Che: Memórias de Um Ano Secreto
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Margarita Hernández
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Che: Memórias de Um Ano Secreto
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2018
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Em dezembro de 1965, a Guerra Fria atinge o seu clímax e o comandante Ernesto Che Guevara desaparece misteriosamente do cenário público mundial. Sob um disfarce, com uma identidade falsa, ele ludibria a vigilância da CIA e se refugia em Praga, na República Checa. Durante o período, é escoltado por três ex-agentes do Serviço de Inteligência Cubano que agora revelam detalhes inéditos da operação desenvolvida naquele ano.
Crítica
Assim como Jesus Cristo, que teve parte da sua trajetória obtida da narrativa oficial – a Bíblia não faz referências sobre o que lhe aconteceu durante toda a juventude até a idade de 30 anos – o revolucionário Che Guevara também conta com parte da sua biografia ausente dos principais relatos a respeito de sua história. Mais precisamente, por onde esteve ele em 1966, quando tinha apenas 37 anos? Tendo falecido pouco tempo depois em meio às florestas bolivianas, muito já se falou sobre suas atividades pela América Latina, da saída da Argentina à Revolução Cubana. Mas e pelo resto do mundo, por onde andou? O que fez? É basicamente sobre isso que se debruça a pesquisa da diretora Margarita Hernández em Che: Memórias de um Ano Secreto, um documentário que chega causando barulho, mas faz uma entrega bem silenciosa.
A abertura – feita de forma trabalhada, com um grafismo visual e música marcada – já capta o olhar do espectador, mas não necessariamente de uma forma positiva. A impressão é estarmos diante de um programa de televisão, no estilo Globo Repórter ou Linha Direta– apenas para ficarmos nos mais comuns. Fica em evidência, portanto, uma vontade de jogar com o público, buscando elementos que causem reações imediatas e que de tempos em tempos renovem o interesse de quem está seguindo a narrativa, mesmo que as revelações propostas – ou mesmo alguns dos depoentes – não ofereçam conteúdo relevante ou informações que façam algum tipo de diferença. Como tudo que é exposto parte de entrevistas ou documentos que podem ou não estarem diretamente ligados aos fatos narrados, é preciso uma grande dose de confiança no que é dito ou descoberto, uma vez que a ausência de declarações oficiais permeia o discurso.
Para onde Che Guevara foi em dezembro de 1965 e por onde andou durante todo o ano seguinte? Acredita-se que tenha compartilhado de um sonho libertário que o teria levado para o outro lado do mundo, abandonando uma Cuba recém ingressa no modelo comunista na esperança de espalhar pela África os mesmos moldes pregados na América. Seu foco acaba sendo o Congo – conhecida posteriormente como Zaire, até se firmar, atualmente, como República Democrática do Congo – justamente no coração do continente africado. Um momento que determina seu exílio é quando Fidel Castro anuncia, publicamente, que Guevara não só só partiu, como também abandou os cargos e o papel que até aquele instante havia desempenhado junto ao povo – e no governo – cubano. Ele estava, agora mais do que nunca, de fora. E voltar, portanto, se torna uma missão quase impossível.
É sobre essa jornada de retorno que Hernández concentra seu interesse. Refugiando-se em Dar es Salaam, na Tanzânia, Che precisou sair disfarçado – para evitar a vigilância de agentes da CIA e a curiosidade excessiva dos oficiais da KGB. Como se verifica, o revolucionário havia se tornado um incômodo: não o querem mais do lado pelo qual sempre militou, ao mesmo tempo em que passa a ser caçado pelos que veem nele mais do que um homem, e, sim, um símbolo de tudo o que combatiam – uma verdade que se verificou ainda mais irreversível após sua morte. Seu primeiro porto seguro teria sido Praga, na Tchecoslováquia, para somente após uns seis meses perdido no leste europeu se dirigir, enfim, à Bolívia. E entre declarações mirabolantes – teria ele usado mexido no cabelo? Ficado careca? Feito a barba? – e golpes de sorte – contando com companheiros que chamavam mais atenção do que ele, como conseguiu permanecer incógnito por tanto tempo? – é de se estranhar que tão pouco se saiba sobre esse período, e o fato daquilo que se sabe ser repleto de tantas contradições mais impressiona do que convence.
Com um trabalho de pesquisa que desperta curiosidade por sua amplitude – percebe-se uma verdadeira volta ao mundo na tentativa de reconstituir os passos de Guevara – Che: Memórias de um Ano Secreto, no entanto, perde a oportunidade de ampliar seu alcance, seja pelo formato convencional que assume em suas entrevistas ou pelas tentativas de alcançar um dinamismo – seja pelo uso de uma trilha sonora mais chamativa ou por uma edição digna de um thriller aventuresco – que nunca chega a ser alcançado a contento. Tivesse acreditado mais na força das palavras reunidas e no poder da investigação, e menos no aspecto formal do projeto, que chega inclusive a investir em reconstituições com atores – e até em trechos de filmes sobre o comandante, como cenas de Benicio Del Toro em Che: O Argentino (2008) – que terminam soando mais como distrações, e o resultado seria mais efetivo. O olhar, como se vê, é apropriado. Mas o mergulho merece uma intensidade que aqui, infelizmente, não se verifica.
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