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Sinopse

Receoso de repetir erros da Primeira Guerra Mundial nas praias de Gallipoli, Winston Churchill está exausto. Por anos de guerra, atormentado por uma depressão e obcecado em ter seu lugar na história, agora é confrontado com criticismo constante de seus opositores políticos. General Eisenhower e o Comandante Bernard Montgomery duvidam cada vez mais do poder do primeiro ministro.

Crítica

Peça fundamental na contenção do avanço da empreitada nazista, Winston Churchill, como revelam os letreiros informativos apresentados ao final desta cinebiografia comandada pelo australiano Jonathan Teplitzky, é considerado por muitos a maior personalidade britânica da história. Em Churchill, somos apresentados a um recorte específico da trajetória do primeiro-ministro (vivido por Brian Cox), que trata justamente de sua atuação nos momentos que antecederam o evento-chave para o fim da Segunda Guerra Mundial: o desembarque das tropas aliadas na Normandia, conhecido como Dia D. Em seu longa, Teplitzky envereda pelos bastidores políticos do episódio, focando na recusa inicial de Churchill em aceitar colocar em prática a estratégia traçada pela inteligência militar aliada, que tinha o general norte-americano Dwight Eisenhower (John Slattery) como Comandante Supremo, para a chamada Operação Overlord.

Desde os primeiros planos, de traços oníricos, que trazem Churchill deixando seu chapéu cair nas águas ensanguentadas do mar e caminhando em meio aos corpos dos soldados britânicos, numa imagem que vai perdendo as cores gradativamente até ser congelada na cartela com o titulo da obra, nota-se que Teplitzky não é afeito à delicadeza no que tange aos simbolismos. O sentimento de solidão, o temor, a culpa, o peso da possibilidade de ser responsável pela morte de milhares de jovens combatentes – acentuado pelo fantasma do massacre da Campanha de Galípoli, de 1915, durante a Primeira Guerra Mundial – recaem explicitamente sobre os ombros de Churchill logo nos minutos iniciais, sem qualquer preparação para tal. Uma mão pesada que se sente ao longo de todas as tentativas de conceber passagens emotivas ou de teor poético feitas pelo cineasta.

Cenas como aquela em que o primeiro-ministro, após seu carro parar sem motivo aparente, retribui o famoso gesto do “V de Vitória” a um grupo de crianças que corre pela estrada empunhando armas de brinquedo, ou ainda o plano no qual o protagonista caminha na direção contrária à seta desenhada na parede de rochas da praia – reforçando sua oposição ao plano dos aliados, bem como seu caráter inflexível – são exemplos tanto da tendência ao sentimentalismo excessivo quanto da noção metafórica trivial de Teplitzky, que servem apenas para reafirmar elementos previamente estabelecidos. Além dessas fragilidades, é possível notar também uma clara indecisão narrativa da parte do cineasta, que inicialmente busca explorar o potencial do material para o drama de câmara claustrofóbico, mas acaba se rendendo a momentos de fuga, enfraquecendo tal proposta.

Sem conseguir extrair plenamente o senso de tensão e angústia do confinamento da ação, com grande parte dos embates de Churchill com os outros personagens se passando em seu escritório, aposentos, dentro do carro ou na sala de reuniões dos aliados – mal iluminada para realçar o tom soturno e a gravidade das decisões lá tomadas – Teplitzky ainda deixa com que o mínimo de atmosfera criada se dissipe ao abandonar constantemente os limites desses espaços. Seja no primeiro encontro com os líderes militares, realizado em um jardim ao ar livre, ou nas sequências que trocam a proximidade dos enquadramentos dos ambientes internos por planos abertos registrando os personagens em contraste com a grandeza do ambiente que os cerca – Churchill à beira-mar, Eisenhower em meio às colunas de uma construção imponente – Teplitzky abdica do sentimento de apreensão, deixando à mostra sua predileção pelo viés edificante e solene das imagens.

A encenação teatralizada, envolta por um academicismo genérico, apresentando raras soluções visuais inventivas ou traços autorais, faz com que a responsabilidade por garantir uma conexão dramática com o público fique a cargo do capacitado elenco. Através de sua composição esmerada, Cox consegue captar a essência de Churchill, se libertando, na maior parte do tempo, da representação um tanto pasteurizada oferecida pelo roteiro – o líder com o ego ferido, o estrategista ultrapassado e enfraquecido etc. – para deixar transparecer as contradições e qualidades notórias do personagem, como sua contundente oratória. Essas características afloram com maior intensidade na dinâmica com algumas das figuras coadjuvantes, tanto na visível admiração mútua presente na relação com Eisenhower, na intimidade sensível da isolada sequência com o Rei George VI (James Purefoy) e, especialmente, nos momentos divididos com a esposa, Clementine (Miranda Richardson, ótima).

O drama conjugal, graças à dinâmica de Cox e Richardson, representa o que há de mais marcante em Churchill, deixando até mesmo a impressão de que, fosse ele o tema central, talvez rendesse um produto mais interessante. Contudo, acaba prevalecendo a necessidade do relato histórico mais amplo, que termina por englobar também outras figuras desenvolvidas fugazmente, como Bernard Montgomery (Julian Wadham), o antagonista militar de Churchill, Jan Smuts (Richard Durden), o confidente e alívio-cômico, e a jovem secretária Helen Garrett (Ella Purnell), cujo papel é exclusivamente funcional à virada redentora do protagonista. Perdendo ainda a oportunidade de encerrar o longa no clímax do emblemático discurso do primeiro-ministro, se estendendo a uma conclusão que retoma o sentimentalismo simbólico da cena de abertura, Teplitzky entrega um retrato rotineiro e superficial, que pouco adiciona ao que já fora exposto sobre o contexto histórico ou sobre as particularidades da rica persona de seu biografado.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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