Crítica
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Sinopse
Depois de matar seu marido mulherengo, a vedete Velma é defendida por Billy Flyn, o advogado mais esperto de Chicago. Também presa por matar o namorado, a novata cantora Roxie vai ser igualmente defendida por ele.
Crítica
O Oscar 2003 dançou ao ritmo de Chicago, a adaptação do musical que finalmente chegou às telas após mais de 20 anos de sua estréia na Broadway. Este longa recebeu prêmios importantes, como o Globo de Ouro, o Sindicato dos Produtores e o Broadcast Film Critics Awards, antes de se consagrar na maior premiação do cinema mundial, conquistando 6 estatuetas douradas, inclusive a de Melhor Filme. Foi saudado como a consagração definitiva de um estilo que, ao lado do western, é o mais característico do cinema hollywoodiano, mas que andava meio apagado nos últimos tempos. Claro que tivemos alguns exemplos bem-sucedidos, como Evita (1996), de Alan Parker, ou Todos Dizem Eu Te Amo (1996), de Woody Allen, mas foi somente com Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001), de Baz Luhrmann, que a atenção de todos se voltou novamente para os musicais. Fato determinante na aceitação e no sucesso deste longa de Rob Marshall.
A história de Chicago, assim como na maioria das produções do gênero, é bem simples. Duas mulheres, uma dançarina de sucesso e a outra iniciante no vaudeville, assassinam seus amantes (num intervalo de um mês) e são presas. Na cadeia, logo se dão conta de que o que importa é chamar a atenção da imprensa sensacionalista, e nada melhor para isso do que ter ao seu lado um advogado inescrupuloso e cheio de artimanhas. Afinal, como é dito inúmeras vezes no decorrer da trama, tudo é um grande circo, e irá se sair melhor quem fizer o número mais competente. Não é um enredo de amor arrebatador, uma heroína que lidera multidões nem uma grande brincadeira com o fim de uma era no cinema. É, sim, uma crítica feroz à própria sociedade norte-americana, ao seu sistema jurídico e às convenções sociais do que é certo, justo e verdadeiro. Ou não.
Um dos maiores problemas em se fazer um musical atualmente é a ideia de que seria muito difícil para as plateias atuais aceitarem o fato de que, durante uma ação qualquer, os personagens simplesmente sairiam cantando, declamando seus conflitos e sonhos. Muito inverossímil, afirmam os detratores de um formato que atingiu seu ápice nos anos 50 e 60, quase meio século atrás. Chicago encontra um meio de escapar dessa armadilha, colocando todos os seus números cantados como se fossem produtos da imaginação de algum dos envolvidos na cena, mas obviamente distante da “vida real” que está se desenrolando. Assim, acredita-se, mantém-se a verossimilhança das ações e contribui ainda a construir um perfil de ilusões e fantasias, tão característico a tipos como os aqui descritos, naturalmente deslumbrados pela fama e o sucesso.
O problema dessa opção, ao menos do caso de Chicago, é que uma vez num ambiente onírico, seria de se exigir mais ousadia, mais invenção, mais criatividade. Este não é, definitivamente, Moulin Rouge: Amor em Vermelho, por exemplo, com todo o seu arroubo visual e exagero estilístico. Tudo é muito teatral, e o que vemos é quase um espetáculo filmado, e não uma expressão de um meio artístico diverso. Não é cinema, é teatro. E isso, ao mesmo tempo em que encanta por seus próprios méritos, decepciona por suas iguais carências. O que se obtêm é a impressão de que poderia ir muito além do que é mostrado, mas faltou coragem e originalidade aos seus condutores para ousarem tal ambição.
O que mais chama atenção é, como já foi muito dito, o embate entre suas duas estrelas, Renée Zellweger (vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz) e Catherine Zeta-Jones (vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante). A primeira é Roxie Hart, a corista iniciante e protagonista absoluta do filme, enquanto que a Sra. Michael Douglas dá vida à Velma Kelly, a veterana em busca de mais atenção. Somente as duas já valem o preço do ingresso, pois além de saberem cantar e dançar num desempenho impressionante, também atuam com cuidado, assumindo com perfeição os tipos exigidos por seus papéis. Destaque para Renée, que aqui atinge uma maturidade profissional só vista anteriormente em A Enfermeira Betty (2000), um dos seus melhores trabalhos. Richard Gere (premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator), como o advogado Billy Flynn, não compromete em nada, assumindo uma persona muito similar a própria construída ao longo de sua carreira. Mas sua voz é fraca, e ele obviamente não é nenhum grande dançarino. Nos faz pensar em como tudo poderia ser diferente caso John Travolta, o primeiro a ser convidado para esse papel, tivesse aceitado. Já os coadjuvantes Queen Latifah (a única cantora profissional do elenco) e John C. Reilly estão meramente corretos, cada um tendo um número exclusivo, mas nada que justificasse suas indicações ao Oscar.
Chicago é, acima de tudo, uma vitória do coreógrafo Rob Marshall, que com esse projeto marca sua estréia na direção – antes disso havia conduzido apenas uma versão do musical Annie, para a televisão, em 1999. Se já em seu primeiro trabalho conseguiu 13 indicações ao Oscar (recorde do ano) e um sucesso que arrecadou mais de US$ 300 milhões nas bilheterias de todo o mundo, é de se imaginar o que ele ainda poderá ser capaz de produzir. O filme Chicago, baseado no musical de 1975, dirigido e coreografado por Bob Fosse, é uma boa opção para ser conferida nos cinemas, onde todos os seus méritos ficam potencializados diante da tela gigantesca. É divertido, animado, emocionante e muito bem realizado, e certamente está cumprindo com honras sua função de abrir o caminho para que novos projetos musicais na sétima arte sejam realizados. No entanto, ter ganho o Oscar soou como um pedido de desculpas por Moulin Rouge: Amor em Vermelho, que perdeu no ano anterior. O que, é preciso admitir, não deixa de ser decepcionante.
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