Crítica
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Sinopse
Henry Page cobiça o cargo de editor do jornal escolar. Ao chegar ao último ano do colegial, ele se vê obrigado a dividir essa posição com a novata Grace Town, garota misteriosa e encantadora.
Crítica
A paleta de cores sóbrias sinaliza que Chemical Hearts não pretende ser um filme solar sobre a adolescência. Ao redor do relacionamento de Henry (Austin Abrams) e Grace (Lili Reinhart), há um clima meio melancólico, também observável nas faixas da trilha sonora e na evocação de alguns temas espinhosos ao longo da trama. O jovem protagonista sonha em ser editor do jornal escolar no seu último ano antes de ingressar na faculdade. Em vários instantes, ele menciona que consegue se expressar melhor escrevendo, embora isso seja trabalhado no limite da simples citação pelo cineasta Richard Tanne. Já a novata que chega demonstrando desinteresse pela atividade de escrita no secundário obviamente é atravessada por algo que lhe torna introspectiva, até mesmo arredia às aproximações alheias. Não fugindo das convenções, pelo contrário, o filme apresenta um vínculo curativo fortalecido gradativamente. E um de seus grandes problemas é justamente não saber os pontos nos quais abreviar essa trajetória. O resultado é abrupto, sem terreno às sutilezas e afins.
Difícil determinar o que de fato configura a famigerada “química” entre intérpretes, supostamente essencial a um filme calcado em envolvimentos amorosos. Talvez a capacidade dos atores funcionarem ora em consonância, ora em dissonância com semelhante organicidade? Igualmente, não é tão simples cravar se em Chemical Hearts o casal pouco opera como engrenagem para engajar emocionalmente o espectador por conta da direção, da dramaturgia, da interação entre os intérpretes, da montagem que não privilegia certas sutilezas ou pela soma de um pouco de tudo isso. Fato é que o roteiro deixa aos personagens escassas alternativas, principalmente ao lhes colocar em terrenos comuns. O rapaz é o tímido totalmente mexido diante de um primeiro amor. Não mais que isso. A moça é a sobrecarregada por um trauma recente. Tampouco vai além do que essa condição supostamente pressupõe. O realizador se contenta com assinalar os verbos “consertar”, “aprender” e “perseverar”, fazendo tudo girar em torno deles, pouco se aprofundando nas pessoas em cena.
Henry é fruto de um casamento aparentemente perfeito. Seus pais surgem, sem variações, como partes de uma dupla harmônica. Nem quando surge uma oportunidade de ouro para que essa superfície seja questionada, o filme se propõe romper sua camada mais evidente. A irmã sofredora do protagonista existe apenas para traduzir dores e euforias em reações químicas, eventualmente trazendo ao plano mais comum possível aquilo que na adolescência adquire sintoma de sensação eterna e dilacerante. Já Grace se fechou dentro de uma concha e, mesmo sendo previsível que a ternura de Henry a ajudará nesse processo de cura, tal transição se dá de modo excessivamente esquemático. Tanto que a mudança de paradigmas no vínculo entre os colegas se dá exatamente após um clipe encarregado de condensar um período considerável de tempo. Mesmo que o procedimento esteja correto, a maneira com que ele suprime uma trajetória emocional importante acaba retirando desse andamento seu peso dramático. Detalhes que colocam o conjunto num terreno bem conhecido.
O entorno desses amantes é frouxo. Richard Tanne ensaia fazer das expectativas amorosas da amiga de Henry um traço destacável, mas a trata como apêndice, mostrando a partir dela a mesma questão central, porém com outra perspectiva. O professor, os colegas, os pais, a irmã e os ex-sogros são figuras descartáveis, sem tanta subjetividade evidente. Outro ponto problemático de Chemical Hearts é a relação simbólica entre o hobby do protagonista e a forma dele lidar com sua amada fraturada. Não basta que ela diga “chega de tentar me consertar”, assim fazendo alusão à prática dele de quebrar vasos para agregar-lhes por meio das marcas do reparo. O filme passa longe de dilapidar consistentemente a rima, sequer ensaiando compreender o modus operandi de Henry, contentando-se em construir paulatinamente e sem receio da obviedade uma noção de que devemos nos orgulhar das cicatrizes, pois elas representariam a nossa coragem de viver. Uma pena que também se passe muito rapidamente pelo conceito de “limbo adolescente” em prol da história de amor banal.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Lucas Salgado | 5 |
Nayara Reynaud | 6 |
MÉDIA | 5 |
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