Cidade das Ilusões
Crítica
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Sinopse
A história de dois lutadores de boxe e seus problemas pessoais. Um deles encontra-se em pleno declínio da carreira, enquanto que o outro é um novato que está recém começando sua trajetória rumo ao topo.
Crítica
Algo que as pessoas passam boa parte do tempo tentando alcançar, de um jeito ou de outro, é o sucesso. Ter uma vida segura e feliz, que possibilite olhar para trás e pensar que toda a energia gasta para realiza-la foi válida. Alguns cumprem esse objetivo com certa facilidade, outros com incrível dificuldade. E há pessoas que passam a vida inteira buscando isso, mas que parecem não estar destinadas a algo assim. É o caso dos personagens vistos neste excelente Cidade das Ilusões, que John Huston lançou em 1972 e que representou um retorno à boa forma para o diretor, que na época vinha fazendo alguns filmes não muito bem recebidos.
Baseado no livro de Leonard Gardner, o roteiro escrito pelo próprio autor acompanha Billy Tully (Stacy Keach), boxeador que já viveu bons momentos e que agora tenta voltar aos ringues, mesmo em franca decadência. Em seu primeiro dia de treino, ele encontra Ernie Munger (Jeff Bridges), jovem que mostra potencial para ser um boxeador de destaque e que logo segue seu conselho de ir ver o antigo treinador dele, Ruben (Nicholas Colasanto), homem que pode ajuda-lo a conseguir suas primeiras lutas. A partir disso conhecemos as vidas deles e passamos a acompanhar as dificuldades de ambos para alcançarem o tão desejado sucesso.
Cidade das Ilusões apresenta um universo pacato, melancólico, habitado por personagens fracassados, detalhe ressaltado pela ótima fotografia de Conrad L. Hall, que investe bastante em tons pastel. Dessa forma, quaisquer tentativas de mudança por parte daquelas pessoas acabam sendo frustradas. No caso de Tully, vemos um homem fraco, alcóolatra, que foi deixado pela esposa, chega a morar de favor com a ainda mais alcoólatra Oma (Susan Tyrrell) e precisa colher frutas para ganhar algum dinheiro. Quando finalmente consegue uma vitória, o valor desta se revela praticamente insignificante. Enquanto isso, Ernie serve como um contraponto perfeito a Tully, sendo uma figura cheia de energia e que aguenta bem os golpes desferidos contra ele, tanto no ringue quanto no dia a dia. Ele também tem como vantagem clara o fato de ser jovem e, portanto, não ter tido tantas decepções quanto seu colega boxeador. E não é surpresa ver que Tully em determinados momentos aparece dando conselhos para Ernie, o que indica seu pensamento de que o rapaz pode ser alguém muito melhor do que ele, isso se não cometer os mesmos erros.
Conduzido com grande sensibilidade por Huston, que ainda traz uma veracidade admirável a narrativa, Cidade das Ilusões também conta um elenco inspiradíssimo, a começar por Stacy Keach, até então um ator não muito conhecido, mas que aqui tem uma atuação digna de prêmios. Desde a postura em cena até a voz arrastada, Keach encarna Tully como alguém cujo jeito de derrotado é muito mais forte do que sua capacidade de vencer. Já Jeff Bridges, que estava em ascensão e recém havia sido indicado ao Oscar por A Última Sessão de Cinema (1971), encarna Ernie Munger com grande carisma e vitalidade, tendo ainda uma dinâmica interessante com Keach. Também merecem destaque Susan Tyrrell, que rouba a cena sempre que aparece (não à toa sua indicação ao Oscar foi a única que o filme recebeu), e Nicholas Colasanto, que faz de Ruben um treinador ansioso para tornar seus pupilos vencedores.
Cidade das Ilusões é um filme delicado de John Huston, e seus personagens ficam na cabeça do espectador por um bom tempo. Pode não ser uma das obras mais lembradas do cineasta, mas merece tanta atenção quanto alguns de seus trabalhos mais elogiados. O que significa muita coisa, considerando que estamos falando de um diretor bastante celebrado.
Parabens pelos comentários, gostei muito do filme. Acredito que todos personagens vivem na ilusão, em maior ou menor extensão, porém o jovem lutador é o que mais se afasta desse perfil, sendo que Omã é seu parceiro também não têm uma ilusão muito exacerbada. O filme é muito bom já que, como comentado na sua crítica. nos faz refletir o tempo todo sobre nosso papel aqui.
É um belíssimo e melancólico drama de John Huston. Abraço