar.

Chateau: Paris é um acúmulo de interações entre figuras singulares, a despeito da origem compartilhada, a Mãe África. Modi Barry e Cédric Ido, reforçando o intuito de desenhar o multiculturalismo que marca qualquer metrópole nos dias de hoje, fazem questão de mostrar outros grupos étnicos que por ali convivem, como os chineses que cuidam das unhas da clientela e os indianos fornecedores de matéria-prima. O coadjuvante mais “sangue bom” é o enrolador Moussa (Jean-Baptiste Anoumon), sempre metido em alguma maracutaia, dono de ideias tão mirabolantes quanto irrealizáveis que, por certo, necessitam de alto financiamento. A abordagem reforça a simpatia dos envolvidos, corroborando o olhar carinhoso que o longa-metragem lança, mesmo às conjunturas que oferecem algum componente dramático. Charles, que repetidamente completa suas apresentações dizendo-se homônimo do príncipe britânico, bem como boa parte dos demais, é um exemplo do caldo cultural oriundo da globalização.

Os realizadores conseguem estabelecer em Chateau: Paris um ritmo absolutamente agradável de contemplação das rotinas dos que transitam pelo quarteirão da estação do metrô. A proximidade de Charles com a mulher a quem deveria vigiar para o amigo desconfiado de traição é um bom exemplo de como Modi Barry e Cédric Ido têm pouca disposição a concentrar esforços nos episódios, privilegiando a amplitude do painel social que naturalmente emerge das relações. A frustração das expectativas de desdobramentos negativos é uma afirmação da importância residual dos fatos, acima da circunstancial. Embora se ressinta da falta de um discurso mais incisivo e/ou robusto em determinados momentos, o filme é uma crônica sutilmente estilizada desse espaço supostamente integrado à vida cosmopolita da urbe, mas circunscrito numa realidade praticamente paralela, delimitada por uma rotina sociocultural bem particular e rica, propiciada pelos que vêm de fora e fincam raiz.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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