Crítica
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Sinopse
Nicholas Angel é um dos melhores policiais de Londres, sendo bom ao ponto de causar inveja nos demais homens da lei. Por causa disso, é transferido para a pequena cidade de Sandford, que possui o menor índice de criminalidade de toda Inglaterra. Chegando lá, forma parceria com o curioso Danny Butterman. No entanto, logo muitos acidentes começam a ocorrer no lugar.
Crítica
O policial londrino Nicholas Angel é muito bom no que faz, excessivamente bom. Para que seus companheiros de esquadrão não sejam mais mal vistos, ele é designado para a pacata cidade de Sandford, no interior da Inglaterra. Ainda sofrendo com o término de um relacionamento e a súbita mudança, descobre que seu novo parceiro, Danny Butterman, é um ignóbil, assim como toda a força policial local. O tédio e decepção que o assolam, no entanto, logo são substituídos pela inquietação a partir de uma série de supostos e estranhos acidentes. A sinopse acima poderia servir para um filme de ação policial genérico que fez tanto sucesso nos anos 1980 e 1990, porém trata-se de mais uma sátira incorreta de Edgar Wright co-roteirizada e protagonizada por Simon Pegg e estrelada por seu eterno sidekick Nick Frost. Em Chumbo Grosso, segunda parte da trilogia Sangue e Sorvete, ou Three Flavours Cornetto Trilogy, o foco das gags são as duplas policiais que fizeram sucesso em filmes como Máquina Mortífera (1987), Bad Boys (1995) e Caçadores de Emoção (1991) – todos devidamente homenageados (ou ridicularizados).
Lançado em 2007, durante o auge das paródias descerebradas pós-Todo Mundo em Pânico (2000), Chumbo Grosso não deve ser evitado pela saturação do gênero ou comparação com outras comédias supostamente semelhantes. A produção vai além e funciona como um excelente filme de ação tolo que demonstra o quão tolos são muitos dos filmes de ação. As referências de Wright são explícitas e facilmente identificáveis, mesmo para aqueles que não são fluentes nas sessões de polícia e ladrão, e se tornam ainda mais hilariantes por serem levadas tão a sério pelo cineasta. Tudo com direito a trilha sonora exagerada, montagem frenética e direção apoteótica digna dos momentos mais afetados de Michael Bay. Para uma produção inglesa, onde os policiais não portam revólveres e a taxa de homicídios com armas de fogo são minúsculas, Chumbo Grosso evidencia a paixão de seus realizadores pelo cinema, mesmo por aquele que glamouriza a cultura da ultraviolência norte-americana.
Simon Pegg e Nick Frost estão novamente impagáveis como os protagonistas desta comédia de erros: enquanto Pegg fica mais uma vez com o protagonista que leva tudo a sério e tenta fazer as coisas darem certo, Frost faz o mesmo tipo inconsequente aventureiro de Todo Mundo Quase Morto (2004) – situação que se inverteria posteriormente em Heróis de Ressaca (2013), capítulo final desta trilogia. Os coadjuvantes da vez são Jim Broadbent, Paddy Considine, Bill Nighy, Timothy Dalton e toda a trupe recorrente dos filmes de Edgar Wright, além dos cameos mais que especiais de Peter Jackson e Cate Blanchett – praticamente irreconhecíveis como um Papai Noel assassino e uma médica legista.
Numa recorrente gag visual, Wright retrata os detalhes comuns da rotina policial a partir de uma montagem rápida muito comum aos filmes de ação: o som do clique de uma caneta tem o poder de um corte dramático; a papelada burocrática é apresentada como numa sequência de tiroteio. Tais cenas são tão engraçadas quanto criativas e apontam os clichês dos thrillers de ação, reiteram o que há de banal nos mesmos e satisfatoriamente os reinventam.
No final, assim como em Todo Mundo Quase Morto, Chumbo Grosso funciona tanto como paródia de filmes antigos quanto uma alegoria ao cotidiano. O bêbado mais comum pode se tornar um heroico caçador de zumbis; o caso mais banal de uma dupla de policiais pode se transformar na aventura eletrizante de suas vidas.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 8 |
Robledo Milani | 7 |
Chico Fireman | 7 |
Yuri Correa | 10 |
Thomas Boeira | 9 |
MÉDIA | 8.2 |
kkkk, excelente crítica. Ainda bem que não foi só eu que gostei. Chorei de rir na cena que o Simon Pegg dá uma voadora numa velhinha!!!
Adorei a crítica! Trabalhou a metalinguagem contida no longa, suas inúmeras referências aos filmes de ação, e o comentário sobre os cortes alá Bay, eu não notei na primeira vez que vi o filme, agora irei rever o filme, e me divertir vendo isso! Obrigado.