Crítica
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Sinopse
Laranjinha e Acerola são amigos, que cresceram juntos em uma favela do Rio de Janeiro e agora estão com 18 anos. Acerola tem um filho de 2 anos para cuidar, mas sente-se preso pelo casamento e lamenta a paternidade precoce. Já Laranjinha está decidido a encontrar seu próprio pai, que não conhece. Paralelamente, o morro em que vivem é sacudido pelo mundo do tráfico, já que Madrugadão, primo de um deles, perdeu o posto de dono do local para Nefasto.
Crítica
Uma das maiores - e mais bem-sucedidas - sagas do cinema brasileiro chega ao fim com Cidade dos Homens. Porém, ao contrário do que muitos possam pensar, este filme não é continuação de Cidade de Deus (2002), e sim o ponto final de um projeto que começou antes ainda, com o curta Palace II (2000). Este projeto apresentou pela primeira vez os personagens Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha), dois garotos favelados. As histórias por eles protagonizadas continuaram na série de tv Cidade dos Homens, que teve quatro temporadas de excelente retorno crítico e de audiência na Rede Globo, e se encerra agora na tela grande. E ao contrário do que se poderia supor, o que temos em cena não é um episódio alongado, mas sim uma trama independente e relevante, que merecia ser contada numa mídia mais específica, concluindo em alto estilo esta epopéia.
Se Palace II (dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, e roteirizado por Bráulio Mantovani e Paulo Lins, a mesma equipe por trás de Cidade de Deus) serviu como um laboratório ao aclamado longa de Meirelles - que somou em sua excepcional carreira quatro indicações ao Oscar, mais de três milhões de espectadores no Brasil e cerca de US$ 27 milhões de dólares de arrecadação mundial nas bilheterias - foi somente com o este desdobramento - o próprio Cidade dos Homens, seja no cinema, seja na televisão - que algumas questões mais íntimas e urgentes desse microcosmo puderam ser melhor trabalhadas. Proporcionando, deste modo, um olhar mais complacente e, ao mesmo tempo, crítico.
Cidade dos Homens, o filme, traz ao centro da discussão um dos temas mais caros e recorrentes dentre a população enfocada: a ausência paterna. Enquanto Acerola está aprendendo a ser pai logo aos 18 anos, Laranjinha recebe a maioridade com uma inquietação: quem é - ou foi - seu pai? Os dois, amigos desde a infância, tentaram juntos aprender como responder estas inquietações. O fato de termos acompanhado a evolução dos dois personagens é extremamente gratificante, pois se crescemos ao lado deles, melhor compreendemos as motivações que os guiam. E para isto não se faz necessário ter assistido a tudo já produzido com eles: o uso de flashbacks pelo enredo é muito bem articulado, colocado em momentos cruciais e sem exploração. O excelente arquivo natural é posto à serviço do roteiro, contribuindo positivamente para todos os envolvidos.
Fernando Meirelles, após o sucesso internacional do seu longa mais bem-sucedido, tem se envolvido cada vez mais em projetos hollywoodianos, como os elogiados O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio sobre a Cegueira (2008). Assim, ele assume como produtor, abrindo espaço para o sócio dele na produtora O2, Paulo Morelli, tomar conta da direção de Cidade dos Homens. A transferência de mão pouco se sente, e o resultado apresentado é muito satisfatório. O que carece em CDH é a ambição, ousadia, originalidade e, acima de tudo, ineditismo presente no filme anterior, que provocou outros olhares, opiniões e reflexões sobre o cinema feito no Brasil. Este novo filme não quer traçar um painel grandioso sobre um problema social - não, a vez agora é de narrar o que acontece a dois moradores daquele universo, propondo uma visão mais íntima e, ainda assim, universal.
Cidade dos Homens não é o melhor filme do ano. Não é inesquecível ou revolucionário. Mas é um alento dentro de uma temporada de poucas surpresas. E, acima de tudo, é um trabalho honesto e sincero, que cumpre com honra o que se propõe, se posicionando como mais uma peça dentro de um contexto maior e que está firmado no cenário cinematográfico nacional. Sua ascendência é intimidante, mas ninguém aqui ficou aquém do esperado, e o que temos é uma obra singular, competente e digna de méritos próprios.
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