Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa
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Fernando Fraiha
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Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa
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2025
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Em Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, o determinado Chico Bento quer salvar a majestosa goiabeira do Nhô Lau. Para tanto, precisará unir toda sua turma, contando com Zé Lelé, Rosinha e outros, e enfrentar a resistência de todos os adultos do vilarejo onde mora, inclusive os próprios pais! Baseado na obra de Mauricio de Sousa.
Crítica
Muito tem se falado nos últimos anos, ao menos no que diz respeito ao cinema, sobre os tais universos estendidos, seja da Marvel, DC ou até mesmo da saga Invocação do Mal – apenas para ficarmos entre os mais conhecidos e populares. Mas há um outro, mais próximo e em tons de verde e amarelo, que não pode ser ignorado. É aquele que diz respeito às criações de Maurício de Sousa, um dos mais importantes quadrinistas e contadores de histórias do Brasil. Se desde os anos 1980 ele tentava levar para a tela grande seus personagens, com resultados nem sempre bem-sucedidos, foi somente com a estreia de Turma da Mônica: Laços (2019) que esse quadro começou a mudar – e já não era sem tempo! Com mais de 2 milhões de espectadores, este filme foi o estopim que faltava para uma bem-vinda expansão cinematográfica. Desde então, já houve dois outros longas para o cinema e duas séries lançadas diretamente no streaming. E se todos, invariavelmente, eram focados na turminha de amigos da Rua do Limoeiro – com exceção da série de animação Astronauta (2024) – a aposta amplia de vez os horizontes com Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, o primeiro projeto em live action (ou seja, com atores reais) dedicado inteiramente ao caipira de modos simples e espírito arteiro. A boa notícia é que essa espera é mais do que compensada.
Ainda que os resultados das incursões iniciais tenham sido positivos, o cenário atual era de dúvida. E isso pela fraca repercussão alcançada pelos dois esforços mais recentes: o longa-metragem Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo (2024) teve pouco mais de 200 mil espectadores, além de avaliações controversas da crítica especializada (nota 4/10 no Papo de Cinema, e média de 37% na nossa grade crítica); enquanto que a minissérie Turma da Mônica: Origens (2024) – que mostrava um elenco já idoso, além de um outro bastante infantil, com os personagens em dois momentos temporais distintos – foi pouco comentada (e menos ainda lembrada). Assim, talvez a melhor decisão tenha sido mesmo dar uma folga para Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão, optando por uma ambientação não tão usual, ainda que familiar: o interior onde vive o garoto Chico Bento. Apesar de no audiovisual ter sido protagonista apenas de um curta de animação – Chico Bento, Óia a Onça! (1990) – nos gibis sua presença é um sucesso desde 1982, quando foi publicada a primeira edição em seu nome (apesar do personagem ter sido criado em 1961). E se a pegada era apelar aos velhos conhecidos, na mesma medida em que deveria encantar um novo público, é com tranquilidade que se atesta o impressionante resultado dessa iniciativa.
Chico Bento é conhecido nos quadrinhos por suas duas maiores paixões: a menina pela qual é apaixonado, Rosinha, e pela goiabeira do Nhô Lau, o vizinho ranzinza que o corre com tiros de chumbinho cada vez que pega o garoto no seu terreno roubando suas frutas. Pois bem, o diretor e roteirista Fernando Fraiha (do drama Bem-Vinda, Violeta!, 2022) abandona qualquer eventual sisudez que tenha remanescido do seu trabalho anterior para abraçar uma simplicidade de intenções e pequenos prazeres. Ao lado dos também roteiristas Elena Altheman (O Menino Maluquinho, 2022) e Raul Chequer (que passou por programas como Choque de Cultura, 2016-2019, e O Irmão do Jorel, 2016-2022), o cineasta investe não apenas na criação de uma realidade capaz de transpor a audiência a um modo mais básico e ingênuo de se viver, ao mesmo tempo em que dedica tempo para dotar cada um destes tipos de características próprias e motivações pessoais. A combinação segue à risca uma fórmula de grande efeito.
Bom, como já antecipado pelo título, a trama deste filme de estreia do Chico Bento no cinema se dá a partir da relação do menino com a tal “goiabeira maraviósa”. Objeto de desejo e de imensa satisfação do garoto – e do melhor amigo dele, o Zé Lelé – a árvore tem seus dias contados a partir do momento em que é declarada a intenção do coronel Dotô Agripino (Augusto Madeira), que quer providenciar uma estrada de asfalto pela região, prometendo “progresso e modernidade” para o pequeno vilarejo. Os pais das crianças ficam logo encantados com as palavras do homem mais rico das redondezas, e não oferecem resistência ao que é anunciado. O único mais ou menos reticente é justamente Nhô Lau (Luis Lobianco), o dono do terreno – e da goiabeira prestes a ser derrubada para que a rota seja construída – que levanta uma ou outra objeção, até que acaba convencido. Quem, no entanto, não se dá por vencido é o próprio Chico Bento (o achado Isaac Amendoim, um influenciador mirim com quase 4 milhões de seguidores nas redes sociais), que reúne seus amigos e parte para uma estratégia que não apenas salve sua amiga vegetal, como também revele os reais interesses do milionário, bem mais escusos do que a maioria chega sequer a suspeitar.
Se Madeira e Lobianco, e até mesmo Debora Falabella, como a professora Marocas, ainda que essa tenha pouco tempo em cena, são destaques entre o elenco adulto, não se pode ignorar a presença magnética de Taís Araújo, como ninguém menos do que a tal ‘Goiabeira Maraviósa’, que surge em um devaneio do pequeno Bento para lhe explicar a importância da natureza, das lembranças boas que podem acompanhar uma pessoa por toda a sua vida e da importância de saber ouvir – e não apenas falar – quando os demais também tem algo a lhe ensinar. Essa conversa se mostra fundamental para lhe injetar ânimo nessa luta de Davi contra Golias quando sua vontade ameaça esmorecer. De maneira singela e envolvente, Fraiha elabora uma narrativa da qual se confirma ser impossível desviar a atenção, independente da idade de quem estiver na audiência, seja pela alta carga nostálgica que carrega, como também pela simpatia de cada personagem que ganha vida em cena. Chico Bento faz às vezes de Cebolinha, e seus amigos têm muito de Mônica, Cascão e outros tipos de forte identidade imagética, proporcionando uma relação de troca e entendimento. Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é um resgate de tempos mais descomplicados e acessíveis, não só no discurso, mas também enquanto cinema. Parece pouco, mas é quase como o raio que acerta duas vezes o mesmo lugar. Daniel Rezende (dessa vez assumindo como produtor) acertou de novo.
Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Alysson Oliveira | 6 |
Chico Fireman | 7 |
Lucas Salgado | 8 |
MÉDIA | 7 |
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